22 - Quando As Luzes Se Apagarem. |Favereiro 2017.

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Fevereiro - 2017.

Seus saltos chocavam-se no chão duro e áspero de uma sala escura. Estava cansada de andar sem rumo, e seu peito ardia clamando por piedade enquanto sua alma gritava, chorando por socorro. O olhar castanho opaco seguia sem rumo, procurando desesperadamente por uma saída.

O andar representava a sua constante vontade em fugir dos problemas. A ardência no peito reprentava o sufoco em ser prisioneira da própria mente e o choro representava o desespero em ter chegado a um estado tão decepcionante.

Encontrava-se perdida em milhares de papéis importantes. Encontrava-se em preto e branco, mesmo que trabalhasse com as cores todo o santo dia. Ao olhar no espelho, enxergava um olhar poderoso marcado pela maquiagem e o batom vermelho escuro desenhando seus lábios com maestria. As roupas elegantes faziam parte de uma Camila Cabello que possuía basicamente tudo que um artista almejava e nada do que um ser humano precisava para ser feliz consigo mesmo. O seu interior era feito de cacos e ela não conseguia explicar em que ponto exatamente da curva, ela havia sofrido um acidente, levando-a a perder-se de si mesma.

Ao olhar no espelho, não conseguia se identificar com o que via, era como se estivesse em uma constante atuação, onde havia superado a morte do pai.

Ao olhar-se no peito, sentia-se enjoada por não conseguir decifrar onde fora parar a Camila Cabello que possuía olhos brilhantes, roupas coloridas e um desejo por sonhos. Sentia-se enjoada por tornar-se um ser tão falso e superficial.

Vazia.

No centro da grande Nova Iorque. A Cabello Gallery seguia lotada, os melhores quadros pintados pelos melhores pintores estavam expostos. Uma música ambiente tocava ao fundo e varias pessoas vestidas no seu melhor traje perambulavam pelo local, apreciando da exposição.

Os olhos castanhos passavam pelo local satisfeitos com a organização, mas apenas isso. Satisfação. Sem felicidades, sem sorrisos, nada.

- Sejam bem-vindos a Cabello Gallery. - Sorriu abertamente, um sorriso projetado e perfeito, cheio de uma falsa sinceridade. - Essa noite teremos como exposição os melhores quadros. - Ainda no palco completou, vendo todos a volta a encararem com atenção, admiração.

Mal sabiam eles que sua vida estava repleta de maus costumes.

Costumes que estavam tirando de si aos poucos sua própria vida.

A noite arrastou-se irritante, como num disco que estava arranhado e travado no mesmo local e quando finalmente botou os saltos de grife no piso feito de seu apartamento, ligou as luzes do ambiente e viu-se sozinha mais uma vez em meio aqueles móveis sofisticados.

Sua vida havia tornado-se chata. Laços foram desfeitos, um noivado fora pelo ralo junto das alianças brilhantes e em seus lábios o gosto da nicotina sempre fazia-se presente nas horas vagas.

Nos primeiros meses, Giuseppe não lhe dava espaço. Ligava sempre que podia, pedia uma segunda chance, chorava como um pequeno e tolo homem que sentia o gosto em ter o coração quebrado por completo. Transavam as vezes, e Camila o mandava embora pela manhã, fria e inabalável.

No segundo ano, o mesmo já não ligava mais e tão pouco a procurava. De fato, o que um dia já fora um relacionamento aclamado pelas revistas, sumira em meio as questões mais relevantes, e todos não sabiam explicar o porquê do subto término.

- De fato. Eu tenho o dom de foder com todos a minha volta - murmurou solitária e irônica, enquanto sentia a ar quente queimar sua garganta.

Apoiada na varanda de sua casa, com o rádio ligado em uma altura neutra e um cigarro preso nos lábios, via os carros fazerem das ruas um completo ambiente barulhento. Os prédios tinham suas luzes acesas, e Nova Iorque parecia a mesma de dois mil e dez. Mas agora Camila Cabello não estava em um apartamento barato com Dinah. Ela não via-se deslumbrada com a Time Square. Ela não levantava todas as manhãs para ir em busca da arte, ir em busca do diploma. A vida em dois mil e dezessete parecia ter perdido a cor, o sabor, a graça. Sua vontade de viver fora enterrada junto de Alejandro, ele levou em seus braços tudo que restava dela.

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