14 - Não Esqueça, Supere. |Agosto, 2011.

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Agosto - 2011.

Os livros empoeirados, esquecidos pelo tempo ou simplesmente por estarem velho de mais, ao ver de Lauren refletia exatamente como funcionava a vida humana. Você usufrui de uma coisa enquanto ela serve, enquanto ela faz sucesso, mas depois que isso acaba, essa coisa é jogada no esquecimento de forma fria e ali ela pega poeira, passa a ser considerada ridícula, apenas memórias das quais ninguém se lembra.

- A vida é estranha. - Acabou por constatar em voz alta enquanto tirava pó dos livros.

- O que? - Perguntou Ally confusa, atraindo então a atenção de Ethan também.

- A vida, ela é confusa, em um momento algo ou uma pessoa é muito importante para você, mas depois ela caí no esquecimento, e viram apenas memórias das quais ou você ama lembrar ou almeja com todas as forças esquecer.

Ethan colocou o livro já limpo no lugar, e virou-se completamente para Lauren, pensativo.

- De fato, isso é... Curioso.

A de olhos verdes negou.

- Não Ethan, isso é egoísta. - Colocou o livro no lugar de forma irritada. - Não podemos simplesmente esquecer das coisas como se fosse algo insignificante, mesmo depois de nos fazer feliz. Quer dizer, isso é justo? - Rebateu.

O garoto de olhos azuis voltou seu olhar para a grande estante de livros da bliblioteca.

- Acho que está falando do próprio passado, do próprio nariz.

A garota se calou por segundos, baqueada com a resposta.

- Não estou me referindo a aquilo. - Retrucou. -  Eu só nao acho justo que

- Que ela te esqueça. - Completou sério, novamente voltando seu olhar para a garota de olhos verdes. - Você tem medo de ter sido esquecida pela garota que era completamente apaixonada, é isso. Medo. Lauren você precisa parar de enxergar o mundo pelo lado pessimista, precisa parar de ser sempre tão desconfiante em relação a si mesma.

Allyson, que estava perdida em meio a conversa, apenas ergueu as sobrancelhas, continuando focada em fazer seu trabalho, deixando que os dois continuassem a discutir.

- Já se passaram três anos, você está prestes a se formar, é uma garota linda, até quando vai se prender a memorias do passado? - continuou sério. - Não digo para que deixe que ela caía no esquecimento, mas saiba controlar a dor da perda, supere-a, porque se não você não vai progredir, vai sempre ficar parada no lugar, sendo consumida por essa dor. - Apontou para o peito da amiga, que a essa altura sentiam as palavras de Ethan cortantes em seu ouvido, verdadeiras. - Vendo o tempo passar pela janela, enquanto toma seu café meio amargo, e quando estiver velha, vai se arrepender de não ter vivido, vai se arrepender de não ter aproveitado a chance que a vida lhe deu ao vir para Zurique.

Porque de fato era verdade, ela não deveria esquecer Camila, mas deveria supera-la, era preciso supera-la para seguir em frente, era preciso parar de se privar de novas sensações.

Era preciso crescer.

- Me desculpe se fui rude hoje mais cedo. - O garoto falou, atento em dirigir o carro.

- Está tudo bem, você tem razão. - A garota murmurou encarando a janela,  era agosto, e a chuva tomava conta da cidade naquele dia.

O silencio tomou conta do ambiente, constrangedor. Não podia negar estar machucada com as palavras do rapaz, mas também não podia julga-lo quando o mesmo estava completamente certo.

Afinal, a verdade dói não é mesmo?

Após chegar em seu apartamento, sentiu o cheiro maravilhoso do molho invadir seu olfato, suspirou.

Ela amava Allyson.

- Eu saí da livraria junto com vocês, fui na casa do Troy, e ainda consegui chegar aqui antes de você? - A loira entrou na sala vestida por um avental e colocou as mãos na cintura, desconfiada.

- Ethan e eu passamos no mercado, ele precisava de algumas coisas e me ofereceu carona. - Deu de ombros.

