20 - |Dezembro, 2014.

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Dezembro - 2014.

As crianças corriam pelas ruas e a gritaria servia como música para os ouvidos da pianista de olhos verdes.

O sol no horizonte, já dava um aspecto alaranjado no céu, a noite se aproximava, e com ela a véspera de um novo ciclo também. Faltavam dois dias para o ano novo.

Observar os sorrisos, a baixa estatura e a inocência daqueles pequenos seres, lhe dava paz. Era como voltar ao passado, quando por muitas vezes jogava bola na rua com Carlos.

- Presumo que esteja faminta. - O timbre familiar e abafado pelo som das vozes infantis, soou como um despertador natural, tirando-a dos próprios devaneios.

Os olhos verdes encontraram os castanhos encarando-lhe de forma leviana, o ar imponente se fora junto da maquiagem e do vestido caro que trajava há um dia atrás no cemitério. Ali a sua frente estava apenas uma mulher latina, com um par de olhos castanhos  ilegíveis.

Uma bela latina.

Pensou automaticamente, mordendo o lábio inferior por tal pensamento. Não tinham nada mais uma com a outra, mas era impossível fechar os olhos para tamanha beleza, para as curvas, o olhar cheio de força.

- Um pouco. - Confessou, mantendo um tom ameno na voz.

O clima entre ambas estava estranho. Mas não era um estranho ruim. Era um sentimento incômodo. Conheciam uma a outra tão bem quando adolescentes, e hoje, comportavam-se como estranhas.

- Venha. Vou fazer alguma coisa. - E antes de ser contestada, caminhou novamente em direção a residência dos Jauregui's.

Um suspiro escapou pelos lábios da mais velha, e sem escolhas, seguiu os passos da artista plástica.

O silêncio predominava em todos os cômodos. A casa estava vazia naquela tarde, Sinu e Clara estavam em uma feira de flores e não voltariam tão cedo.

Na cozinha, Camila cozinhava algo na panela cheia de água, o olhar seguia oco, sem algum tipo de pista que denunciasse o seu estado emocional. Lauren encostou o ombro na parede, parando na entrada da cozinha.

Sentia que a latina havia desmoronado ao perder Alejandro, e sentia que a mesma havia transformado toda essa dor em muros, muros gigantes que impediam pessoas de se aproximarem. E aquilo aguçava a sua curiosidade perigosamente.

- Como passou os últimos anos? - Perguntou com cautela.

A Cabello tampou a panela e maneou a cabeça, fitando o olhar esmeralda agora com intensidade.

- Você se importa? - Perguntou calmamente.

- Não quero jogar, portanto não venha com respostas irônicas. - A Jauregui riu pelo nariz. - Se eu não ligasse, teria lhe poupado da pergunta. - Aproximou-se, levando a latina a recoar dois passos - Eu disse que não te amo mais como antes e não que não me importo com você. - Completou firme. - Você um dia foi minha melhor amiga, a pessoa mais importante de minha vida, e não posso ignorar tal fato.

Camila surpreendeu-se com o ato da mais velha. O andar confiante, os ombros erguidos e o olhar sexy cheio firmeza fez sua barriga revirar.  Lauren de fato não era a mesma de seis anos atrás.

E praguejou-se mentalmente ao gostar da mudança.

- Isso quer dizer que ainda me ama? - A latina arqueou a sobrancelha, aproximando-se ainda mais da pianista. - Não me diga Jauregui. - Completou debochada.

A pianista sorriu, um sorriso lotado de falsidade. Os olhos verdes aos poucos eram tomados pela falta de paciência.

- Pare de ser cínica. - Segurou no pulso da mesma e ergueu sua mão, olhando para o anel caro e brilhante em seu dedo. - Não se trata de mim, se trata de nós. E quem está noiva aqui pelo que vejo é você. - Livrou-a do aperto. - Eu fui clara ao dizer que não me apaixonei por essa nova versão de Camila Cabello. Ou você perdeu a inteligência nos últimos anos? - Aproximou-se ainda mais. - O que a fez mudar tanto?

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