Maio - 1993.
As garotinhas corriam afoitas pelo parque, as risadas melodiosas se misturavam em uma perfeita sintonia com o som da natureza a volta.
Ao longe, Sinuhe e Clara obviamente cuidavam de suas filhas com os olhares atentos maternos, enquanto estavam sentadas no chão forrado com um lençol colorido.
A realidade é que após alguns meses de encontros entre Camila e Lauren, ambas as garotinhas ficavam cada vez mais próximas uma da outra, e até um desconhecido conseguia notar a complicidade no olhar de ambas as garotinhas. E tal fato de bônus, ajudou na aproximação de Sinu e Clara, que quase sempre conversavam sobre as crianças.
Aquele dia cubano era mais um dia comum, onde ambas as garotinhas após a escola, imploravam da forma mais adorável, para que suas mamães a lavassem ao mais novo preferido lugar de ambas, o parquinho infantil.
- ¿Quién quiere helado? (Quem quer sorvete). - Um homem de barba rala e sorriso alegre típico de um italiano, com olhos verdes familiares ao de Lauren e Clara, aproximou-se de onde as mães estavam com duas casquinhas de sorvete, esperando pacientemente que Camila e Lauren escutassem sua voz.
- Eu! - Gritou a latina de olhos castanhos, com um lacinho de bolinhas no cabelo, junto da outra latina de olhos verdes que também usava um lacinho, esse sendo um presente de Camila.
O homem grisalho caiu em uma gargalhada bem humorada ao avistar as garotinhas virem afoitas em sua direção, com os olhos brilhantes ao notarem os sorvetes na mão do mais velho.
- Vovô Carlos. - Exclamou Lauren animada ao ver a única figura paterna representante em sua vida, mesmo que ainda fosse muito nova para entender.
Mas Clara entendia, e agracia com todas as forças o apoio do pai.
- Bella. Que saudade que eu estava. - O músico italiano abaixou-se, para ficar da altura de ambas a garotinhas mantendo o olhar focado em Lauren. - Como foi a escola?
A garota de olhos verdes sorriu, e com os dedos entrelaçados ao de sua nova amiga, respondeu o que sempre costumava responder:
- Bem Abuelo.
O italiano sorriu e mirou seus olhos simpáticos em Camila, mexendo em seus fios lisos e cheirosos.
- E seu pequena Camilita? Soube que agora são da mesma sala. - O homem dialogou, entregando o doce para as garotas, enquanto na espreita era observado por Clara e Sinuhe.
Aquela tarde seguiu tranquilamente, aos poucos a temperatura caía, o sol perdia a força, e as crianças deixavam o local ao lado de seus pais, dando espaço para que a noite de verão entrasse em cena, com um céu estrelado e um clima fresco, que lotava os barzinhos latinhos locais.
- Então você é pianista? - Sinu perguntou surpresa, concentrada em cortar os cubos de carne presentes no prato de Camila e Lauren com agilidade.
- O melhor que eu já vi! - Se intrometeu de forma juvenil a pequena Lauren. - Ele é muuuito bom. - A garotinha de olhos verdes sorriu largamente, e por outro lado, Carlos ficou tímido com o elogio da Neta.
- Não exagere Bella. O Abuelo apenas tenta tocar bem.
Clara entrou na cozinha ao lado de Alejandro Cabello, carregavam cada um uma garrafa de vinho para os adultos, e uma garrafa de refrigerante para as crianças.
- Não seja modesto Carlos Cesare Jauregui. - Retrucou a filha do pianista. - Você é bom no que faz, e se não fosse pela segunda guerra mundial, com certeza estaria entre os melhores pianistas de todos os tempos.
- Você está tentando me mimar Clara. - O homem resmungou divertido, abrindo a garrafa de vinho. - Mas quer saber de uma coisa? Está conseguindo. - Completou divertido despejando o líquido vermelho no copo.
E em questão de segundos a sala fora preenchida pela risada de todos, em cumplicidade e amizade.
- Afinal, não são só as mulheres que merecem mimos, nós merecemos não é mesmo grande Carlos? - Alejandro, pai de Camila, pronunciou-se de forma divertida. - Proponho um brinde. - O homem ergueu sua taça.
- Em nome de que mi amor? - Perguntou Sinuhe, terminado de encher sua taça pela metade.
- Oras. Em nome dessa família linda que acabamos de formar. - Exclamou Carlos erguendo também sua taça. - Um brinde aos Cabellos e aos Jaureguis.
- Um brinde. - Responderam todos em tom de felicidade.
Um brinde ao que estava por vir, um brinde ao destino.
Um brinde aos Cabellos e aos Jaureguis.
- Agora é hora das mocinhas dormirem. - Clara entrou no quarto com uma Lauren embrulhada em uma toalha das princesas, os fios negros e com leves ondulações estavam molhados pelo banho recente, e suas bochechas coradas de forma adorável.
- Mãe. - A garotinha fez bico após ser colocada na cama.
- Você não quer que a Camila durma conosco essa noite? - A matriarca falou amenoa, escolhendo uma roupa no guarda-roupa de madeira velho, não levavam uma vida de luxo assim como a maioria dos cubanos, mas também não levavam uma vida de desconforto, em vista do que os pais de Clara passaram há anos atrás, quando a Itália e o resto do mundo ainda estavam apreensivos por conta da segunda guerra. Foi um período triste, onde Carlos viu sua amada dar a luz a uma pequena de olhos verdes, e partir logo após, não sendo forte o suficiente para lutar pela vida.
Sinuhe, que nesse momento penteava os cabelos castanhos escuros de Camila, olhou para a interação entre Clara e Lauren, achando a cena engraçada.
- Eu quero. - O bico da garota desmanchou-se. - Mas não estou com soninho... - Bocejou.
Clara cerrou os olhos, enquanto vestia a garotinha com seu pijama.
- Nada de fazer xixi na cama certo? - Falou brincalhona, levando a pequena a corar e tampar o rosto gordinho com suas pequenas mãos. - Oh meu bebê. - Riu enchendo a garotinha de beijos.
Assim que as pequenas garotas estavam arrumadas na cama de Lauren, Sinuhe e Clara mantiveram-se ali, contando histórias, conversando, e claro, jurando com todos os dedos possíveis que logo menos voltariam ao parque.
No final das contas não demorou muito para que elas adormecessem.
Não demorou muito para que o tempo passasse.
E que os problemas viessem.
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Havana •Camren•
Fanfiction"Ah o destino.. Aquele que te abre portas, Aquele convida-te para um chá, Aquele que conquista sua confiança E de forma cruel apunhala-te pelas costas. Sorri com seu sofrimento. Saboreia das tuas lágrimas. Ah, meu caro Destino. Por que tão cruel...