Christopher
Ontem foi um dia bem cheio, muitas coisas aconteceram. Descobri sobre o Everaldo, chorei para a Kiara e eu nunca choro, mas as coisas estavam me sufocando, eu me sentia pesado e precisava desabafar. Ai veio o quase beijo.
Ah como eu desejo esse beijo.
Nunca esperei por garota nenhuma, ou ficava comigo ou partia para outra. Mas a Kiara é diferente. Ela é especial. E quando desabafou um pouco comigo, quando ela me contou sobre si, me senti importante. Ela é tão fechada, não fala sobre o que aconteceu em sua vida, então qualquer informação que ela me fornece é uma vitória, me faz sentir digno.
Após o café da manhã vou para a empresa. Foi agradável e reconfortante estar com a Kiara, ela me deu coragem para seguir de cabeça erguida. Vou contar tudo ao meu pai e apresentar o que tenho.
Confesso que tenho medo de sua reação. Meu pai é advogando desde os 23 anos, precisa de provas para tudo e bem, nossa relação não é das melhores. No entanto não vou desistir, com as faturas dos últimos dois anos é visível que algo está errado e se mesmo assim ele não acreditar em mim vou investigar sozinho, preciso salvar essa empresa.
Já no meu escritório reuni tudo que eu tinha, após alguns minutos tomando coragem me dirijo até o escritório do meu pai. Sua assistente não estava em sua mesa como de costume então bato na porta levemente, ouço a voz do meu pai me mandando entrar. Ele esta sentado em sua imponente cadeira revisando alguns papeis para Enrico, ambos me olham no momento em que atravesso a porta, Enrico me da um pequeno sorriso juntamente com um aceno de cabeça para me cumprimentar enquanto meu pai apenas eleva seus olhos até mim.
- O que você precisa?- Diz ele secamente, como de costume e contenho uma imensa vontade de revirar os olhos e ser o mais sarcástico possível, essa situação exige seriedade e bem, não quero que seu Richard esteja bravo quando eu lhe contar tudo que preciso, pelo menos não comigo.
- Preciso conversar com você- Digo de uma vez.
- Pode falar- Olho para Enrico por um instante avaliando se posso ou não contar o que preciso em sua frente. Penso na desconfiança que eu tinha com todos os funcionários o que é arrasador e lembro-me do tio Everaldo, na tristeza que é saber que ele é um traidor. Mas os outros são amigos? Estão do nosso lado ou apenas esperando a oportunidade de fazer o mesmo? Podem até mesmo serem cúmplices dele! Penso em todas as vezes que Enrico me ajudou, no apoio que da para meu pai, ele teria muito a perder se nos traísse, pois é praticamente vice dessa empresa, ele sempre foi fiel e faz seu trabalho com excelência, tanto que perdeu a família por só trabalhar. Ele vive para essa empresa e não faria nada disso- O que você quer Christopher?- Meu pai me pergunta impaciente e decido que é seguro. Fecho a porta e coloca os papéis em sua mesa. Ele arqueia a sobrancelha e me olha interrogativo, porém os pega para analisar.
- São nossas finanças?- Ele diz confuso.
- Sim. Dos últimos dois anos. - Digo e tomo coragem- Estamos sendo roubados.
Solto de uma única vez e vejo o rosto de Enrico empalidecer, seus movimentos sempre concisos desaparecem e ele desaba na cadeira ao seu lado.
- Co... Como? Quem faria algo assim?- Gagueja tio Enrico, mas não o respondo de imediato pois ao olhar para meu pai a um toque avaliativo em seu olhar, como se ele duvidasse.
- Exato Christopher, quem faria isso conosco?- Me contenho novamente para não revirar os olhos, eu sabia que não seria fácil. Meu pai é tudo menos fácil.
