JINHO (PENTAGON) X YENA

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Espero até o passo dos guardas pararem de soar através na minha porta.
Isso significa que estam trocando de turno e que eu poderia fugir para espairecer um pouco.
O Conselho estava me dando nos nervos de novo com toda essa história de eu não poder governar sem um marido.
E como se não bastasse ainda existia essa besta com quem lidar. O reino estava em pânico, o toque de recolher não estava sendo o suficiente, pessoas continuavam morrendo e é claro que isso era culpa da rainha sem um rei e não dos caçadores incompetentes que serviam a coroa.
Fugir do palácio de madrugada para andar por entre as árvores que o cercavam me ajudavam a pensar. Podia não parecer uma boa idéia passear a esse horário levando em conta os últimos acontecimentos sangrentos, mas eu não era lá tão indefesa quanto os estúpidos conselheiros pensavam.
No canto mais distante que eu me permitia ir, encontrei uma caverna há alguns anos e era lá que passava a maior parte das minhas noites.
Evitando as trilhas estou a poucos metros do meu refúgio quando ouço gritos e flechas disparando quase que na minha direção.
Entro apressada sob os troncos grossos de uma árvore afim de me esconder mas parece que alguém teve a mesma idéia que eu.
-Quem...? - Interrompo o questionamento quando vejo sangue escorrendo do estranho para o chão até mim. -O que diabos está acontecendo aqui?
Viro o rapaz para encarar sua face já pálida pela perda de sangue.
Ele estava totalmente nú e não trazia um semblante amistoso.
-Saia daqui se não quiser ter o mesmo fim que me deram. - Avisa.
-Está me ameaçando?- ergo a sobrancelha ao tentar entender suas reais intenções com as palavras.
-Interprete como quiser princesa.
Mas é claro que me reconheceriam assim tão fácil.
-Rainha. - Corrijo.
Os passos apressados e gritos se afastam, então apoio o corpo dele no meu e o guio até minha caverna.
Ele resmunga a maior parte do caminho, mas se ele se considerava teimoso eu poderia ser o dobro.
Depois de desistir de resistir a meus cuidados ele apenas se deixa deitar no chão de pedra e me permite limpar a ferida profunda no abdômen.
-O que você é? - Pergunto. - Qualquer um teria morrido na hora caso fosse acertado desse jeito.
-Acho que já te dei bastante trabalho vossa alteza. - Afirma se sentando. - Pode me deixar agora, a ferida irá se fechar.
-Com certeza foram vários os problemas que me causou. - Digo. - Creio estar de frente a fera que vem aniquilando meu povo.
-Não sabia que a nova rainha era assim tão supersticiosa.- Zomba.
-Não o sou. - Respondo. - Sendo um homem não deveria ser caçado e sim julgado.
-Acha mesmo que vosso conselho seria capaz de me segurar?
-Pare de jogar comigo rapaz, sou sua rainha, sendo você uma besta ou não, portanto deixe as ironias de lado. - Sinto minha paciência se esvaindo pouco a pouco. - Não consegue controlar a fera dentro de você ou mata por prazer?
-Não sou assim tão sádico quanto a coroa, vossa alteza. - Prossegue sarcástico.
-Então não pode ser considerado culpado. - Divago.
Preciso de uma solução limpa para isso, não começaria meu reinando com decapitações e torturas, precisava atrair uma visão melhor para mim.
Vinha de uma dinastia cruel e acho que o povo não suportaria mais um tirano, estamos a poucos passos de uma revolta e não é isso que desejo.
-Droga! - o corpo do rapaz cai pesado no chão e ele trinca os dentes com força.
-O que? - Quero saber.
-Não está curando. - Responde sofrego.
-Sabe o por que? - Ajoelho-me ao seu lado e abro o curativo. - Parece estar piorando.
-A flecha provavelmente estava envenenado. - Informa.
-Não posso encontrar o antídoto para algo que não sei o que é. - uma certa nota de desespero pode ser percebida em minha voz. - Você é uma criatura mística, deve existir algum modo de estimular seu fator de cura.
