Cheirinhu da minha infância

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Mamãe programou toda uma viagem, com passeios, banhos de cachoeira, visitas aos parentes mais distantes e tudo mais que uma viagem em família precisa ter.

Em menos de duas semanas eu já voltaria para São Paulo e mamãe não ia dispensar a minha presença nessa viagem.

- Ninha? 

Depois de ler e reler umas 3 vezes aquela mensagem linda que a Ana tinha me mandado, liguei para ela.

- Oi grundin. Bom dia!

- Bom dia pra tu! Quer me matar de tantu amô é? Que mensagem mais linda aquela. Eu amo tu demais princesa.

- Também amo um tanto, vamos no açaí hoje? Acordei com vontade de açaí.

- Ninha foi por isso também que te liguei.

- O que? Não me diga que acordou com vontade de açaí também. Isso é que é uma sintonia num é mesmo?

Ana soltou uma gargalhada do outro lado da linha e eu não aguentei,  comecei a rir junto.  

- Não Ninha. Não é isso, até que poderia, porque todo dia é dia de açaí. Mas não é isso.

- Então é o que?

- Vou para São Luís  jazinho. Mamãe organizou uma viagem com a família todinha e exigiu a minha presença.

- E porque essa vozinha  tão desanimada? São Luís é tão bonito, e tu gosta tanto de lá.

- É eu gosto mesmo. Lá é bem lindo! Mas vamos ficar 4 dias e eu to sofrendo de saudade de ti, antes mesmo de ir.

- 4 dias vão passar rapidinho e tu vai se diverti tanto lá que nem vai notar.

Ana tinha razão, os dias iam passar rápido mesmo. Mas é que desde do dia que nos conhecemos não desgrudamos, e ficar esses dias  tudinho longe dela, fazia o meu coração ficar apertado.

Mamãe me gritava da sala apressada pra gente sair logo, então desliguei a ligação e prometi avisar assim que chegasse lá.

E fui logo arrumar as últimas coisinhas da viagem, antes que Dona Isabel me gritasse de novo.

- Já to pronta!

Gritei ao sair do quarto puxando a minha mala.

- Até que fim Tória.

Mamãe falou num tom meio bravo e logo já estávamos entrando no carro pra seguir viagem, fomos todo o caminho cantando, dando risada uma das outras e tirando inúmeras fotos do céu e das paisagem que íamos encontrando pelo caminho.

Minhas irmãs e eu somos muito diferentes em alguns aspectos, e também iguaizinhas em outros, e uma dessas coisas em que somos muito parecidas é o amor pela música e pela pintura que podemos apreciar todo dia no céu.

Mamãe falava “Num sei que tanto vocês olham esse céu.”

E a gente sempre dava a mesma resposta. "Olha essa pintura mamãe."

Então nos passamos toda a viagem encantadas com cada paisagem que víamos.

Chegamos no nosso destino, a casa da tia Ema. E depois de longos abraços e conversas sobre as novidades da família, eu fui lá no fundo onde tinha um balanço preso à uma árvore antiga . Meu avô que fez e colocou aquele balanço ali e eu acredito que toda a minha família tem alguma história, em que aquele balanço está presente.

  E ao sentar nele as lembranças  da minha infância invadiam a minha mente, me fazendo suspirar e sorrir ali sozinha.

Então aproveitei que estava um pouquinho sozinha, peguei o celular e liguei logo pra Ana, eu combinei de avisar quando chegasse.

Resolvi ligar no facetime queria que ela me visse no balanço.

- Oi Vi?  Já chegou?

- Cheguei sim. Olha Ninha, isso aqui tem cheirinhu da minha infância.

Me balançava enquanto falava com ela e contava sobre os momentos engraçados da viagem. E ela me ouvia atentamente, parecia até imaginar as cenas que eu descrevia do meu jeito, e ela sorria feito boba me olhando.

Até que ouvimos alguém chamando por mim. 

- Vi!
  Vi,  eu nem acredito que tu tá aqui mulher. Eu tava morrendo de saudades de tu meu amô.

Abrir um sorrisão ao ver a Gabi vindo na minha direção.

- Ei Gabi.

Gabi se aproximou e eu nem conseguir levantar do balanço, ela correu e me grudou em um abraço forte,  um abraço cheio de saudade.  E quando voltei a olhar o celular a Ana estava ali parada nos olhando e com uma carinha de dúvida ela franzia a testa.

Um Só Coração.Onde histórias criam vida. Descubra agora