- Está tudo aí, nos registros... Nossa empresa esta indo de mal a pior, nos últimos dois anos decaiu de forma drástica. Nossas dividas aumentaram e nossos lucros despencaram, mas não foi só isso, esses documentos que estão em suas mãos mostram uma retirada semanal bem significativa que vem colocando essa empresa na lama. As despesas precisaram ser tiradas da nossa conta pessoal por causa dessas retiradas que alguém da nossa empresa tem feito.
- Como você descobriu isso? - Tio Enrico pergunta.
- Eu me encontrei com um ex-colega que me falou de suas suspeitas e devo admitir que não acreditei na hora, achei um absurdo, mas como eu nunca me dediquei muito a essa empresa por motivos que não é necessário citar. - Digo olhando para meu pai e vejo um leve arquear de sobrancelhas- Bem, decidi verificar e ele estava certo. Vejo o senhor mesmo.
Ainda atônito seu Richard pega as faturas e começa analisa-las minuciosamente, mesmo eu percebendo que seus dedos tremem levemente e sua recusa em querer acreditar. Após alguns incontáveis torturantes minutos ele me olha espantado.
- Você está certo!- Ele diz olhando para o nada e começo a me preocupar. - Você sabe quem está fazendo isso?- Abaixo os olhos, agora vem a pior parte. Sei que ele ficará arrasado, mais do que eu e sinceramente não sei como ele vai superar uma traição assim, eu ainda tenho a Kiara para cuidar, para pensar. Ele só tem essa empresa e seus funcionários que são uma família para ele, mais próximos que a sua própria.
- Sim. - Suspiro tentando enrolar o máximo possível. Seus olhar inquietante está sobre mim e vejo certa ânsia em seus olhos, ele está perdido, mas quer saber quem tem feito isso com ele.- Foi o tio Everaldo.
- Mas o que? Como você sabe?- Tio Enrico se manifesta visto que meu pai esta sem reação.
- Calma, eu vinha investigando secretamente desde que vi essas faturas. Isso já faz alguns dias. E por acaso ouvi uma conversa dele ao telefone depois do horário, todos já tinham ido embora e eu passei pelo corredor, ouvi vozes e fui ver ai ouvi. - Conforme eu ia relatando o que tio Everaldo falou ao telefone e como me senti meu pai ia mudando de pálido para vermelho. Vi sua visão se turvar e a raiva lhe invadir, mas não era capaz de esconder a magoa presente em seus olhos. Pela primeira vez vi meu pai perdido como um menininho.
- E com quem ele falava? - Meu pai pergunta entre dentes.
- Eu não faço ideia. Saí de lá antes que ele pudesse me ver.
- EU VOU MATAR ELE - Seu Richard levanta abruptamente da cadeira, seu rosto vermelho e olhar assassino, ele caminha até a porta em passos decididos e eu o paro no meio do caminho.
- Não é uma boa ideia.
- Sai da minha frente Christopher!- ele grita alterado.
-NÃO! Me escuta, você não vai ataca-lo porque você precisa reerguer essa empresa e isso não vai acontecer se estiver preso. E ele não esta só, precisamos sigilo para saber com quem ele esta trabalhando. - o vejo vacilar e aproveito a deixa- Você precisa ser racional pai. Vamos denuncia-lo, pessoas preparadas vão investiga-lo e saber com quem ele esta trabalhando. - Ele me olha e assente em concordância.
- Ok, as coisas serão do seu jeito. - Diz contrariado. Ele vai até sua mesa, abre uma gaveta e tira de lá uma garrafa de Whisky, toma no gargalo mesmo. Saio da sala para ir denunciar o que vem acontecendo e vejo meu pai perdido. Espero que ele consiga superar essa.
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Um Novo Amanhecer ( Concluído)
RomanceKiara, uma garçonete aparentemente frágil, esconde uma força interior incomparável, apesar das cicatrizes profundas do passado. Christopher, filho de um empresário quase falido, é um conquistador barato que tem o mundo aos seus pés. Uma proposta inu...