-Existe rainha. - Em meio a dor ele ainda encontra forças para me lançar um sorriso malicioso. -Estimular outra coisa pode aguçar meus sentidos mais primitivos, o que inclui a cura.
-Está dizendo que sexo pode te curar?
-Sim. - Seus dentes ainda pontiagudos se projetam em um sorriso assustador ao ver minha surpresa. - Sou um ser amaldiçoado vossa alteza, só coisas sujas poderiam me fazer bem.
-Pois bem. - Volto a fazê-lo ficar de pé. - Se aguentar até o centro da vila será curado, caso contrário te enterrarei aqui mesmo.
Com muito esforço o arrasto até o bordel da vila.
Cubro bem meu rosto antes de adentrar o estabelecimento e entrego uma quantia generosa a alcoviteira.
-Cuide bem dele. - Pisco para a mulher e me retiro do local.
É quase manhã quando volto ao meu quarto, não tenho tempo de descansar das aventuras da noite, então apenas me troco e desço para resolver os problemas de hoje.
-A besta nos escapou novamente, perdão senhores. - ouço o provavelmente chefe dos caçadores dizer. - Mas ele não escapará da próxima vez, estamos muito perto de trazer sua cabeça para vossa graça.
-Pois acho que me sairia melhor caçando a tal fera eu mesma. - Adentro o salão de conferências e me sento em meu, não tão confortável, trono.
-Minha senhora. - Todos presentes se põem de joelhos a minha volta.
-Ao invés de caça-lo peço que busquem informações sobre a besta e as tragam a mim. - gentilmente ordeno.
-Perdão vossa graça, mas informações não pararam as mortes no reino. - Pronuncia-se um dos velhos que deveria me aconselhar.
-Fala como um insensato conselheiro Yoo. - Não o olho enquanto falo. - Por favor prossigam como o ordenado, quero informações ainda hoje.
Os homens se curvam e seguem minhas ordens.
-A senhorita não deveria desautorizar-nos assim. - Mais um deles se levantando contra mim. - Ou...
-Ou o que? - Questiono olhando um por um deles nos olhos. - Que eu saiba a autoridade aqui sou eu, se quiser desautoriza-los o farei, se desejar bani-los no castelo assim também o será.
-Vossa graça não precisa ser tão...
-Serei o que bem entender ser senhores. - Interrompo novamente. - Podem resolver as outras questões de hoje sozinhos. Espero não ter que mandar ninguém embora amanhã.
Retiro-me dali e aguardo em meus aposentos por noticias.
Tudo o que recebo dos caçadores é que o povoado dizia que a fera era na verdade um homem amaldiçoado por uma feiticeira.
Alguns concordavam que este deveria ser livrado de seu julgo e não sacrificado, mas a maioria era da opinião oposta.
Volto a fugir naquela noite e bem disfarçada entre minha roupas volto ao bordel para saber onde estava o rapaz que deixei ali ontem.
-Ele foi embora sem dizer nada senhorita. - Informa. - Mas não antes de ser bem cuidado.
Ela me lança um olhar embebido em malícia e eu saio dali sem dizer nada.
Onde poderia encontrá-lo?
Volto à árvore que o conheci no dia anterior na esperança de ter alguma pista.
-Sentiu saudades rainha?
Viro-me na direção da voz apenas para encarar os olhos tão zombeteiros.
-Pode me chamar de Yena se me disser seu nome. - Proponho.
-Acho justo. - Sorri torto. - Jinho.
-Gosto mais de você assim, mais simpatia, menos sarcasmo. - Abro um sorriso também.
-Eu me rendo então, sem ironias por hoje. - Ergue as mãos ao lado do rosto. - Tudo pela minha rainha.
Permanecemos nos encarando por vários segundos até ele quebrar o silêncio.
-Por que estava me procurando?- Quer saber.
-Quero informações sobre você. - Revelo. - Algumas pessoas do vilarejo dizem que você é fruto de uma maldição, seria verdade?
-Absolutamente. - Responde. - Sou lindo de mais, uma feiticeira se apaixonou, eu a rejeitei e voilà.
