Ela só precisa existir.

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- Eu precisava de você, eu precisava sentir você.

Ana me abraçava forte, suas lágrimas caíam e começaram a molhar o meu braço, sem desgrudar nossos corpos puxei a sua mala que estava do lado de fora, fechei a porta e só depois  ela saiu dos meus braços e começou a enxugar o rosto que estava tão molhado de suas lágrimas que brilhava. 

- Vem! Senta aqui.

Falei guiando ela pela mão e  tirando as almofadas do sofá deixando um espaço para que ela se sentasse.

- A gente precisava conversar Vi...

Ana falou entre lágrimas e soluços  segurando firme a minha mão me prendendo à ela.

- É já que eu volto aqui Ninha, espera um pouquinho.

Deixei Ana sentada no sofá e fui rapidinho no banheiro, afinal tinha acabado de acordar e precisava jogar uma água no rosto, sem falar que precisava de um tempo pra organizar as ideias, ainda não estava acreditando que Ana tava sentada bem ali na minha sala, me esperando para conversar. Depois de alguns minutinhos voltei, fui na cozinha peguei água e levei para ela que estava sentada imóvel no mesmo lugar com as mãos no rosto e de cabeça baixa.

Me aproximei toquei de leve seu cabelo, ela levantou o rosto enxugando os olhos e eu lhe entreguei o copo com água.

- Toma. E fica calma!

- Vi, a gente precisa conversar. 

- A gente tem todo tempo do mundo pra isso, agora bebi e fica calma, tá?

Enquanto Ana bebia à água, eu sentei no chão bem na sua frente e comecei à observa-la e durante aqueles minutos eu esqueci tudo o que havia acontecido na noite passada, esqueci todo medo, toda angústia e confusão. O tempo lá fora parou como sempre acontece quando estou perto dela e uma música começou a passear na minha mente enquanto eu à fitava.

Ela une todas as coisas, como eu poderia explicar. Um doce mistério de rio com a transparência de um mar. Ela une todas as coisas, quantos elementos vão lá? Sentimento fundo de água com toda leveza do ar...

- Vi? (...)  Vi?

Despertei do meus pensamentos ao som daquela voz de açúcar e de imediato um sorriso surgiu no meu rosto.

- O que foi?

- Nada não. Tá mais calma?

- Sim, e agora eu preciso te explicar. Aquilo foi tudo um mal entendido Vi, foi um comentário infeliz na hora e na ocasião mais errada possível, o Fê é o meu colega do curso e estamos no mesmo grupo de estágio, vamos passar muitas horas juntos, quase todos os dias da semana e é por isso que chamamos de "casal" porque nesse período convivemos quase que todo o tempo, mas é só isso que existe Vi, não existe outra história ou outro alguém na minha vida além de você.

Ana parou de falar e voltou a chorar, então levantei tirei o copo de sua mão, sentei ao seu lado e comecei a passear com minha mão por suas costas. 

- Fica calma Ninha.

- Eu sei que tu tá muito puta comigo, mas acredita em mim. Eu fiquei louca porque tu não me atendia, meu coração pesava demais fiquei imaginando tu aqui sozinha se sentindo péssima e ainda mais triste por minha culpa. Me desculpa Vi! Desculpa por toda essa confusão...

Todo sentimento confuso que havia me invadido noite passada, naquele momento já não existia mais. Não tinha como sentir outra coisa à não ser amor ali, não tinha como olhar para Ana que estava ali na minha frente e pensar em qualquer outro sentimento que não fosse amor. Amor pelo o ela traz, pelo o que ela faz e pelo o que é.

Ela está em todas as coisas, até no vazio que me dá, quando vejo a tarde cair e ela não está. Talvez ela saiba de cor tudo que eu preciso sentir, pedra preciosa de olhar, ela só precisa existir pra me completar...

Essa música continuava ecoando na minha cabeça e parecia dizer em cada  verso tudo o que meu coração sentia com relação à Ana. Eu continuava ali atenta as suas explicações sobre o Fê, sobre quem ele é, e sobre tudo o que tinha acontecido. Observava cada detalhe do seu jeitinho todo particular de se expressar e mesmo achando que não séria possível eu me encantava mais ainda por ela.

Ana tinha mil maneiras diferentes de lidar com aquela situação ela poderia mudar o rumo daquela conversa à qualquer momento, ela podia até ficar brava comigo por ter ficado brava com ela, mas não, ela veio até São Paulo com o coração pesado, ela veio querendo cuidar de mim, antes mesmo de cuidar de si, veio unir, veio porque a conexão que existe  é mais que sintonia, é mais que pele, é conexão de almas, ela explicava toda aquela situação com uma delicadeza e uma certa pureza singular e isso me encantava mais ainda, fiquei pensando no quanto Ana me fazia bem só por existir.

O meio de toda aquela conversa um desejo transbordou em mim, eu não sou bem o tipo de pessoa que liga muito para rótulos. Acho que rotular, às vezes limita o outro e é tão bom quando somos deixados livres para voar, mas naquele momento eu sentir no meu coração que precisava de algo mais.

Ela une o mar, com o meu olhar.
Ela só precisa existir pra me completar...

E a música que ecoava, dizia aquilo que eu já devia ter dito, então levantei seu rosto com as mãos ela me fitou com os olhos vermelhos de tanto choro e eu falei.

- Ninha... Tu quer ser minha namorada???


Um Só Coração.Onde histórias criam vida. Descubra agora