29 - O Barco e o Mar/Incoerência.

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O desejo embrigava o corpo de ambas as mulheres, que seguiram afoitas em busca do cômodo mais próximo.

No chão da sala, deitaram-se juntas, deixando que toda a vontade mais carnal pudesse ser exposta, violada, saciada.

A inocência tão pura de duas adolescentes já não estavam lá. E naquele instante, eram duas mulheres brigando para chegar ao mesmo lugar, ofegantes, exautas. Deleitadas de uma situação íntima e imprudente aos olhos dos mais ignorantes.

Os lábios fervorosos tinham uma batalha de poder particular, deixando que as línguas se entrelaçassem num ritmo envolvente, mesquinho e egoísta.

As mãos passeavam pelo corpo, explorando novas estradas, deixando que novas curvas a fizessem tropeçar, gemer e sorrir enquanto caíam mais uma vez na graça uma da outra.

Os olhos castanhos devoravam os verdes de uma forma exigente, insana, como se tentasse gravar os máximos de detalhes possíveis.

- Por que me desestabiliza desse jeito? - Sussurrou a mulher de olhos verdes analisando o corpo da mulher - Por que me torna tão baixa quanto você - envolveu o mamilo rígido com sua boca. - Por que me faz sentir algo do qual nem mesmo eu sei?

Camila pendeu o rosto para trás enquanto sentia a carícia em sua área erógena. Deixando que a saliva dos labios da mais velha servissem como gasolina para a chama que se alastrava pudesse enfim tornar-se num fervoroso incêndio.

Sentiu o choque do chão gelado entrar em conflito com sua pele. Numa incoerência sem fim. Como se estivesse prestes a se jogar numa tempestade violenta e selvagem com seu barquinho de papel.

- Você é tão pecadora quanto eu Lauren - sussurrou invertendo as posições - E enquanto cavalgo em cima de você, vai perceber que pecar é algo tão interessante. - Completou enquanto passava a língua pelos lábios rosados, para logo em seguida iniciar um beijo cheio de fome e maldade.

Naquele momento, a latina lutava para extrair de Lauren o mais intenso. Ela queria sentir o cheiro da pele suada, queria observar as bochechas coradas, ver os olhos verdes quase negros pela adrenalina.

Ela queria levar consigo a imagem mais humana e íntima de Lauren.

Prendeu as mechas acastanhadas num coque frouxo e distribuiu beijos lentos pelo corpo pálido, aproveitando de cada centímetro, cada espasmo, cada suspiro.

Sugou o clitóris rosados numa lentidão recheada de vontade, gula, como se esperasse por isso há anos.

A voz rouca ecoou de forma discreta pelo apartamento, levando Camila a sorrir e não parar com o estimulo, ela queria ver o extremo de Lauren, ela desejava ver Lauren plenamente humana, mesmo que ela mesma não conseguisse atingir tal objetivo.

Sentiu as unhas se perderem na imensidão castanha de seus cabelos.  Puxando de forma desesperada, intensa.

O mar esverdeado tinha ondas gigantescas, que a desestabilizavam como numa tempestade selvagem cheia de curvas e sensualidade.

Camila remava por cada metro buscando afundar-se cada vez mais naquele água profunda, cristalina e cheia de um sentimento único que contrastava com sua capacidade apática em sentir alguma coisa.

Assim que pode reconectar seus olhos aos de Lauren, observava e sentia o peito subir e descer avidamente. A hipnose era tanta que ela pudia jurar escutar o som intenso de seu coração.

Beijou a cubana de olhos verdes e deixou que dali em diante ela pudesse ter seu momento de domínio. Afinal, o mar dita o caminho do barco, e a teimosia do barco o faz chegar aonde almeja.

Ou o faz afundar miseravelmente em suas águas.

Sentir os lábios carnudos da Jauregui por seu corpo sensível a fazia delirar. Camila se sentia cada vez mais dominada e entorpecida por aquela situação.

E enquanto chegavam ao ápice juntas, sentindo aquela explosão tempestuosa de sentimentos tão intensos. Perceberam a conexão que sempre teriam uma com a outra.
Afinal, um barco naufragado sempre fará parte do mar qual fora engolido por completo.

E horas depois do ocorrido, ao observar o corpo pálido adormecido no tapete de sua sala. Camila percebeu que tal imagem lhe trazia a tona a nostalgia incoerente de algo que jamais acontecera. O cheiro de whisky era forte no ambiente, mas nada lhe tirava da cabeça o perfume adocicado dos cabelos negros.

Sentada na cadeira, e pendendo o copo preenchido com o destilado para lá e para cá, ouvia o barulho dos ponteiros do relógio funcionando como um complemento para a música baixa que tocava no rádio.

Com o celular em mãos, digitava no bloco de notas tudo o que poderia vir em mente. Na tentativa de sentir-se menos covarde, menos cruel com todos a sua volta. Uma exposição silenciosa do que ainda lhe restava de humanidade, ou algo equivalente a tal palavra.



E a camisa de botões em seu corpo com aquele perfume tão peculiar, lhe obrigava a agarrar-se em lembranças. Na esperança de que pudesse levar junto de si a memória mais viva de Lauren Jauregui. Porque ela, Camila Cabello: a artista promissora e famosa pela intensidade em suas pinturas, ironicamente já estava morta há muito tempo.

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