Um Só Coração.

Meu outro eu.

Em todas as minhas lembranças de infância a Gabriela está, nos conhecemos desde pequena. Nas férias era quase uma regra toda a minha família ir para São Luís e como Gabi é de lá, passávamos o período das férias  grudadas,  brincávamos todo o tempo quando crianças e mesmo quando as férias acabavam, e eu voltava a Araguaína não perdíamos o contato.

A Gabi e eu somos igualzinhas, ela também é feita por mundo igual passarinho, tínhamos gostos muito parecidos, brincadeiras, cheiros, sabores, duvidas e até mesmo os momentos difíceis. Nos entendíamos muito bem, e a Gabi estava presente em todas as minhas recordações.

Conforme o tempo foi passando e fomos crescendo, outros sentimentos começaram a surgir no meio da nossa amizade. A Gabi foi a minha primeira namoradinha, a primeira menina pela qual eu me apaixonei de verdade.

Foi um momento confuso da minha vida, era um mundo novo e desconhecido até então, para nos duas, mas fomos descobrindo  como lidar com todos os questionamentos que surgiram.

Ficamos juntas um longo período, eu sempre ia para São Luís ou ela vinha para Araguaína, mas Gabi era feita para o mundo queria descobrir  outros lugares e saber o que o mundo tinha à mostrar, então ela resolveu ir sozinha morar em São Paulo, ainda estávamos juntas quando ela foi e eu até  cheguei a ir ficar lá alguns dias com ela, mas não era mais como antes.

A amizade que sentíamos uma pela outra, falou mais alto que a paixão que existia naquele momento e resolvemos terminar com aquele romance. Tanto ela quanto eu estávamos em momento diferentes da vida, mais isso em nada afetou o amor e a cumplicidade entre nós duas.

E para a minha surpresa ela também tinha acabado de chegar à São Luís, veio passar alguns dias com a família.

- Ninha olha só quem tá aqui.

Falei enquanto saia do abraço da Gabi, mas deixei meu braço sobre o teu ombro e juntando teu rosto ao meu, dividimos a tela do celular, para que Ana pudesse ver nos duas.

- Oi moça do cabelo cor de mel.

Ana falou com a Gabi mas ainda estava com a testa franzida e eu sei que ela não tava entendo o porque de tanta euforia entre nós duas, então fui logo apresentá-la

- Ninha essa é a Gabi, meu outro eu. Somos tão iguais que chega dói, e a gente já brincou um bucado nesse balanço né não Ga?

Falei dando um beijinho estalado na sua bochecha e voltei para à apresentação.

- E essa Gabi, é a Ana. Ana não,  Ninha! Uma princesa que a vida me deu de presente.

- A vida acertou em cheio em Vi, que presente mais lindo esse. Quero presentes assim também!

Gabi falou dando risada e Ana na tela do celular ficou com as bochechas vermelhas de tanta vergonha e apenas sorriu.

- Foi um prazer ver o teu rostinho lindo  viu Ana? Falta nos conhecer pessoalmente agora, rumbora  marcar isso ai.

- Bora marcar sim Gabi.

Ana estava mais tímida do que o costume na “presença” da Gabi.

- Agora tu me empresta um tiquinho a Vi esses dias Ana, que eu não me aguento de saudade dela.

Gabi passou os braços sobre meu pescoço e acomodou teu rosto no meu ombro. E Ana não falava nada, só olhava cada movimento feito por ela com toda a atenção do mundo e analisava cada gesto ou demonstrações de carinhos trocados naqueles poucos minutos.

- Eu vou deixar vocês aí e vou lá pegar o celular que deixei no carro. Já volto Vi! Ana tu é uma princesa de tão linda viu? Um cheiro pra tu.

Ela grudou um beijinho na tela do celular e saiu dando risada. E ficamos novamente sozinhas, eu, Ninha e o balanço.  E ela ainda continuava com aquela cara de quem não estava entendendo nada!

- Ela é massa né? Gabi é um amorzinho Ninha. Uma energia bonita que só.

- É. É sim. Ela é massa! Quero conhecê-la pessoalmente.

- Ninha, sabia que ela foi a minha primeira namorada?

- Sério? 

- Humrum! A primeira menina por quem eu fui apaixonadinha.

Eu soltei uma risada ao lembrar disso e Ana apenas deu um leve sorriso tímido. Lembrar da Gabi como alguém pela qual eu já fui apaixonada era um tanto curioso porque foi um momento de descobertas para nos duas, um momento de muitas mudanças e hoje tanto eu quanto ela achávamos graça em tudo o que passamos e vivemos juntas.

- Vi, vem logo. Larga esse balanço leãozinho! 

Gabi me chamava da porta e Ana nem esperou eu falar nada. Se adiantou e disse!

- A gente se fala mais tarde Vi. Vai lá! 

O tom da sua voz parecia áspero, dava quase pra sentir um leve incômodo.

- Tu tá bem, princesa?

- To sim!

Fiz um biquinho e uma cara de quem não acreditava muito naquela resposta que ela tinha acabado de me dar. E ela para fugir de outras perguntas grudou os lábios na tela do celular e falou.

- Beijo pra tu.

- Mais tarde eu te ligo, viu? Amo tu

- Humrum. Cheirin

Ana desligou um tanto apressada a ligação, e eu guardei o celular. A Gabi me gritava da porta junto com a Sabra e eu fui até elas...