Liberdade

6 3 1
                                    




AAYRINE


Por que sentia minha alma sendo drenada?

Por que havia aquela estranha sensação de torpor?

Eu não tinha mais um corpo. Era só uma consciência atordoada no vazio da inexistência. O que estava acontecendo?

À minha frente, vi a figura do pequeno humano.

Um instinto ancestral, feroz e irracional se apoderou de mim.

A minha voz murmurava palavras que eu nem sequer havia formulado.

“Os humanos devem morrer. Devem pagar pelo que fizeram. Eles destruíram minha família… e tudo que eu amava”.

De algum lugar do limbo, ouvia a voz de Nitch.

“Temos que defender nosso povo. E libertar todos os monstros. Sinto muito.. mas você precisa morrer.”

Eu vagamente assistia - presa em minha própria presença incorpórea - a silhueta da criança tentando se defender de ataques fantasmagóricos ao seu redor.

Não.

Por que estaríamos fazendo isso? Ele não era nosso inimigo…

Era?

“Por favor…! Tentem se lembrar….!”. A voz infantil ecoou na escuridão. “eu não quero lutar com vocês! Nós podemos ser amigos…!”

Era isso.

“Não…. você não é nosso inimigo….. você é nosso amigo, Frisk…!”

Tudo desapareceu outra vez.


- AHHHHHHHHHHHH!

Acordei sobressaltada, erguendo repentinamente minhas costas para longe do chão gélido do salão.

Sacudi a cabeça, desorientada, olhando ao redor, com o coração aos saltos.

- Aayrine acordou!

Reconheci a voz de Undyne, que veio correndo ao meu encontro, me puxando para um abraço esmagador.

- Ai… coluna, coluna! - gemi, num misto de dor e humor - eu preciso dela pra andar!

- Graças á Delta Rune! - ela riu, quase me sacudindo de alívio.

- O q-que aconteceu…? - perguntei, completamente confusa. As lembranças ainda eram vagas e desconexas dentro de minha mente recém-desperta.

- Ahn… ainda não temos certeza -  ela coçou a nuca, fazendo uma careta - estamos esperando o pirralho acordar - apontou com o polegar por cima do ombro para um ponto distante da sala - ele parece ter apagado completamente. Todos acabaram de acordar também. Ninguém sabe o que rolou - Undyne massageou as têmporas - espero que o pivete consiga nos explicar - mas uma coisa a gente sabe… a barreira… - a vi sorrir amplamente - ela… ela foi destruída… - apertou meus ombros, como se achasse que eu ainda não havia compreendido - Aayrine… nós estamos livres!

Ouvi passos se aproximarem de mim. Um arquejo alto;

- Rine…?

Ergui a cabeça.

E senti meus olhos ficarem ligeiramente úmidos, ao reconhecer aquele rosto caprino de orelhas felinas.

- N-Nitch….!

- RINE!

Fui completamente engolfada pelos braços dele, antes que sequer percebesse.

Nitch me apertava contra seu peito. Senti meu corpo sacolejando contra o dele - e percebi, com um assomo de ternura, que não a única que havia começado a soluçar.

O Espadim e a Manopla - Uma História de UndertaleOnde histórias criam vida. Descubra agora