tears in the rain: without couple

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Tears In The Rain (sem correção ortográfica)

- Venham - o homem, sob o terno cinza, chamou os presentes na sala. - Venham escolher o caixão que será usado...

O garoto se recusou a se levantar do banco frio, mesmo com a senhora tentando puxá-lo com sutileza, o corpo dele permaneceu imóvel.

- Você não quer ajudar a escolher...? - a senhora perguntou, o tom de voz baixinho, complacente. - Tudo bem, vamos ficar aqui então.

Ele se lembrou das tantas vezes que foi à lojas escolher roupas com o rapaz, e lembrou de como o ele era indeciso. E ele nunca se imaginou tendo que escolher a porra de um caixão.

O cabelo castanho caindo por cima de seus olhos, olhos que há horas ardiam, inchados, molhados, desde a hora em que lhe contaram.

"Ele morreu."

Ar faltou em seus pulmões ao ouvir aquilo, e tudo pareceu, realmente, parar por uns segundos. Não se ouviu ou sentiu nada. Seus pés não pareciam sentir o chão, e o choro dos presentes não entrou por seus ouvidos. Ele mal soube explicar como de repente foi parar sentado no sofá, com a gatinha bege no colo.

"Você precisa ser forte."

É um peso que lhe jogam nas costas, é uma bomba que lhe encarregam de desativar, é uma corrida que lhe exigem que tu ganhe, é uma faca que lhe pedem que não sinta.

E na hora, na cabeça dele, mais de mil coisas passaram na velocidade da luz, enquanto as duas palavras chaves ainda ecoam como tiros de canhão "ele morreu".

Ele morreu. Ele morreu. Ele morreu. Ele morreu. Ele morreu. Ele morreu. Ele morreu. Ele morreu. Ele morreu.

"Vá se arrumar, precisamos ir para a capela, o corpo dele chega às nove."

De que importa a roupa? Ele vestiu um moletom qualquer, o casaco de um time de futebol, passou um lenço nos óculos de grau e entrou no carro.

E ao entrar na capela número 2, e encontrar o corpo um dia tão cheio de vida, pálido, imóvel, morto, sua pressão caiu, junto das lágrimas, junto da esperança.

Ele se lembrou da última vez que o viu com vida, e comparou com aquele pesadelo parado no centro da sala. Ele se lembrou das últimas palavras que dissera, e das últimas palavras que ouvira.

- Eu te amo - disse, com lágrimas banhando o rosto, abraçando ao corpi frágil e quente na cama, tomando cuidado para não retirar os tubos do soro. - Eu te amo. Você vai ficar bem.

- Eu também te amo - ele riu, tão gracioso. - Não precisa chorar, amor.

"Ele era tão jovem..."

As pessoas pareciam lamentar mais pela idade com que ele morreu, do que com a grande personalidade e grande coração que agora partia.

Parentes e amigos chegaram durante a noite e logo foram embora, na madrugada só ficaram ele, os irmãos e os pais.

A tortura.

Passar uma noite inteira - horrivelmente fria - sentado ao lado do corpo sem vida de uma pessoa que tu tanto amou e que tanto te amou.

Ele olhou para o corpo incontáveis vezes, mas só tocou sua pele em uma ocasião. O dia quase nascia, quando sua mão encontrou a dele, e a textura macia e morna que sempre conhecera, não estava ali. O frio do corpo morto penetrou os dedos que o tocaram, e pareceu queimar, e atingiu a alma.

Era um frio, que ninguém jamais sentiria em outra situação, era único e era triste. Tão, tão triste.

Ao orar, sob os raios solares em meio ao ar gélido, ele fechou os olhos e apontou seu coração na direção do céu. Ele pediu a Deus, que cuidasse dele, que lhe desse um bom lugar e que nunca o deixasse sozinho.

Quando os agentes funerários ergueram a tampa do caixão,  apertaram os parafusos e o fecharam, ele teve que pôr em sua cabeça que aquela era a última vez que estaria, pessoalmente, vendo o rosto de uma das pessoas que ele mais amou.

Ele não viu o momento em que empurraram o caixão para dentro do túmulo, com todos a volta, no silêncio do cemitério colorido. Ele se sentou sobre a calçada e encostou-se no túmulo de outra pessoa, ouvindo apenas o som dos passos dos ali presentes e lamentos sinceros de outras pessoas que o amavam.

Era o fim. Ninguém jamais seria como ele, ninguém jamais o ouviria como ele, ninguém jamais cozinharia como ele, ninguém jamais contaria uma história como ele, ninguém jamais faria dramas como ele, ninguém jamais riria de tragédias como ele, ninguém jamais comeria seis pães como ele, ninguém jamais o olharia como ele, ninguém jamais o abraçaria como ele, ninguém jamais o amaria como ele.

Era um capítulo que havia ganho seu último e definitivo ponto final. Um ponto que doera feito um tiro nos corações de quem amava ele.

No Panic {one shots}Onde histórias criam vida. Descubra agora