- Certo, agora me conte, o que foi aquilo entre vocês dois na livraria? - Questinou curiosa e também preocupada. - De que garota falavam? - Completou perdida, enquanto se sentava no sofá

A garota de olhos verdes engoliu em seco, pensar na possibilidade de falar sobre Camila era uma espécie de obstáculo que dificultava sua superação em relação a mesma.

- Ela era minha melhor amiga na infância. - Sentou-se no sofá pequeno e aconchegante. - Ela foi.. O meu céu e o meu inferno - Sorriu triste.

A loira mordeu o lábio inferior, surpresa pelas palavras da outra. Lauren sempre fora o tipo de pessoa tímida e fechada, qual você demorava algum tempo para que conseguisse arrancar mais do que algumas frases da garota, portanto a violinista nunca conseguiu realmente descobrir algo relevante sobre a garota, a não ser que era cubana e que seu falecido avô era sua fonte de inspiração para se tornar música.

- Nós vivemos uma infância feliz, éramos o duo mais inseparável de Havana. - Contou nostálgica. - Tudo que fazíamos, faziamos juntas, nunca tivemos uma briga durante nossa amizade. Mas ai nos apaixonamos e foi algo que fluiu calmo, sereno, sem pressa, sem todo aquele drama de 'Oh meu deus, estou apaixonada por minha melhor amiga, e agora?' Isso não existiu, nós apenas seguimos os nossos corações, nos amamos, intensamente. - Abaixou a cabeça, evitando assim que a loira visse seus olhos marejados. - Mas nós tínhamos que procurar uma faculdade, e estávamos crentes de que iríamos cursar algo juntos, mas isso não aconteceu, nós fomos imaturas e não soubemos lidar com esse baque, brigamos um dia antes dela ir embora, e o final? Ela partiu no dia seguinte sem dizer adeus, sem pedir desculpas. Foram quinze anos jogados no lixo.

A loira abriu e fechou os lábios, realmente indecisa sobre o que dizer e como dizer, era possível sentir a dor imensa que Lauren sentia, e se colocava no lugar, ela havia viajado para Zurique com uma história inacabada, história essa que hoje faz muita falta.

- Eu sinto muito. - A loira se aproximou da cubana de olhos verdes.

Lauren soluçou, deixando que mais lágrimas caíssem. Era insuportável lembrar com detalhes daquele dia, dos gritos, das ofensas, da falta de maturidade, do egoísmo estúpido.

- Nós fomos tão burras. - a voz saiu entre cortada, arrependida.

- Tinha que ser. - A loira sussurrou puxando-a para um abraço. - Tinha de ser assim Lauren, sempre há algo bom por trás das pequenas coisas, e tudo ter acabado como acabou teve um proposito, e ele com certeza era te deixar mais forte, porque pelo que vejo, você era muito dependente dessa garota. - Observou.

A garota de cabelos negros continuou em silêncio, ela queria acreditar que aquilo tinha um proposito, mas não conseguia enxergar uma luz no fim do túnel, sabia que estava sendo fraca, sabia que era fraca desde a partida de Carlos e sabia que isso era errado, mas não conseguiu progredir nesse sentido, algo não deixava.

- É tão difícil. - Soluçou. - A vida é tão difícil. - Murmurou, agarrando-se ainda mais nos braços da loira.

- Eu sei Laur. - Acariciou-lhe os fios escuros com a ponta dos dedos. - Mas precisamos vencer os obstáculos, você tem um futuro na música muito brilhante, não deixe que ele escape por suas mãos.

A garota de olhos verdes respirou fundo, soltando-se da amiga, decidindo que já era hora de parar de sofrer, que Ethan tinha razão, e que tinha de seguir em frente, caminhando.

- Eu não vou deixar que essa oportunidade escape Ally - limpou as lágrimas. - Eu prometo.

E ela não deixou.

Havana •Camren•Onde histórias criam vida. Descubra agora