A Cerimônia de Nomeação

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Olhei-me no espelho, resfolegando alto.

Era meu aniversário de dezoito anos,

Por fim, aquele momento havia chegado. A celebração mais esperada, na qual que eu me tornaria adulto. E também o dia em que eu seria nomeado Guarda Real.

Eu havia mudado bastante naqueles últimos anos. De um pequeno cabritinho, havia me tornado um jovem monstro forte e habilidoso – apenas um dos resultados de meus incessantes treinos com Asgore.

Embora ainda mantivesse alguns trejeitos agradáveis, o intenso preparo havia me tornado fisicamente mais resistente. Já não me a semelhava mais ao tímido e franzino garoto que havia sido um dia. Meu corpo havia reagido aos vários anos de lições de combate, adaptando-se ao porte do guerreiro que sempre havia almejado me tornar.

Afaguei o ferro que recobria minha mão direita, admirando o apetrecho que finalmente havia se encaixado perfeitamente em mim.

O peso da manopla em meu braço teria um novo significado a partir de agora. Representaria o peso de minha responsabilidade como guarda pessoal do rei.

Vinquei a testa para meu reflexo, fazendo as orelhas de gato se retraírem, imitando meu focinho inquieto. Abri um sorriso de lado, tentando ensaiar uma expressão tranquila e confiante, mesmo que o nervosismo ameaçasse me dominar.

Podia até ser uma cerimônia particular. Porém, ainda assim, seria muito importante. Principalmente por que Undyne havia generosamente aceitado o convite para testemunhar minha condecoração oficial.

Apanhei o elmo sobre a penteadeira, acomodando-o ao redor de minha cabeça. A peça, meticulosamente moldada para ser discreta, ocultava quase todo o meu rosto, expondo apenas os olhos e dentes.

Sobressaltei-me, estalando as juntas da armadura, quando Bob adentrou no quarto, afobado, saltitando ao redor do criado-mudo.

- Está na hora, Nitch! - ele aparentou surpresa ao me ver – uau! Você está incrível!

Sorri para Bob.

- Obrigado – suspirei – já estou indo.

Saí do quarto, acompanhando meu amigo. Bob me ladeou, batendo as patinhas animadamente corredor afora, como um hilário cãozinho de patrulha. O pensamento me fez rir.

Quando adentrei no saguão do castelo, senti a atmosfera mudar absurdamente, como se estivéssemos entrando num local sagrado e solene.

Embora houvesse uma interminável fileira de Temmies adiante, sentadas paralelamente ao carpete do trono, não se ouvia qualquer risadinha ou piada da parte das convidadas. Todas viraram-se em minha direção, admirando-me em incomum silêncio – uma ou outra acenando discretamente para mim, sem fazer qualquer alarde.

Bob ofegou, juntando-se às suas colegas em seguida. Diminuí o passo, posicionando-me diante do carpete, Baixando a cabeça respeitosamente.

Ao longe, focalizei Asgore sentado no trono, portando seu majestoso tridente. Refreei a vontade de sorrir para meu pai adotivo, vendo-o me encarar com indisfarçado e comovente orgulho.

Ao lado dele, segurando seu elmo nos braços, a capitã da Guarda Real me sondava silenciosamente. Undyne assentiu levemente, também abrindo um esgar satisfeito.

Ela inspirava ainda mais medo e respeito quando vista de perto. Embora, à primeira vista, seu corpo magro não aparentasse qualquer vigor – um grande engano, desmascarado em qualquer luta contra ela - , sua aparência geral provocava um temor natural á qualquer oponente.

No entanto, havia algo, no olhar feroz de Undyne, que também descartava qualquer teoria de uma ferocidade completamente insensível. Para aqueles poucos escolhidos, ela demonstrava ser uma monstra completamente diferente – uma pessoa amigável, divertida e gentil.

Eu era um destes grandes sortudos.

Devolvi-lhe o olhar, absolutamente lisonjeado.

- Aproxime-se, Nitch Buster.

Obedecendo à ordem do rei, caminhei em passos lentos até o trono real. Senti os olhinhos esgazeados das Temmies sobre mim, e o olhar brioso de Bob me seguindo ao longe.

Por fim, interrompi-me, ajoelhando diante de Asgore.

Observei Undyne se adiantar, dirigindo-se a mim.

- Nitch Buster... - proferiu – após o treinamento adequado, presidido por Sua Majestade, Rei Asgore, você foi julgado merecedor de se juntar à Guarda Real dos monstros – acrescentou, sorrindo – por favor, profira o juramento da Guarda para oficializar sua nomeação.

Meneei a cabeça, colocando a mão sobre o peito da armadura, olhando na direção do rei. Asgore assentiu em incentivo, permitindo que eu prosseguisse.

- Eu, Nitch Buster, comprometo-me a dedicar minha vida e vigor em prol do reino dos monstros. Juro lutar com honra e assegurar as regras e leis de nosso povo, assim como servir o rei em qualquer circunstância e sem hesitação, mantendo minha lealdade, e honrar os que se já foram por proteger a todos e sempre procurar a justiça.

Asgore ergueu-se do trono, baixando seu tridente, pousando-o sobre meu ombro.

- A casa real dos Dreemurr aceita seus votos, Nitch Buster – disse solenemente, recuando a arma – a partir de hoje, eu o nomeio Guarda Real.

Arquejei, sem conseguir acreditar, trêmulo de felicidade.

Já sem se conterem, as Temmies gritaram de alegria, batendo palmas e fazendo algazarra. Undyne revirou o olho – embora fosse visível que, não fosse a ocasião formal, também teria feito exatamente a mesma coisa.

Me reergui, ainda exultante.

- Obrigado... Majestade.

Vi Undyne soltar um muxoxo humorado.

- Bem... agora que as formalidades acabaram.. - ela me deu um soco no braço, quase amassando o ferro da armadura – tira esse capacete, desarruma esse cabelo... e vamos comer aquele bolo que o cachorro trouxe!

- Cachorro não, madame – Bob pigarreou com toda a dignidade do mundo – sou um Bob.

Desmanchando a atmosfera séria, todos começaram a rir.

Bob fechou a cara, mas, logo a seguir, girando o olhar, acabou rindo junto com os demais.

Bob sentou-se comigo no parapeito da torre, assim que a festa finalmente havia terminado.

- E então? - indagou – como se sente agora?

Fitei meu velho amigo, sentindo meu peito ribombar.

Eu estava extasiado. Havia conseguido tudo que sempre havia desejado. A resposta deveria ser simples e incontestável.

- Feliz – respondi – estou... feliz.

Porém, algo ainda me incomodava. Sentia que havia alguma coisa... que ainda me faltava. E não conseguia saber ao certo o que era.

Demoraria algum tempo, mas uma série de acontecimentos me fariam descobrir, aos poucos, a resposta que eu tanto procurava.

E tudo começou quando um novo humano teve a insensata ideia de cair em Underground.

O Espadim e a Manopla - Uma História de UndertaleOnde histórias criam vida. Descubra agora