15 - Andar Elegante, Saltos Altos E Um Vestido Rose. |Dezembro, 2014

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N/a: Prontos para o tão esperado reencontro camren?

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Dezembro - 2014.

Os flocos de neve voavam pelas pequenas ruas de Zurique naquela tarde. O frio abaixo de zero congelava seus ossos, os olhos verdes encaravam as ruas cobertas pela neve com nostalgia. Há seis anos atrás, tudo aquilo soava tão novo e inacreditável, e hoje tudo não passava de um mísero detalhe. As casas agora lhe eram familiares, as pessoas presente naquela rua lhe conheciam e o homem da padaria a cumprimentava todas as manhãs com simpatia, acostumado com sua fisionomia.

Zurique havia se tornado um pedacinho de si, assim como Havana.

Ah.. a agridoce Havana.

Com vinte e três anos de idade, uma vida relativamente boa e um espaço no ramo musical promissor, não tinha porque se aborrecer com o destino, mas lembrar daqueles olhos castanhos ainda lhe doía a alma, tanto quanto aquele frio lhe doía os ossos.

Era dia vinte e cinco de dezembro, natal, faltavam dois dias para que fosse comemorado de forma trágica o fatídico dia em que sua vida mudou completamente.

A dor da curiosidade também consumia cada metro de sua pele, numa turtura lenta e silenciosa, afim de que o destino sussurrasse em seu ouvido.

"A culpa foi sua"

"Não, a culpa foi dela"

Molhou os lábios ressecados pelo vento, vendo a fumaça esbranquiçada voar pelo ar congelante. Sorriu, aquele típico sorriso em que você da a um parente num dia de funeral, num dia de sombras.

Talvez a maior culpa realmente fosse da pintora, talvez realmente tivesse faltado um pouco de compreensão e maturidade dentro de seu coração sonhador e otimista. Mas eram na época tão jovens, eram presas fáceis para um destino travesso e maldoso.

Entrou no teatro público pela porta dos fundos, era o maior presente na cidade, e saber que iria tocar para uma quantidade apresentável de pessoas, fez com que seu peito iflasse em orgulho, em confiança. Sim, a confiança finalmente havia batido em sua porta, mas não podia negar que o pessimismo ainda era um de seus maiores inimigos, junto da solidão.

Era por vezes em noites, apenas ela, as notas do piano e seu coração partido, agora cicatrizado pelo tempo, com curativos falhos, que ainda se deixavam machucar por lembranças pontiagudas.

De fato, Camila havia sido a única mulher que amou na vida, qual teria a coragem de morrer pela mesma, e de fato, o fardo do sofrimento sempre estaria ali pesando em suas costas, mas cabia a pianista não se deixar vencer pelas emoções, cabia a pianista seguir em frente.

E ela havia seguido. Lembrar de Camila não a desestruturava tanto quanto em sua época de faculdade, e isso de certa forma era uma vitória, era um passo em direção ao futuro.

Mas o destino é sempre tão traiçoeiro.

É sempre tão mesquinho e sádico.

As luzes do teatro se apagaram, o silêncio tomou conta do ambiente, e apenas o som de seus cortunos eram escutados chocando-se pelo palco amadeirado. Tirou o sobretudo que a protegia do frio suíço, deixando que a camiseta de botões negra que vestia, se misturasse com a escuridão, até que as luzes se acenderam.

Havana •Camren•Onde histórias criam vida. Descubra agora