Fico alguns momentos sem palavras graças a naturalidade com que ele conta o que deveria ser a maior tragédia de sua vida.
-E como se quebra essa maldição? - Questiono. - Não poderia ser lançada sem uma solução certo?
-Completamente certo. - Diz.- Ela se quebrará quando eu encontrar alguém com quem deseje me casar.
-Fácil assim?- enrugo o cenho.
-Nem tanto, eu tenho que querer me casar, não só para quebrar a maldição. - Dá de ombros.
-Entendo. - Suspiro. - Então não temos como impedir as transformações.
-Não.
-E não posso te defender do conselho. - Concluo.
-Por que desejaria me proteger, ra... Yena?
-Não quero começar meu reinado com assassinatos. - Desvio o olhar do seu.
-Nada além disso? - Pergunta.
-Se tem em tão alta estima para admitir que eu me apaixonaria por você em dois dias? - Zombo.
-Talvez. - Dá de ombros. -Eu moro perto daqui, posso te oferecer algo?
-Por favor. - Aceito.
A caminhada é silenciosa, muito diferente da do dia anterior.
Sua casa era escondida no meio da mata e coberta por flores.
-Isso é tão... Lindo. - Solto.
-Minha mãe gostava de flores, plantei essas por que faz parecer que ela está mais próxima.- Explica.
-Ela morreu? - Pergunto já imaginando a possibilidade de ela ter sido a primeira vítima dele.
-Não. - Responde rindo da minha expressão. - Me afastei dela para mantê-la em segurança.
-Compreendo. - Encaro meus pés. - Pode me dizer o nome dela?
-Você provavelmente conhece ela. - Afirma.- Serve a coroa a anos no palácio, senhora Cho.
-A senhora Cho da cozinha? - Pergunto surpresa ao vê-lo acentir. - Meu Deus a senhora Cho é a melhor cozinheira de todos os tempos.
-Sim ela é. - Ri. - Provavelmente acha que estou morto.
-Ela não sabe sobre a maldição?
-Não achei que fosse seguro para ela ter esse conhecimento.
O silêncio vai ficando maior e quando se torna insuportavelmente constrangedor digo que preciso ir embora.
-Yena, antes de ir...- Começa.- Pode parecer bobagem, mas eu nunca mostrei onde moro para ninguém, e revelar isso para a rainha...
-Não se preocupe, ninguém saberá. - Certifico.
-Não é isso, eu sei que não.- Ele passa a mão pela nuca, parece nervoso. - É só que é importante, você é. Não é todo dia que alguém descobre a identidade de uma fera e cuida dela...
-O leva a um bordel. - Completo rindo.
-Isso, e principalmente não manda matá-lo.- Termina. - Obrigado, Yena.
-Não há o que agradecer, Jinho.
Antes que eu tenha tempo de dar as contas e seguir meu caminho ele se aproxima e me da um beijo suave na minha testa.
-Isso com certeza é estranho para você. - Me olha nos olhos de muito perto. - Mas é assim que as feras agradecem.
Sem mais nenhum aviso ele desce os lábios da minha testa de encontro aos meus e me dá um beijo calma.
-Obrigado. - Repete.
Dou as contas sem dizer nada e volto para o palácio o mais rápido que posso.
-Tudo bem rainha?
Encaro o guarda meio perdida e apenas balanço a cabeça indicando que me sentia bem, o que era uma absoluta mentira.
Preciso descobri um modo de impedir o conselho de matar Jinho e contar a senhora Cho que seu filho está vivo.
Tudo exatamente nesta ordem, não poderia revelar a ela o filho e logo depois permitir que o matassem.
-Rainha. - Chama um dos informantes que paguei para me manter a par sobre o conselho quando eu não estivesse por perto. - Creio que temos problemas.
-E qual seriam estes Kwon?- já estou cansada de tantas complicações.
-O conselho está planejando um golpe de estado contra a vossa alteza. - Anuncia. - Os caçadores da coroa descobriram uma casa no meio da mata e estam certos de que a fera vive ali, assim que trazerem a cabeça da besta pretendem uni-lá a da senhora no grande septo.
