Capítulo 33

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Kiara

Meus olhos pesam, sinto uma dor horrível na cabeça. Tento me mexer, meus movimentos são letárgicos. Sinto um gosto amargo na boca. Abro os olhos com certa dificuldade, eles pesam, porém aos poucos me obedecem. Mesmo com a visão um pouco embaçada percebo que estou em um lugar desconhecido.

Um teto branco feito de gesso é a primeira coisa que eu vejo. Com esforço me levanto e percebo que estou em um quarto com papéis de parede e cores neutras. A cama em que estou deitada é extremamente macia, a minha esquerda vejo um criado mudo branco com um belo abajur. Um pequeno guarda-roupa se encontra no canto do cômodo. Ao longo de todo o quarto há alguns quadros com pinturas conhecidas. Do lado direito vejo uma porta branca.

Estranho o lugar bem arrumado. Aparenta ser uma casa de alguém bem de vida. Aquele homem que se diz meu pai tem posses, mas não para uma casa como essa.

Confesso que esperei acordar em um lugar imundo, amarrada como um animal, recebendo alguma punição pela minha fuga. Mas por um motivo estranho estou bem. Sem dores ou hematomas.

Será que o Chris me salvou?

Penso com certo animo, até lembrar as coisas que soube recentemente.

Ele não vai te salvar sua burra, é por causa dele que você está aqui.

Constato com tristeza. A dor da traição ganha espaço e sinto muita raiva. De todas as dores que eu já senti, de todos os horrores que já passei, todas as barbaridades a que fui submetida, ser traída por ele foi a que mais doeu, pois me quebrou de formas impossíveis de ser recuperadas.

Repentinamente alguém entra no quarto sem aviso prévio. Pedro abre sua boca em um sorriso macabro ao constatar meu estado, me sinto morta por dentro, uma morta viva e isso é visível em meu semblante. Ao que parece trata-se de algo que o diverte. Ver meu estado deplorável trás uma satisfação á seu olhar já macabro.

-Bom dia querida!- Ele vem até minha cama e diz com voz doce. Me afasto de sua tentativa de me tocar e isso o enfurece. Com um olhar ele acena ao brutamonte que entrou depois dele para me segurar e então com lentidão faz um carinho em meu rosto. Sua pele é áspera de encontro com minha bochecha.

Sinto repulsa apenas, o medo que sempre me dominava por completo não tem mais um efeito tão poderoso em mim. Ele ainda está presente, porém eu o domino e não mais ao contrário. O sorriso macabro de Pedro aumenta ao constatar minha súbita coragem.

- O que você vai fazer comigo?- Pergunto e o sorriso não abandona seu rosto. A resposta não vem. Com um sinal o capanga que me segurava me solta e sai do quarto, fechando a porta atrás de si. Pedro continua em silencio e sua outra mão se aproxima. Com rapidez o afasto de mim sentindo mais coragem a cada minuto.

- Você está mais corajosa minha ratinha!- Diz ao pegar minhas mãos. Com força desnecessária aperta meus pulsos.- Isso me lembra as primeiras vezes que nos divertimos, você era valente. Foi difícil dobrar você, mas foi delicioso. Vou adorar fazer de novo.

Ele beija meu rosto, sem deixar o sorriso nojento sumir. Sinto náuseas. As lembranças vêm à mente e sinto medo. Não quero viver nada daquilo novamente, e não vou esperar por um príncipe encantado em cavalo branco surgir e me salvar então decido agir. De forma desajeitada dou um chute nele, salto da cama e começo a correr, mas esse projeto de monstro disfarçado de pai me agarra pela cintura. Apesar da gordura ele é ágil.

Me debato tentando desesperadamente me livrar de seu aperto. Ele me joga sem cerimônia em cima da cama e gargalha alto enquanto grito xingamentos e pedidos de ajuda. Em um minuto ele está sobre mim. Com força segura minhas mãos acima da minha cabeça com uma mão e com a outra me da um tapa na cara. Levo um susto com o ataque.

Um Novo Amanhecer ( Concluído)Onde histórias criam vida. Descubra agora