Capítulo 28

322 28 12
                                    

   Kiara

Acordo mais tarde do que imaginava devido à viagem, mesmo que curta foi cansativa. Quando olho para fora vejo um lindo dia de sol, vou até a varanda e perco o fôlego com esse lugar maravilhoso, um lindo jardim com variadas espécies de flores de diversas cores se estende por metros, há um labirinto que leva até uma pequena fonte no centro, a esquerda um pomar com as mais variadas frutas, fico com água na boa só de pensar nelas. No meio das árvores tem um caminho aberto que leva até um deque e um lago se estende por toda a propriedade.

Como já disse, aqui é lindo.

Faço minha higiene matinal e desço saltitante até a cozinha para encontrar um Christopher vestido casualmente. Ele fica simplesmente perfeito com essas roupas. Um calção tactel preto e uma blusa rosa com gola V. Como eu disse, de tirar o fôlego.

-Bom dia princesa. – Seu bom humor é um bálsamo para mim, essa última semana foi pesada e senti falta do seu sorriso. Chris estava sempre deprimido, com ar cansado. A pressão de tudo que estava acontecendo na empresa refletia em cada mililitro do seu ser, mas aqui ele parece revigorado. Esse lugar trouxe seu sorriso de volta e eu gostei mais ainda daqui.

-Bom dia. - Devolvo sua animação. Não quero que ela vá embora de jeito nenhum.

-Estou planejando para nós um piquenique. - Vejo uma cesta em cima da bancada da cozinha, vou até ela e vejo vários pães, frutas, doces, suco.

-Isso é só para nós ou para uma frota de pedreiros?- Digo fazendo graça, mas sim, tinha muita comida, mais que o necessário.

-Haha engraçadinha. Vamos ficar para o café e almoço, voltaremos perto do anoitecer.

-Onde nós vamos? - fico muito curiosa, qualquer lugar nessa propriedade da pra fazer um lindo piquenique, mas pelo visto vamos longe.

-Logo você saberá. - Ele faz suspense. - Agora pega protetor, repelente e um chapéu para o sol.

Fui ao meu quarto ainda intrigada, peguei tudo que ele pediu e coloquei em uma bolsa, troquei de roupa, pois eu estava com um vestido azul claro, mas como vamos sair a algum lugar desconhecido optei por um look mais confortável, shorts jeans não muito curto e uma blusa xadrez.

Desço animada e ele me leva pela trilha que tinha nas árvores, ele está tão feliz que me contagia, parece um menino. Chegando o deque que eu vi hoje de manhã nos encaminhamos até uma casinha que não era vista do meu quarto, lá tem um tipo de lancha simples. Chris coloca as coisas lá dentro e entramos.

-Qual nosso destino? - Chris aponta para o norte. Nossa viagem dura alguns minutos até uma pequena ilha. Fico de boca aberta em saber que há uma ilha aqui.

-Esse lugar é para todos os proprietários ao redor do lago, tem uma linda cachoeira. Tá vendo aquela casinha ali? - Ele aponta para uma espécie de casa aberta, como um deque perto das árvores, um lugar lindo- Quando eu vinha com meus pais comíamos ali, tocávamos, cantávamos e brincávamos por horas. Era um tempo feliz.

Sorrio para ele enquanto ancoramos em um deque capaz de aportar vários barcos como esse. Aqui tem um tipo de praia de água doce, a areia é branca e macia.

-É de tirar o fôlego.

-Você nem viu a cachoeira ainda. -Ele me responde sorrindo.

Passamos algumas horas comendo, conversando sobre as lembranças que esse lugar trazia para o Chris e visitando diversos pontos desse pequeno paraíso. Estamos agora na tal cachoeira, suas águas são claras e transparentes, a queda da água deve dar uns 5 metros. Vê-se pedras de vários tamanhos espalhadas pelas laterais do pequeno riacho que se forma onde a água caí . Uma vista perfeita da natureza intocada pelo homem.

Estou muito a vontade com ele, me sinto em casa ao seu lado e isso é maravilhoso.