Sinto a raiva borbulhar em minha veias.
-Pois que tentem. - Desafio.
Peço para que Kwon permaneça por perto, aguardando que eu escreva um bilhete.
Minha mãe era uma rainha extremamente supersticiosa e tinha suas feiticeiras de confiança para fazer trabalhos ao seu favor.
Creio que não negariam um pedido meu pelo valor certo.
Entrego o bilhete para Kwon e peço que só o entregue na mão da mulher certa.
A quantia que enviei sério o suficiente para que ela fizesse o que "encomendei".
Os caçadores encontrariam Jinho essa noite, mas ele estaria com triplo de sua força habitual e conseguiria lidar com todos da forma mais selvagem que conhecia.
-Bom dia, senhores. - Cumprimento os traidores como se não soubesse de nada. - Soube que receberam boas informações sobre a fera.
-Sim, vossa graça. - Confirmam. - Pretendemos trazer a cabeça dele a senhorita assim que o sol nascer no céu amanhã.
-Os senhores confiam nos caçadores da coroa?- Questiono.- Os acham fortes o suficiente?
-Absolutamente, alteza.
-Então quero que pelo menos três dos cinco conselheiros sigam junto aos caçadores. - Ordeno apreciando o pânico em seus rostos. - Representem a coroa nesse momento tão marcante na história dos reinados.
-Mas senhorita...
-Não disseram que os caçadores eram fortes? - Os observo confirmar. - Estarão seguros atrás deles então.
Dou as costas saindo da sala de conferências os desejando sorte na caçada.
Sinto meu estômago embrulhado conforme as horas passam.
A ansiedade é meu pior inimigo, não saber se meu plano funcionaria o alimentava.
A noite chega cheia de mals agouros.
Espero que os conselheiros e os caçadores saiam e pretendia os seguir de perto, mas decidi que aquele era um bom momento para conversar com a senhora Cho.
Demorou mais que o planejado encontrá-la e o diálogo foi difícil, no final das contas ela não era assim tão fácil de se desesperar como eu pensei. Aceitou com facilidade permanecer no palácio enquanto eu ia até a casa na floresta com certo desespero.
Encontro sangue em todas as belas flores do jardim, os corpos dos conselheiros e caçadores servem como enfeite de paisagismo.
Até então tudo corria como o planejado, me livrei dos velhos traidores e os caçadores não pareciam assim tão capazes.
No entanto, lá na frente caído na entrada da casa Jinho se engasgava no próprio sangue.
-Você pediu força extra para matar os algozes. - Uma figura sombria surge por entre as árvores. - Não disse nada sobre ele sair vivo.
-Maegi*. - Digo.
-Xingue o quanto quiser criança.- Ela não parece se incomodar com nada. -Acho que ele se casaria com você, pena que não estará vivo para se livrar da maldição.
-Salve a vida dele. - Peço.
-Por que eu a daria isso, vossa alteza? - A ironia nas últimas palavras era nítida.
-Salve-o e me amaldiçoe com a besta. - Sugiro.
-É capaz de carregar tal fardo rainha? - Questiona.
-Nenhum fardo é pesado de mais para a coroa. - Digo o que ouvi meu pai dizer inúmeras vezes.
-Pois que assim seja. - Ela solta uma risada amarga e me enfia algo garganta abaixo.
Sinto como se tivesse engolido um animal selvagem vivo e que agora ele tenta abrir passagem para fora me dilacerando.
-Tenha a vida mais feliz que puder rainha. - Desdenha e some.
Ainda me sentindo queimar por dentro vejo a cor voltar a face de Jinho.
-Ouvi dizer que o conselho estava implicando por você não ter um marido para governar ao seu lado. - Solta assim que abre os olhos. - Eu me voluntário.
Era incrível como mesmo quase tendo morrido ele não perdia esse tom de zombaria.
Ele poderia me ensinar como viver com a besta dentro de mim, poderia governar enquanto eu descontava minha sede de sangue nas masmorras do palácio longe da possibilidade de machucar alguém.
E cada noite perdida lá embaixo era recompensada com o dobro do tempo nos aposentos reais.

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