I - Depois da fuga

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"O passado não reconhece o seu lugar: está sempre presente."
Mário Quintana

Cinco anos antes


Nesse dia, como os outros, acordei no fim da tarde e comecei a andar pela rua, suja, cabelos oleosos, exausta devido a dias sem um banho e então a vejo. Uma linda mulher, de longos cabelos loiros, grávida, dentro de uma loja de bebê. Ela sorria e alisava a barriga com ternura; olhava os berços, deduzi que era menina porque ela escolhia tudo rosa. Ver seu sorriso me causou inveja, tanta felicidade na vida dela e nenhuma na minha. Meu sonho de ter um filho com o homem que amo, ser feliz sob sua proteção, morreu. Sorri com lágrimas nos olhos vendo aquela cena e me assustei quando ela olhou para mim deixando de sorrir. Eu abaixo a cabeça, tentando fingir que não estava a observando. Dei as costas para a vitrine, mexi no cabelo, tentando disfarçar e fui surpreendida por uma doce voz atrás de mim.

- Olá... Sou Diana Maria. Qual o seu nome? - eu não acredito. Devo fugir? Talvez ela mande me prender pensando que eu sou uma louca, mas talvez, não. Na verdade sinto que ela é uma boa pessoa. Me viro para mirá-la.

- Inês... Inês Huerta... - Ela sorriu.

_ Inês... -como era bela! Parecia ter uma vida sem qualquer sofrimento. - Significa "Pura". Minha bisavó se chamava Inês e ela sempre me contava a história da Santa Agnes, também conhecida como Santa Inês. Uma grande mulher que foi humilhada e morta pela sociedade rude de sua época. - porque ela me diz isso? Limpo minhas lágrimas que rolam contra minha vontade. Ela toca minhas mãos, sujas e calejadas. - Eu vejo pureza em você, assim como sofrimento... - ficamos ali, olhando uma nos olhos da outra , até que ela sorriu e enxugou minhas lagrimas. - Inês, estou para ter minha segunda filha, ela se chamará Cassandra. Tenho outra, que se chama Diana como eu. Seja a babá de minhas pequenas! - Ela sorriu e eu fiquei de boca aberta. Era um anjo? Essa mulher era real?

- Como pode chamar uma desconhecida para ser a babá de suas filhas? Porque me dar tanta confiança?

- Você tem fé, Inês? - assenti com a cabeça, apesar de minha fé estar muito abalada.

- Sinto, talvez por parte de Deus ou algum ser divino, que posso confiar em você e que seremos grandes amigas. - ela me abraça mesmo em meu estado, suja e sem um banho a dias. Sorri como não fazia a muitos anos.

Subimos em uma caminhonete, o motorista me observou pelo retrovisor durante toda a viagem, era mal encarado e talvez estivesse receoso de uma estranha sendo levada para a fazenda por sua patroa.

- Então, me diga Inês. Você tem familiares? - retirei o olhar do motorista até ela.

- Não, sou órfã desde os 16 anos. - ela parou de rir e franziu o cenho de imediato.

- Como você vive desde então?

- Vivi de favor com uns conhecidos mas... - o motorista me incomodava. - Prefiro falar disso quando estivermos a sós. - sorri e ela retribuiu. Se ela estava me dando essa oportunidade confiaria a ela toda a minha dor.

Entendendo meu pedido, Diana Maria pegou o celular e ligou para alguém.

- Oi, é Diana Maria... Separe o quarto dos fundos o mais rápido possível... Sim... Coloque o necessário para a estadia de uma pessoa... E que seja rápido, estou a caminho, quero chegar e encontrar tudo pronto... OK... Até...

O resto do caminho foi em silêncio e não demorou muito para que se avistasse os portões de uma linda fazenda e rapidamente entramos na mansão, sem apresentações, nem palavras. As poucas pessoas que nos viram pararam me observando, no entanto Diana Maria me guiou direto para a grande sala, marcada na lateral por uma escada.

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