Capítulo 4

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            Kiara

Acordo num susto, mais um pesadelo. A normalidade da minha vida. Reviro os olhos ao pensar. Levanto, faço minha higiene pessoal e sigo meu dia normalmente. Organizo minha casa e depois vou ler um pouco.

Os livros são algo fascinante pra mim, porque não se trata apensas do meu amor pela leitura, tem haver com a viagem, o mundo particular que crio, sem dor nem sofrimento, ali o amor existe e os homens são perfeitos cavaleiros, é por esse motivo que leio, por ser transcendental. E como sempre, escutando música também.

O tempo passa rápido e já é hora de ir trabalhar, me arrumo num piscar de olhos, uso um jeans surrado e uma camisa de manga comprida preta, pego meu casaco e vou. Moro em um dos pequenos bairros da cidade, não é lindo nem calmo, mas comparado aos outros ainda é considerado seguro.

Sigo por ruas estreitas e cheias de crianças brincando, sorrio com suas cantorias e vejo uma menininha de cabelos loiros bem finos, talvez com seus oito anos, brigando com outra, uma moreninha de cabelo enrolado porque a segunda "roubou" o namorado da primeira e me divirto com a inocência, não conhecem nada desse mundão ainda.

Vou me afastando e as ruas vão ficando desertas, a noite vem caindo deixando o ambiente mais escuro e um pouco assustador.

Para chegar ao trabalho preciso passar por uma rua escura e escondida entre dois prédios que dá bem na frente da lanchonete aí só preciso cruzar a rua, sempre passo rapidamente por aqui. Eu posso fazer a volta e passar pela rua central, onde é mais movimentado, o que diminuiria meu medo, contudo demora o dobro do tempo então faço esse caminho regularmente.

Calma kiara, é só uma rua, alguns metros já acaba.

Fico repetindo para me acalmar.

De repente por instinto olho pra trás e vejo dois homens grandes vindo em minha direção, olhando diretamente pra mim, não consigo ver o rosto, pois a rua é escura, vejo apenas uma grande tatuagem no braço de um deles, parece um pássaro saindo do fogo, sinto um arrepio e apresso o passo.

Sei que um beco escuro com dois homens assusta qualquer pessoa, só que para mim é mais intenso. Sei como um homem pode ser animalesco quando dominado por seus instintos mais primitivos, o que me faz desconfiar até da sombra de qualquer pessoa, principalmente do sexo masculino.

Logo saio da rua e chego em frente ao Queen, olho pra trás pra ver se tem alguém, mas não vejo nada, então tento ignorar e entro pronta pra mais um dia.

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Já estou trabalhando faz algum tempo, mas ainda tem uma sensação estranha, tento ignorar e prosseguir com o atendimento, ficar com essas coisas na cabeça só vai atrapalhar e não quero que o Joe me dê um sermão.

Estou atendendo quando alguém me cutuca, olho pra trás e vejo um Christopher sorridente, de novo, meu coração dispara e me repreendo instantaneamente.

- Oi, MINHA LINDA- Ele fala pausando a última parte porque sabe que eu não gosto- Tenho uma surpresa - Diz e me entrega uma rosa que estava escondida atrás das costas, branca com rosinha nas pontas das pétalas como uma progressão do branco pro rosa, simplesmente linda, olho para ele e reviro os olhos, não quero que ele perceba que eu gostei.

- Você de novo!- digo, mas pego a rosa. Ele tem vindo aqui desde aquele dia que disse que "me conquistaria", não com essas palavras, mas é igual, isso há duas semanas, todos os dias, me traz um presente e me convida pra sair.

- Sim - diz sorrindo- Então vamos sair hoje?

- Eu já te falei que não, porque você insiste?- pergunto já irritada.

- Porque você é linda e eu quero te conhecer melhor - diz simplesmente.

Reviro os olhos e o ignoro novamente. Mais uma vez ele senta em uma das mesas e pede algo para comer enquanto observa cada movimento meu. Guardo a rosa em meu jaleco e retorno ao meu trabalho.

Fico inquieta com seu olhar persistente. Deixo de lado as insistentes borboletas no estômago, isso me deixa mais irritada.

Vou até ao balcão pegar o prato do dito cujo, que vem perturbando meus dias.

- O garoto está ai novamente?- Joe pergunta sorrindo sugestivamente.

- Infelizmente, não sei o que fazer para ele desistir.

- Por que você não dá uma chance para o rapaz? Ele parece mesmo convencido a te conhecer melhor. – Meu chefe advoga em favor de Christopher e o repreendo com o olhar.

-Você sabe muito bem que não tenho interesse em nada no momento.

- Minha querida Kiara- Ele se aproxima um pouco de mim e pega minhas mãos nas suas, acariciando-as com ternura. Esse é o único toque que não me causa repulsa. - Você precisa dar uma chance a vida, deixa ela te mostrar as coisas boas que existem nesse mundo.- Olho para o belo rapaz sentando na mesa 5, absorto em uma conversa no celular, parece que sentindo meu olhar, levanta os olhos e me flagra o observando. Ele não fica acanhado, ao contrario abri aquele sorriso esmagador e me viro rapidamente para meu chefe, voltando minha atenção a ele.- Além do mais, se você aceitar, pode ser que ele pare.

Será que se eu aceitar ele me deixa em paz? Pergunto-me mentalemnte

-Isso faz sentido Joe, ele provavelmente não ouviu muitos nãos na vida e deve estar, sei lá, me vendo como um desafio e assim não larga do meu pé. Então é só aceitar, sair com ele uma vez e me livro dele.

Joe sorri para mim como se soubesse de algo que não sei, mas me dá força. Pego o pedido de Christopher e sigo até ele com passos decididos.

- Ok, vou sair com você só uma vez e depois você para com isso, combinado?- Ele se assusta um pouco com meu estupor repentino, porém fica feliz.

- Se você não quiser repetir - ele diz com um sorriso de lado e toda confiança que pode existir. Que ser irritante- Combinado, quando?

- Na segunda ganho folga, podemos nos encontrar aqui as 19hrs?

- Posso te buscar em casa se preferir.

- Não! Não precisa- digo rápido, não quero que ele saiba onde moro- Nos encontramos aqui, esta bem?

- Ok, conforme a majestade desejar- faz uma reverencia exagerada e sorri - Te pego às 19hrs aqui – Ele come todo seu pedido e vai embora todo bobo, sorrindo pra todos e cumprimentando as pessoas que passam, como se tivesse ganhado um troféu, que de certo modo é o que devo ser para ele.

Porque eu aceitei isso? Reviro os olhos com tal pensamento e volto a trabalhar.

Um Novo Amanhecer ( Concluído)Onde histórias criam vida. Descubra agora