19 - Eu Não Te Amo Mais. |Dezembro, 2014.

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N/a: Vocês vão me odiar e odiar esse capítulo, mas ele é necessário.

Para esse capítulo recomendo a música "I Run To You" do MISSO.
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Dezembro - 2014.

O cemitério tinha naquela
manhã um clima nublado. Os pés protegidos por um tênis caminhavam lentamente em cima dos pedregulhos.

Faziam-se três dias em que estava em Havana, passara um tempo com sua mãe, conversaram, andaram pela cidade e agora sozinha, estava em frente o cemitério.

O assustador cemitério.

O coração na garganta estava cheio de saudade das casas simples e coloridas, os carros antigos, saudade de Carlos,
saudade de Alejandro.

Ah.. Alejandro.

Os olhos verdes cintilaram perante as enxurradas de emoções. Alejandro era um bom homem e assim como Carlos fora o pai que nunca teve, e por muitas vezes quando criança, ao chorar por Camila ter um pai e ela não, Alejandro a pegava nos braços e sussurrava em seu ouvido.

- Você assim como Camila e Sofi, é minha filha, pode não ser de sangue, mas de alma, de coração. Por que eu te amo Lauren. E na falta de um pai, você tem dois, eu e Carlos, porque eu a amo. E a protegerei com minha vida.

As lágrimas desceram, sentia certo remorso por não ter aparecido para o funeral, mas era impossível, o dinheiro na época era curto, e uma vida de músico não é tão fácil como parece.

Enquanto não se alcança o sucesso, você é apenas mais um dentre vários fracassados. Mas isso iria mudar.

Tudo dependia apenas dela para mudar.

Perto da sepultura onde o avô e mais ao longe, Alejandro estava. Avistou uma figura mediana, de saltos, os cabelos longos estavam soltos e voavam ao vento, o sobretudo elegante cobria suas curvas.

Paralisou.

Encontrar Camila não era uma probabilidade, mas o destino parecia estar esticando em direção a ambas as garotas uma segunda chance.

Uma segunda chance de se despedirem, sem dores, sem lágrimas.

E de forma madura.

O peito acelerou, as mãos suaram, as lembranças consumiram cada átomo de seu corpo pálido e a tristeza fora derrotada pelo nervosismo. Com toda a coragem que restava em seu corpo covarde, aproximou-se, vacilante, tão vacilante quanto Camila ao sair do teatro em Zurique.

O vento soprou para si o aroma delicado, havia mudado, era algo mais adulto, forte e até sensual, o perfume não era tão doce, era neutro.

Lembrou da música que escrevera, estaria fadada a suicidar-se? Estaria novamente destinada a morte lenta e dolorosa de um sentimento quebrado por Camila?

O torço elegante e de saltos altos, sentiu a presença de alguém ao seu lado, e os olhos ergueram-se, o seu mundo parou, e o chão pareceu sumir de seus pés.

Os olhos verdes e castanhos enfim se reencontraram, sem o brilho da juventude, a inocência de uma criança. Eram agora mulheres formadas, com um futuro promissor, e uma vida inteira pela frente.

Mas estavam destinadas a viverem o resto de seus dias juntas? Lauren acreditava que não, e Camila tão menos cogitava tal hipótese.

- Lauren. - A voz soou neutra e com extrema educação, o ar naturalmente superior da mulher fez os pelos presente na nuca da latina de olhos verdes arrepiarem. Ela via nos olhos castanhos algo diferente.

A Camila de seis anos não existia mais, ela não via um mísero rastro, uma pista, nada. Era como se a mulher ali a sua frente fosse alguém completamente diferente.

E talvez fosse.

Camila por sua vez, sorriu sem mostrar os dentes. Fitando a pianista com certa frieza. Uma frieza que mascarava perfeitamente o ser sensível e maltrado pela culpa, que era escondido por baixo de uma artista plástica e empresária bem sucedida.

Camila de fato havia conquistado o mundo, mas ainda sim, nada supriria a dor, nada nunca chegaria perto de curar sua ferida. Amava Giuseppe, seu noivo. Mas o sentimento especial, intenso, em sua mais pura verdade fora sentido uma única vez.

E jamais seria sentido novamente.

Ela sentia não amar Lauren como a amava a anos atrás. Mas a culpa dilacerava, a culpa não deixava que as memórias voassem junto daquele cordão arrebentado em dois mil e dez.

- Camila.. - A pianista disse por fim, sentindo estar perto de seu leito de morte, aquela mulher a sua frente não lhe agradava, aquela mulher a sua frente não se parecia com a adolescente alegre e sonhadora.

E então o encanto sumira, sendo levado por uma enchurrada de decepções.

- Como vai? - Perguntou a latina levando seu olhar ao celular carissimo, o castanho estava tão mais sério agora.

A pianista cubana desviou o olhar. Respirando fundo, tomando forças.

- Não finja que nada aconteceu. - O tom saiu objetivo, e Camila sentiu seu corpo tremular internamente.

Medo.

- Não finja que tudo aquilo faz parte do nosso presente, Lauren. - A latina passou pela mulher formada em música, para então endar de forma elegante em direção a saída, aquele vestido rose, os saltos, a confiança.

- Era você em Zurique. - A Jauregui continuou parada, sentindo o bolo na garganta impedi-la de respirar.

A artista plástica parou o andar, e ainda de costas, com o olhar embassado pelas lágrimas, disse:

- Sim Lauren, eu estava em Zurique à negócios e para ver meus quadros serem leiloados.

- À negócios? Você fala como uma-

A latina riu, encarando os olhos verdes, enquando os dedos limpavam as lágrimas com cuidado para não borrar a maquiagem.

- Foram seis invernos, seis verões, seis primaveras e seis outonos longe de você. - Falou com a voz trêmula. - Foram seis anos longe Lauren, e muita coisa aconteceu, muita coisa.

A Jauregui riu irônica, sentindo seu estômago embrulhar em decepção, em desapego.

- Não foi por essa Camila que eu me apaixonei. - Relatou áspera.

- Ótimo Lauren, porque também me apaixonei pela Lauren de seis anos atrás.

Os olhos fitaram-se, intensos, uma intensidade cheia de nada. Foram anos de sofrimento, e agora que estavam frente a frente, ironicamente perceberam:

Não se amavam mais.

- Me desculpe por tudo. - A de olhos castanhos pediu sincera, ela precisava do perdão de Lauren para deixar assim as memórias voassem.

- Me desculpe por ter sido tão dura com você naquela tarde. - A Jauregui também desculpou-se.

Finalmente estavam sendo maduras, sem brigas, sem ataques.

As lágrimas desciam livremente por ambos os rostos, choravam pela amizade que tiveram, pelos momentos bons. Era doloroso, de fato,  Lauren sentia finalmente estar atingindo nirvana, como escrevera na música em seus tempos de universitária. E Camila sentia estar finalmente conseguindo o que tanto almejava, cortar os laços, sem que os mesmos fossem arrebentados.

O verde no castanho.

O castanho no verde.

Sol e Lua.

Um eclipse fracassado.

Elas não se amavam mais.

Foram quinze anos jogados no lixo.

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N/a: Estamos parcialmente perto do fim. Aqui se incia a terceira e última fase da fic.

Espero que gostem do que está por vir ❤

Havana •Camren•Onde histórias criam vida. Descubra agora