Capítulo 6

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   Kiara

Amanhã Christopher vem me buscar para sairmos, estou um pouco ansiosa, o que é estranho. Ele nem apareceu aqui depois de sexta, quando aceitei seu convite, o que é mais estranho ainda. Imagino que ele deva estar ocupado, sei lá, mas eu estou me preparando para esse encontro, ontem eu até sai comprar um vestido pra mim, pois não achei nada descente para sair, mesmo que seja pra sair com Chris uma única vez. Repito para mim mais uma vez, só amanhã depois tchauzinho para ele.

Estou trabalhando, hoje é domingo e tem muita gente não posso me distrair com esses pensamentos, mas são inevitáveis. Esse rapaz prendeu minha atenção de uma maneira diferente, mesmo eu não querendo me envolver, não sei se sou capaz de esquecer tudo e confiar em alguém, já aprendi a duras penas que só posso contar comigo e mais ninguém.

Estou atendendo as mesas quando entram dois homens, nem dou muita bola de primeira, pois isso é um restaurante, um lugar público só que sinto algo estranho, um arrepio percorre minha espinha e um tremor meu corpo, não compreendo tal reação até o momento que vou atendê-los.

São dois homens grandes e fortes, um maior que o outro. O maior tem uma barba grossa por quase todo o rosto, com olhos escuros quase pretos e feições fortes, o menor, uns dez centímetros que o outro, tem um rosto meio quadrado, com uma grande cicatriz até a metade da bochecha, olhos escuros também e uma enorme tatuagem em seu braço esquerdo, um tipo de pássaro vermelho surgindo do fogo, creio que seja uma fênix. Meu coração se acelera e quase perco o chão ao reconhecê-lo como o homem que parecia estar me perseguindo no beco que passo pra chegar até o trabalho uns dias atrás.

- Você está bem?- ouço uma voz grossa, percebo que o menor deles está me olhando de um jeito estranho- Você parece meio pálida.

- Estou bem - Falo num fio de voz e dou um meio sorriso tentando disfarçar, vai que estou enlouquecendo, e eles são apenas pessoas que passaram pelo mesmo beco que eu. Me animo com esse pensamento- O que vocês desejam?

Eles fazem silêncio por um segundo enquanto me encaram, desvio os olhos para minha caderneta quebrando o contato visual e logo em seguida eles pedem. A noite corre normalmente, porém mesmo muito tempo depois de eles terem ido embora fico com essa sensação, acho que meus sonhos estão me afetando, pois essa noite sonhei que estava sendo perseguida e por mais que eu corresse alguém me pegava.

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No fim do expediente Joe pede pra que eu fique e o ajude a arrumar já que hoje foi bem movimentado, ficando ainda mais tarde para ir embora, é quase meia noite. Após limpar tudo e ele me pagar, inclusive a hora extra que fiquei, vou para casa. Ele é um cara muito legal, sempre me ajuda como pode.

Atravesso a rua e vou em direção ao beco que me deixa perto da minha casa, um grande e escuro atalho. Começo a cantarolar uma música para espantar o medo que tenho ao passar por aqui, principalmente a essa hora da noite.

Aleluiaaaa.... Aleluiiaaa....

Poderoso é o Senhor nosso Deus.

Aleluiiaaa..... Aleluiiaaa

Saaaaantooo... Saaaanntooo

É o Senhor Deus podesoso.....

Paro de cantar ao perceber uma movimentação, olho para trás e não vejo nada, porém tenho a sensação de estar sendo observada. Ando mais um pouco e alguém aparece no meu campo de visão, não sei quem é, pois está muito escuro, mas estou com medo, não consigo ver sua aparência e parece que ele está olhando diretamente pra mim.

Acelero o passo e instintivamente me encolho, espremendo-me perto da parede. Vejo a silhueta de um homem se formando, ele anda cambaleante do outro lado da calçada, assim que ele passa por mim percebo que é apenas o bêbado que vive perambulando por aqui.

Suspiro aliviada e começo a rir de mim mesma e minha paranoia. Eu sei que boa parte dela é plausível, no entanto, por conta do meu passado vivo assim, receosa e com medo. Até um bêbado é capaz de me tirar à paz.

Tiro sarro do meu próprio susto bobo.

Quando estou perto do fim do beco, totalmente perdida em pensamento, sinto uma mão em meu ombro, estremeço. Braços fortes me agarram, tento gritar, mas o medo toma conta de mim, sinto o pavor subir por todo meu corpo paralisando cada pedacinho dele. Meu coração acelera ao ponto de ouvir as batidas dele forte e um zumbido no ouvido.

Não sou capaz de lutar contra quem quer que esteja aqui então me deixo ser agarrada contra minha vontade. Consigo ver o rosto de um dos homens da lanchonete e sinto mais medo ainda.

Ele me encontrou. Só pode ser ele

O desespero toma conta de mim, o que restou. Minhas vistas escurecem, começo a tremer de pânico, sinto eu estou perdendo a consciência e então vejo uma luz forte. Antes de desmaiar ouço uma voz conhecida. Não consigo falar nada, apenas apago.

Um Novo Amanhecer ( Concluído)Onde histórias criam vida. Descubra agora