A Ponte

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AAYRINE



Fiquei um longo tempo entocada nas proximidades da ponte, aguardando qualquer sinal de vida fora do comum naquela área.

Por fim, algumas horas depois, minha paciência finalmente foi recompensada.

Ao longe, ouvi passos afundando-se em pegadas sobre a neve. Um som baixo e discreto, quase imperceptível - como se algo muito pequeno se esgueirasse pelo longo chão nevado, em direção à ponte de Snowdin.

Aproximei-me na direção do barulho, o espadim já em riste, erguendo a cabeça para focalizar a origem do ruído.

Ofeguei, ligeiramente surpresa, assim que o identifiquei.

Era um pequeno humano. Jovem… talvez quase uma criança. Tinha cabelos curtos e castanhos, vestia uma blusa listrada em tons de roxo e azul, uma bermuda azul-clara e sapatos marrons.

Estava assustado. Nitidamente apavorado.

E eu sabia que ele sentia minha presença ali.

Por um momento, fiquei receosa. Nunca havia sido treinada para matar filhotes humanos. Lutar com um espécime adulto havia sido uma coisa.

No entanto, a sensação desapareceu logo em seguida. Não ia deixar que isso me impedisse. Minha consciência há muito havia calejado.

Afinal, já havia sangue suficiente em minhas mãos para que não me importasse em sujá-las com mais algumas gotas.

Vi o olhar do garotinho se arregalar de tensão, conforme me aproximei lentamente, ainda oculta nas sombras.

– Q-quem está aí? - sussurrou consigo mesmo.

Tendo como resposta apenas a brisa suave ao redor, o pequeno humano decidiu arriscar mais uma curta caminhada, baixando momentaneamente a pose defensiva.

Era a minha deixa.

Antes que pudesse prosseguir, um lampejo azul cortou o ar à sua frente. Subitamente cegado pelo brilho, a criança sacudiu a cabeça, por fim começando a identificar o facão curvo, feito de pura energia, que fincara-se alguns metros adiante.

A criança caiu no chão, confusa, finalmente apercebendo-se de minha presença à sua frente.

Aninhou a faquinha de brinquedo contra o peito, perceptivelmente desconfortável em encarar os olhos vermelhos que o observavam.

Girei meu espadim na mão direita, postando-me no caminho entre o humano e a ponte. Sorri ferozmente, certificando-me que minhas presas ficassem expostas e ameaçadoras.

O garotinho guinchou. Estava absolutamente atordoado.

- Vamos lá, humano. Me deixe terminar isso – sibilei, baixo como um sussurro, mas ouvindo minha voz ressoar como um trovão – e prometo que sua morte será rápida e indolor.

O garoto recuou um pouco, apertando a faquinha nas pequenas mãos. Repentinamente decidido, soltou-a, fazendo o objeto afundar na neve aos seus pés.

– Eu não quero lutar! - exclamou, erguendo levemente as mãos.

Ergui a sobrancelha, sentindo meu sorriso anterior desaparecer, percebendo meu rosto se contrair numa expressão dura e irritada.

– Tolice! Não batalharei com uma criaturinha desarmada como você! - protelei, gesticulando com a mão, conjurando uma versão menor de meu espadim. A arma brilhante voou pelo ar até a criança, que, sem alternativa, o apanhou na queda – agora sim… vamos ver se sua espécie é mesmo tão durona quanto as lendas fazem parecer!

O Espadim e a Manopla - Uma História de UndertaleOnde histórias criam vida. Descubra agora