-Vamos mergulhar?

-O que? - Pergunto com medo, eu nunca nadei na minha vida, nunca fui a uma piscina ou cachoeira, pois não tinha amigas e nem podia sair de qualquer forma. -Eu não sei nadar. -Digo com um sorriso nervoso.

-Ah vamos, eu te ensino... - Chris me olha com divertimento. O que é tão engraçado?- Vai ser legal, vamos Ki.

-Não sei se é uma boa ideia. - Reluto dando passos para trás.

-Eu cuido de você! Vamos, confia em mim. -Seus olhos estão nos meus, suas mãos agora estão segurando firmemente as minhas.

-E... Eu não trouxe biquíni. - Arranjo mais uma desculpa para fazê-lo desistir.

- Eu trouxe para você- Diz tirando um biquíni rosa claro da cesta.

- Eu... Realmente não uso nada tão revelador assim. -Eu tenho vergonha de mim eu quis dizer, mas não consegui.

-Mas por quê? -Abaixo a cabeça e acredito que Chris entende, ele sempre entende o que eu tenho a dizer mesmo que não pronuncie uma única palavra.

Ele toca meu rosto suavemente, seu toque causa uma sensação de paz inexplicável. Com apenas um toque ele é capaz de me convencer a qualquer coisa.

-Mas estamos só nós aqui!

-Você não entende, as cicatrizes... - começo a choramingar baixinho.

-São partes de você que mostram a mulher extraordinária que você é, elas provam sua força em se levantar seja lá do que aconteceu com você. -Ele me interrompe e me deixa de olhos marejados, não sou forte, sou pequena e imunda, pelo menos era assim que me sentia antes de conhecer ele.

-Ok, mas se vira, por favor. - Ele obedece e vou atrás de uma das árvores e visto o biquíni, olho para as cicatrizes e me sinto feia, elas são lembranças constantes de dias muito escuros.

Respiro fundo criando coragem e saio de trás da árvore lentamente.

-Pode virar. - Me preparo para o susto, eu sei que ele já viu algumas cicatrizes, mas não todas, e não ao mesmo tempo. Não é uma visão muito bonita. Mas Chris me olha da mesma forma, há desejo e algo mais nesses olhos. Ele varre meu corpo prestando atenção em cada detalhe e me sinto analisada. Tento me esconder, mas ele não deixa.

-Ah Kiara, eu lamento por toda dor que você deve ter passado. -Diz tocando uma das cicatrizes que tenho na coxa. Ao invés de ficar tensa pelo toque tão íntimo me sinto em casa.

Ele começa a tocar cada uma das minhas cicatrizes, acariciando com ternura, coxas, barriga, as costas e pulsos. São toques suaves, mas em seus olhos há dor e raiva.

-O que aconteceu? -Ele pergunta num fio de voz, para si mesmo. Não sei como contar isso para ele, nunca falei nada para ninguém. Meu estômago embrulha, mas eu desejo falar a muito tempo, estar com Christopher tem sido a melhor coisa que aconteceu comigo e quero compartilhar tudo com ele, medos, experiências, minha vida. Sim eu estou apaixonada por ele e isso me assusta, sofri muito na mão de um homem que deveria me amar, como confiar novamente? Eu tinha pânico do toque masculino, mas Chris fez meus muros ruir e eu gostei do que me tornei ao seu lado, de quem sou com ele.

Decido que irei sim finalmente contar, abrir o jogo, o deixar fazer parte da minha vida por completo, só espero que ele não vá embora ou sinta nojo de mim. Eu sinto.

Respiro fundo e abro a boca algumas vezes criando coragem, não sei nem por onde começar. Ele ainda acaricia minhas cicatrizes, marcas deixadas por um monstro. Acho que ele não espera uma resposta, mas eu quero. Eu quero que ele saiba então falo de uma vez.

-Eu era espancada e estuprada diariamente pelo meu pai.

Um Novo Amanhecer ( Concluído)Onde histórias criam vida. Descubra agora