Embriaguez

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AAYRINE


Enquanto estava de guarda no bosque de Snowdin, ouvi o estranho som de soluços e passos trôpegos nas proximidades.

Conjurei um de meus espadins, virando-me agilmente na direção do barulho, preparada para atacar o que quer que estivesse ameaçando os arredores.

Porém, senti minha arma esmaecer no ar, assim que reconheci a silhueta de armadura que se aproximava.

Meu queixo despencou.

Nitch?

Ele parecia ter vindo diretamente de Hotland. Mas o que diabos estava fazendo ali, àquela hora da noite?

- A-Aayrine…? - vi seu focinho emergir da penumbra, enquanto se acercava em minha direção. Estava andando engraçado, parecendo bizarramente aéreo e confuso.

A tensão que havia restado de nossa conversa anterior ameaçou me dominar novamente. Teria algo á ver com nossa discussão?

- O que faz aqui em Snowdin, Nitch? - ofeguei, intrigada.

Para minha maior perplexidade, ele posicionou-se á uma mínima distância de mim, inclinando o focinho sobre meu ombro.

- Eu… não quero… brigar…

Senti um aroma familiar em seu hálito. Um cheio adocicado, definitivamente inconfundível, após tantas visitas ao Resort MTT.

Starfait.

- Nitch! - ofeguei, incrédula. O que infernos Nitch havia ido fazer no resort de Mettaton? – você andou bebendo?

Nitch contraiu os olhos, fungando baixo e desoladamente, como um menininho perdido e sonolento.

Eu só podia supor que o álcool do Starfait estava tendo um efeito devastador sobre sua parte Temmie, deixando-o totalmente fora de sua personalidade normal.

- Não quis.. fui c-conversar… - soluçou, esfregando um dos olhos, fazendo uma expressão meiga e insegura.

Diabos. O Nitch bêbado era terrivelmente fofo e engraçado. Nem lembrava o cabrito cabeça-dura e furioso do qual havia me despedido no castelo.

- Deus… você precisa se recompor – guinchei, desesperada – vou ligar para o rei…

Ele segurou meu pulso repentinamente. Seus olhos distraídos ficaram arregalados e assustadiços.

- Não… p-por favor… - suplicou, com a voz embargada pela embriaguez – ele vai m-me matar… p-papai não pode saber…

Pobre garoto. A visita de Karin realmente havia virado sua mente de cabeça para baixo.

Eu não podia deixar Nitch naquela situação – e, como ele havia observado, dizer á Asgore sobre aquilo não era uma ideia das melhores. Não ia fazer com que sofresse ainda mais.

Eu tinha que ajudar o meu amigo.

Suspirei, olhando para os lados, tomando sua mão trêmula na minha.

- Olha… você pode pernoitar lá em casa hoje… e amanhã damos um jeito nisso, está bem? - propus, num tom de voz gentil – não se preocupe… - ofereci o braço para que ele se apoiasse – venha… vamos sair daqui….

Languido como um bebê, Nitch reclinou-se sobre minha armadura, soluçando baixinho, e esquadrinhando-me ocasionalmente com o olhar injetado.

A passos lentos, nos retiramos do bosque, e tomamos caminho em direção á minha casa.







O Espadim e a Manopla - Uma História de UndertaleOnde histórias criam vida. Descubra agora