11 - Minha Juventude É Sua. |Janeiro, 2010

3.6K 309 21
                                    


Play: Youth by Troye Sivan (escutar até o final do capítulo).

Janeiro - 2010.

As notas no piano se misturavam com as gotas que batiam na janela, dando uma combinação perfeita ao momento.

Os dedos tão familiarizados e intimos com as teclas do piano, faziam com que as notas ecoassem suaves pelo apartamento, se perdendo através dos cômodos. A melancolia retratada pelos dedos era notável, intensa, as notas agudas representavam a felicidade que sentia em havana, e as graves, ah.. As graves representavam quando tudo passou a se transformar em um inferno.

Não podia negar a falta que Camila fazia, e o quão doloroso fora ir embora de cuba brigada com seu amor, fora uma briga tão boba e tola, mas eram na época adolescentes imaturas, que tinham a oferecer uma a outra apenas sonhos de um para sempre defeituoso, onde a maturidade não existia.

O ser cabisbaixo de cabelos longos, mantinha os olhos fechados, apenas sentindo a música consumir seu corpo, como uma heroína, mas que tinha um efeito contrário ao da orinal, porque a música estava a deixando triste, estava trazendo lembranças, mas os dedos não conseguiam parar de se moverem, e seu cérebro não queria deixar que as memórias de Camila voassem.

E então finalmente deixou que a carga emocial se libertasse de seu corpo, os olhos de um verde cintilante abriram-se, e junto deles vieram as lágrimas, tímidas lágrimas qual não se privou de sentir, qual não privou-se de absorver cada significado, cada porcentagem de culpa.

Havana havia acabado de escurecer, o céu estava estrelado, e as vozes das crianças brincando na rua, impossibilitavam Lauren de dormir.

Escutou então um estalo estranho na janela, sentou-se na cama e enrugou a testa, já pensando no que reclamaria caso fosse as crianças fazendo suas devidas travessuras.

Mas ao debruçar-se na mesma ja com o vidro aberto, encontrou Camila no gramado de sua casa, estava vestida de forma adorável em seu pijama dos minions, e mal parecia uma adolescente de dezessete anos.

- Já estou indo. - Falou a garota de olhos verdes saindo da janela.

Encontrou a porta em poucos segundos e com muita cautela, todos aquela hora estavam dormindo.

- O que faz aqui? - Perguntou Lauren surpresa.

A outra latina corou, não queria incomodar, mas talvez assistir a um filme de terror com seus pais não tivesse sido a melhor opção.

Odiava filme de terror.

- Sabe, filmes de terror, sonhos. - Explicou mordendo o lábio inferior.

Aquilo fora suficiente para quebrar todas as barreiras de Lauren, que achou adorável o medo da outra garota. Não era novidade que Camila tinha medo de filmes de terror, mas estava curiosa, se a mesma não gostava, então por que insistia em assisti-los?

- Entre Karla Camila. - Deu espaço para que a garota passasse, o tom de voz era divertido e derrotado.

O caminho em direção ao quarto fora feito na ponta dos pés e com as bocas devidamente fechadas, e assim que estavam devidamente seguras embaixo dos grossos cobertores, puderam enfim conversar tranquilamente, sem se preocuparem com o barulho.

- Obrigado por me deixar ficar com você. - Agradaceu a mais nova, aconchegado-se ainda mais em Lauren que a recebeu em um carinhoso abraço.

- Você é uma medrosa. - Brincou a Jauregui. - Por que assiste a esses filmes se tem medo? - Perguntou divertida, sentindo o dedos médios e delicados de Camila em seus cabelos escuros, num cafuné.

- Não parecia tão assustador assim. - Retrucou realmente decepcionada - Quando me dei conta já tinha visto monstros demais.

- Não parecia assustador te amar Camila. - Sussurrou a pianista ainda concentrada nas notas do piano, apenas deixando que o gosto das lágrimas lotadas por memorias tomassem conta de seu corpo, de sua mente. - Não parecia suicídio receber o amor que sentia por você de braços abertos.

- O que você quer que eu toque? - Perguntou a Jauregui sentada em frente ao instrumento clássico.

Aquele era um dia nublado, onde a chuva tomava conta de tudo, já estava anoitecendo, e ela seguia sem pausa.

- Toque algo especial para você, ou apenas toque algo que queira compartilhar comigo. - Pediu a outra sentada ao lado da adolescente, observando-a com expectativa.

- Tudo bem. - Concordou a de olhos verdes.

Não podia negar o coração disparado pelo nervoso, tocar para alguém era muito diferente de tocar para as paredes, e mesmo sendo Camila, ainda sim era um desafio, tudo que se tratava de Camila era um desafio.

- What if, what if we run away? ( E se, e se nós fugíssemos?) - A voz rouca que entorpecia Camila ecoou no quarto vazio, aquele era o quarto de Carlos, onde agora só restava-lhe seu instrumento preferido, o piano.

- Você sempre foi meu desafio Cabello. - Sussurrou cessando as melodias do piano lentamente, fazendo com que aos poucos a música perdesse seu som, e que a sala com o objeto fosse preenchida pelo silêncio da solidão.

- My youth, my youth is yours (minha juventude, minha juventude é sua) - Cantou o refrão com suavidade, movendo os dedos de forma talentosa pelo piano herdado do avô. -  Tripping on skies, sipping waterfalls (Viajando pelos céus, bebendo cachoeiras) - Fechou os olhos, sentindo a felicidade das memórias de sua infância ao lado de Camila tomarem conta de sua mente, eram tão felizes em suas brincadeiras de princesas, ou então quando viajavam pelos mares sendo piratas em busca do tesouro perdido.

Os olhos verdes como grama então abriram-se e fitaram os castanhos de forma profunda e a partir daquele simples gesto, Camila soube o que aquela música significava. Ambas passaram a infância juntas, deram basicamente os primeiros passos uma ao lado da outra, descobriram coisas novas, enfrentaram juntas o terror do colegial, provaram do amor mais doce.

A juventude de Camila pertecia a Lauren, e a juventude de Lauren pertencia a Camila.

E elas sabiam disso.

O destino ao seu ver fora indisplicente, mas sabia que no fundo era egoísmo culpa-lo, quando na verdade, ambas as garotas foram as unicas culpadas pelo desentendimento, foram imaturas, e não souberam suportar a carga emocial de dizer adeus por alguns anos.

Mas agora era tarde de mais. Muito tarde.

Faziam-se mais de seissentos dias.

Faziam-se anos.

My youth, my youth is yours
(Minha juventude, munha juventude é sua)
Run away now and forevermore
(Vamos fugir agora e para sempre)
My youth, my youth is yours
(Minha juventude, minha juventude é sua)
A truth so loud you can't ignore
(A verdade é tal alta não podemos ignorar)
My youth, my youth, my youth
(Minha juventude, minha juventude)
My youth is yours
(Minha juventude é sua) 

YOUTH - Troye Sivan.

Havana •Camren•Onde histórias criam vida. Descubra agora