Capítulo 14

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   Kiara

Abro lentamente os olhos, faz muito tempo que não durmo bem, apesar de algumas pequenas dores no pescoço. Ao olhar para meu "travesseiro" dou de cara com um peitoral lindo e bem definido, fico sem fôlego por alguns momentos ao ver Chris dormindo tranquilamente abraçado a mim.

Levanto rapidamente, apesar do leve tremor me sinto confortável perto dele. Ainda assim tenho medo. Ele acorda assustado e me sinto culpada, não era meu objetivo acorda-lo, mas foi um ato impulsivo. Ele parece meio desnorteado por uns minutos, olha ao redor parecendo estar se localizando e seu rosto forma uma expressão de entendimento enquanto ele olha diretamente pra mim preocupado, fico vermelha.

- Você está bem?- ele pergunta olhando diretamente pra mim e me perco na imensidão azul, vejo um brilho diferente ali e meu coração parece falhar uma batida. Respiro bem devagar.

- Estou sim - respondo desviando do seu olhar, coro novamente ao lembrar que tive mais um dos meus sonhos horríveis até ele me acordar e me acalmar, lembro que mencionei meu pai, eu falei sobre isso apenas com uma pessoa e não resultou em boa coisa. Bom, de qualquer forma ele nunca me deixou me aproximar muito das outras crianças, com certeza tinha medo que eu pudesse falar. Mas Chris não perguntou nada ontem, apenas me aninhou em seus braços e ali me senti segura como nunca antes, acabo me repreendo por tal sentimento.

Ao olhar pro Chris novamente ele está me fitando ainda, percebo que ele está esperando, talvez eu contar mais alguma coisas, só que não consigo, então abaixo a cabeça por um momento, como um ato de negação. Vejo um conflito em seus olhos, ele suspira e parece se dar por vencido, assim ele levanta da minha cama e vem até mim.

- Se você precisar de qualquer coisa você sabe que estou aqui, não é? - Ele pergunta quando está bem próximo de mim, assinto agradecia. Com isso ele me da um beijo na testa e vai em direção à porta e a fecha minutos antes de eu me jogar na cama morrendo de vergonha.

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Mais tarde, após um longo tempo trancada no meu quarto, lendo uns capítulos do livro novo, tomo um banho bem demorado e resolvo sair do meu quarto. Ando pelo corredor vagarosamente procurando pelo Chris.

O encontro sentado no sofá de costas para mim, olhando pensativo para o nada com um copo na mão, não sei o que é, apenas me aproximo lentamente e toco em seu ombro.

- Oi- Falo ainda constrangida.

- Oii, tudo bem com você?- Ele pergunta animado, me chamando para sentar ao seu lado.

- Estou bem - Digo sentando e logo percebo que o que ele está tomando é café. - Tem mais? -perguntei apontando para o café.

- Tem sim, quer com leite ou sem? - Ele pergunta já levantado para buscar. Peço leite e o observo na cozinha, é engraçado vê-lo lá, meio atrapalhado, fazendo piadas enquanto eu rio mais e mais.

- Você não vai trabalhar hoje?- Pergunto muito curiosa, devo admitir que imaginei que ele não estaria mais aqui e por isso saí do quarto.

- Os trabalhos de hoje podem ser feitos de forma remota, então decidi ficar em casa. - Responde e entrega o café em minhas mãos.

Solto um ah, um pouco envergonhada, mas estávamos em um clima tão gostoso que esse sentimento logo passa e ficamos algum tempo conversando ali mesmo. Mais tarde pedimos o almoço, o simples arroz com feijão, carne de boi em molho e salada de alface.

A tarde passou rápido, nós conversamos, rimos e nos divertimos bastante. Chris não voltou a tocar no assunto do pesadelo, eu agradeci mentalmente por isso, e acabei me distraindo. Nós fizemos até nosso jantar juntos o que rendeu mais gargalhadas, Christopher é definitivamente péssimo na cozinha apesar de ser um aluno aplicado. Fizemos arroz com batata amassada e carne frita.

Agora estamos na sua sala de música, ele está tocando pra mim. Ele já tocou seu violão, o saxofone e um pouco de guitarra. Ele toca com maestria e a cada nota fico encantada. Agora ele esta tocando Titanuim do David Guetta em seu violino e mais uma vez estou hipnotizada, ele toca com tanto amor e tanta entrega que consegue fazer o ouvinte viajar juntamente com ele.

- Uhu!- Grito e bato palmas assim que a melodia termina- Incrível, de novo né.

- Obrigado, mas não precisa exagerar também. A plateia que é muito querida... e linda- sorrio sem jeito, mas não posso impedir as borboletas no estômago.

- Deixa de ser galanteador.

- Galanteador? - Pergunta e explode em gargalhadas, ele fica lindo assim e não consigo evitar sorrir de volta- Em que século estamos?- Reviro os olhos.

- Só falta o piano heim, quero te ouvir toca-lo - O clima alegre se desfaz em um segundo. Ele abaixa os olhos e guarda o instrumento que está em suas mãos e não compreendo o que aconteceu.- O que foi? Eu disse alguma coisa errada?

- Não, tudo bem, é que... - Ele gagueja e engole em seco, baixando a cabeça tento interromper, mas ele continua - É uma história complicada, minha mãe tocava maravilhosamente bem, já te falei que o meu amor por música veio através dela, enquanto minha irmã prefere os negócios, irônico não? Ela tocava diversos instrumentos e antes de mim e minha irmã nascermos ela passou por diversos concertos como uma grande estrela, ela parou por causa do meu pai, mas sempre foi a luz na nossa casa, até morrer, então tudo ficou obscuro e pesado.

Ele para por um instante, vejo em seus olhos a dor. Mas Chris respira fundo e volta a falar enquanto eu presto atenção em cada palavra, percebo que mesmo com dor ele fala abertamente dela, isso parece fazer bem e o invejo.

- Ela tocava de tudo mesmo, mas seu instrumento preferido era o piano, quando estava tocando a beleza e perfeição das notas eram surpreendentes. - Ele para por um minuto e olha dentro dos meus olhos antes de falar- A última vez que eu toquei foi com ela dias antes de a perdermos. Desde então, nunca mais consegui tocar.

- Desculpe, não sabia disso. - Falo sinceramente.

- Tudo bem. Nunca falei sobre isso com ninguém sabe, mas é bom desabafar. A memória dela deve ser lembrada. - Ele sorri amarelo e devolvo seu sorriso em solidariedade- Não consigo tocar ainda esta bem? Mas prometo que você será a primeira a me ouvir.

Sorrio mais para ele. Vi hoje alguém muito forte e senti uma pontada de orgulho dele.

- Sem problemas, esperarei.

Nos encaramos por algum tempo, bem próximos. Tentando fugir daqueles olhos intensos, desvio os meus para o relógio em seu pulso.

-Vou dormir, já está tarde- me despeço dele e me surpreendo ao tomar a iniciativa e dar um beijo casto em sua bochecha, saio rapidamente.

- Boa noite Kiara- ele fala antes que eu saia da sala e volto a olhar para ele.

- Boa noite Christopher- murmuro e vou até meu quarto pensando em tudo que ele me contou, na confiança que teve em mim aponto de desabafar algo tão pessoal e dolorido.

Um Novo Amanhecer ( Concluído)Onde histórias criam vida. Descubra agora