Festa de Aniversário

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NITCH


Aos dez anos, já havia adotado a Nova Casa como meu lar, e Asgore como minha segunda família.

Criado fora dos olhares alheios, estava sendo treinado continuamente por meu pai adotivo, que me ensinava tudo o que sabia sobre técnicas de batalha.

Meu sonho agora era me tornar um Guarda Real, ajudando a salvaguardar o soberano de Underground. Além do carinho que eu já nutria por Asgore, havia desenvolvido um senso de honra incomparável, que me levava a dar o meu melhor para, um dia, dedicar-me à defender o rei.

Com isso, não demorou muito para que eu desenvolvesse minhas primeiras habilidades mágicas.

As colunas vermelhas de fogo que eu conjurava haviam maravilhado o rei na primeira vez. Porém, nada se comparava à habilidade que eu estava praticando até então: uma capacidade surpreendente de clorar qualquer arma mágica que eu regesse. Aquilo, dizia ele, era um talento único, que eu deveria me esforçar para desenvolver.

Eu vi toda a dedicação com que Asgore me criava, e sabia que jamais poderia retribuir o bastante por tudo que ele havia feito por mim.

Apesar disso – pelo menos em relação ao rei - ainda havia muito com o qual eu iria me surpreender.

No dia de meu aniversário de onze anos, juntamente das Temmies, Asgore havia preparado uma grande festa nos aposentos ocultos em que eu vivia. Era a primeira vez em que todos se reuniam num evento em comum, desde que eu havia começado a viver no castelo.

Para minha diversão, Bob havia sido o responsável por fazer um enorme bolo de chocolate com Temmie Flakes coloridos. Havia ficado admirando aquilo por vários minutos, sem acreditar, encantado com a variedade de cores num único alimento.

- Nossa – sorri, surpreso – ficou fantástico, Bob!

- Não foi nada – ele replicou, modesto, embora sorrisse – Temmie me ajudou.

- Qual delas? - brinquei, sentando-me na mesa.

Bob me lançou um olhar sarcástico.

- Engraçadinho – fungou – a da Loja Tem.

Saltei de susto no banco.

- Loja Tem? - repeti, incrédulo – aquela loja ainda está de pé?

Vi os dedinhos da patinha dele se juntarem num gesto de perplexidade.

- Acredita nisso? Ela continua vendendo Temmie Flakes e aquelas quinquilharias. E quando tentamos dissuadi-la, o que ela diz? "Um dia, alguém trará muito ouro pra Temmie, e Temmie vai pra facul!" - soltou uma bufada – no dia que ela vender aquela armadura, vou morder meu próprio rabo.

Dei risada, vendo as demais Temmies se acomodarem na mesa.

Sorrindo, assisti a silhueta de Asgore aproximar-se, trazendo várias caixas de presentes, que depositou ao lado dos aperitivos.

- Muitos presentes, hein, filho? - ele disse, afável – até mesmo Undyne te mandou um!

Ofeguei, animado.

Undyne era a recém-nomeada capitã da Guarda Real - uma adolescente durona e corajosa, escolhida a dedo pelo próprio Asgore para chefiar os demais membros. Embora de início todos tivessem julgado-a nova demais para tamanha responsabilidade, as notícias que corriam eram justamente sobre sua impressionante aptidão e espírito de liderança.

Imaginava, inclusive, que era digna o suficiente de confiança para que Asgore lhe contasse sobre seu filho adotivo. Quem seria eu para criticar, afinal de contas?

- Sério? - contraí as mãos de ansiedade – ahhh... deixa eu assoprar as velas, papai!

Asgore trovejou uma gargalhada.

- Acalme-se, rapazinho. Vamos cantar, e depois pode abrir seus presentes.

Logo em seguida, o rei acendeu todas as onze velas do bolo, e todos cantaram parabéns. Envergonhado, mas contente, bati palmas junto dos demais, elétrico de tanta euforia.

- Faz um pedido, Nitch! - disseram as Temmies em uníssono.

Respirei fundo, segurando o ar por um segundo.

O que eu podia pedir? Afinal, estava feliz ali. Havia algo mais que eu podia desejar além de ter uma família como aquela?

Porém... mesmo que minha vida naquele lugar fosse boa... ainda havia algo que eu desejava saber. Mais do que tudo. Apenas para que, um dia, aquela questão pudesse finalmente deixar de me assombrar.

Assoprei todas as velas num fôlego só. Todos aplaudiram.

- O que você pediu? - Bob perguntou.

- Não – desconversei rapidamente, apanhando o pedaço de bolo que papai havia acabado de me oferecer – contar dá azar.

Depois de nos empanturrarmos de bolo, chegou a hora de abrir meus presentes. As Temmies, Bob e Asgore reuniram-se sentados numa roda, observando-me desembrulhar todas as caixas.

Como havia previsto, cada Temmie me presenteara com sua própria embalagem personalizada de Temmie Flakes. Mesmo que criatividade não fosse o forte delas, eu valorizava mais a intenção do que qualquer outra coisa, então adorei cada uma delas.

Surpreendi-me com o presente de Bob. Era um colar curioso, de madeira, com um formato incomum.

- É um apito – explicou, rindo – para você chamar um de nós quando precisar.

Asgore fez uma expressão culpada.

- Devia ter dado um celular para vocês – suspirou – droga.

Todos riram.

Mas meu deslumbramento começou mesmo quando abri o presente de Undyne. Maravilhado, ergui no ar um grande e pesado elmo de ferro, pousando-o logo depois no chão.

- É grande – comentei, levemente desapontado – não vou poder usar agora.

Asgore me fitou.

- Bem... acho que o meu vai ter que esperar um pouco também, meu filho.

Intrigado com esse comentário, desembrulhei a caixa de Asgore.

Na minha pressa de retirar o presente, a embalagem tombou de lado, deslizando seu conteúdo para fora, e fazendo-o escorregar pelo piso até minhas pequenas mãos.

Era uma manopla.

Admirado, apanhei-a em meu colo, admirando os belos detalhes gravados na superfície do aço. O interior, de couro, era macio ao toque, em contraste com a dureza letal do exterior. Na ponta dos dedos da luva, haviam garras afiadas de prata.

Era a coisa mais linda que eu já havia visto em toda a minha vida.

Papai abriu um sorriso.

- Gostou?

- E'... incrível, papai – acariciei a superfície brilhante da manopla – obrigado!

Asgore bagunçou meus cabelos, sorridente.

- Um dia – afirmou, indicando o elmo e a manopla em meus braços – vai poder usar os dois juntos, Nitch. E quando esse dia chegar – acrescentou, com orgulho – você será um verdadeiro Guarda Real.

Abracei-o, absolutamente feliz.

Daquele dia em diante, minha convicção em estar no caminho certo apenas aumentou. O caminho ainda era longo, mas eu estava decidido a, num futuro próximo, ser digno o bastante de usar aquela manopla.

E, quando isso acontecesse, nada nem ninguém iria se colocar no caminho do rei.

O Espadim e a Manopla - Uma História de UndertaleOnde histórias criam vida. Descubra agora