Prólogo

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Eu andava pela rua observando as pessoas, cada uma em sua ocupação, cada uma com sua vida.
Estava anoitecendo, Vênus, a famosa estrela vésper, não era mais a única no céu e as luzes da cidade começavam a acender, os carros iam e vinham sem parar e o ritmo da cidade diminuía com o crepúsculo. Eu andava sem destino pensando no complicado que é a vida, o amor, pensando em como o destino foi duro comigo, como me feriu e como me separou de quem amava.
Se eu nunca houvesse nascido, talvez fosse mais feliz. Viver no céu como um anjo não seria nada mal, pois pensar na vida que recebi; órfã, com marcas de um estupro na alma, a perca de um grande amor, de um filho, e a solidão, doíam tanto quanto o medo da morte. Por um bom tempo cogitei acabar com essa vida que sempre manchava a pouca alegria com toneladas de dor e tristeza, mas a minha fé me impede de fazer uma loucura.
Tantos anos velando um amor, sofrendo calada e sonhando com um recomeço ao mesmo tempo que tentava esquecer o passado, criou marcas em mim, mas também me deixou mais forte.
No entanto, tudo pesava demais.
Então, recordei o dia em que pensei que o mundo conspirava ao meu favor, que havia encontrado o amor da minha vida e que nada nos separaria, dia em que me senti a mulher mais feliz do mundo.

Flashback

Corríamos de mãos dadas enquanto a chuva engrossava, podíamos ouvir uma trovoada iniciando. Avistamos um celeiro e Victoriano nos direcionou para aquele local; minha casa ainda estava distante e ali ficaríamos abrigados até a tormenta diminuir.
O celeiro era pequeno, havia algumas baias, mas não havia nenhum animal. Nossas roupas estavam encharcadas e comecei a sentir frio, estava escuro; o clarão vindo dos relâmpagos iluminava o local e Victoriano aproveitava para procurar uma lamparina, mas não encontrou nenhuma. O frio me fez trincar os dentes e ele percebeu.

- Está com frio? - sorri e assenti com a cabeça. - Vem. Um abraço aquecerá nós dois. - sorri sem olhar seus olhos e me aproximei dele, já sentado na palha com um sorriso largo e terno.

Ele me abraçou, usando uma das mãos para esquentar meu braço em um vai e vem incessante e me apertou mais ao seu corpo. Me senti obrigada a tocar seu peito sobre sua camisa, apoiando minha cabeça ali, inalando seu cheiro masculino. Senti meu coração bater em outra parte do meu corpo, o desejava como nunca antes. Estarmos sozinhos, o som da chuva, tanta proximidade, seu toque, tudo provocava emoções intensas demais em meu corpo, sentia-me tremer, no entanto, agora não mais pelo frio, mas por desejo.

- Nossa como você estava gelada. Melhorou? - ele parou os movimentos com a mão e se afastou um pouco para ficarmos cara a cara. Nos olhamos por um tempo, revesando olhares entre olhos e boca. Então, ele me beijou, um beijo que foi mais apaixonado e intenso do que qualquer outro até aquele momento.
Permiti que ele invadisse minha boca com sua língua e ele me deitou sobre a palha, meu peito sob o dele, sua mão em minha nuca tornando o beijo mais profundo possível; sentia seu coração acelerado tanto quanto o meu. Acariciei suas costas como se quisesse unir nossas peles, não me importava com nada mais, o mundo desapareceu completamente. Nos beijamos até perder o ar e ele se declarou entre beijos.

- Inês... Eu te amo... - com uma das mãos acariciava minha bochecha. Paramos os beijos e ele encostou sua testa na minha; olhos fechados. - Eu te amo tanto! - ele respirou fundo, como tragando o ar para se conter.
Eu não conseguia falar, por timidez ou pudor, mas eu queria ir além e esperava que ele tomasse a iniciativa.
Continuei com os olhos fechados, sentindo sua respiração quente em meu rosto, enquanto ele roçava seu nariz no meu. Mas, ao perceber que ele não continuaria, o puxei para mais um beijo, dessa vez eu invadi sua boca e ele correspondeu com a mesma intensidade. Comecei a desabotoar sua camisa, tremula, e ele passou a beijar meu pescoço, senti meu corpo inteiro arrepiar quando seus lábios tocaram a pele fina e suave daquele local. Acariciei seu peito nu, ele gemeu, minhas mãos geladas em sua pele quente. Ele me ajudou a retirar a camisa e se sentiu livre para acariciar meu corpo, gemi ao sentir suas mãos em meus seios pela primeira vez, pequenos o suficiente para que suas mãos os cobrissem totalmente; ele não parava de devorar meus lábios com desespero. Ele desceu uma das mãos, sem afastá-la do meu corpo, até minhas pernas, retirando o vestido e as expondo para seu deleite. Então, lentamente, levou sua mão até meu quadril, sentindo minha roupa intima e posicionando suas mãos sobre minhas nádegas. Senti minha pele arder em cada lugar que ele tocava e senti um desejo louco de ter nossos corpos totalmente nus, pele a pele.
Como em telepatia, ele abriu o zíper do meu vestido e o desceu até meu quadril, não usava sutiã, então meus seios ficaram totalmente expostos. Ele se afastou um pouco para olhar minha nudez, senti meu corpo inteiro arder, a timidez me tomou por uns segundos, e ele voltou a beijar meus lábios com veemência, minhas mãos em seus cabelos e as dele me apertando a ele, unindo nossos troncos nus, até que ele deixou meus lábios e beijou cada centímetro de pele em uma trajetória até meus seios. Gemi com a sensação de seus lábios naquela região, até então, intocada. Seus beijos seguiram até meu abdômen, enquanto suas mãos saiam de minhas costas e se posicionavam em meus seios, os apertando, tentando sentir-los, como se o toque fosse poco para saciar a paixão que emanava de cada célula de nossos corpos.
Naquele momento o desejava dentro de mim desesperadamente.

Fim de Flash Back

Balancei minha cabeça tentando dissipar aquelas lembranças. Estava parada em frente a uma vitrine de roupas femininas, não sei a quanto tempo, parecia o suficiente para que estranhassem, pois as vendedoras me olhavam e cochichavam, como se eu fosse um animal de zoólogo fazendo algo diferente. Franzi o cenho e continuei minha caminhada sem destino, vi casais apaixonados, casais e seus filhos, casais discutindo, casais... Já nem me lembro desde quando estou sozinha e amando o mesmo homem o qual, pelo que parece, me foi negado pela vida, destino ou não sei como chamam.
A cada ano procurei coragem para abrir meu coração, dizer a verdade e então, o ter novamente ou o perder definitivamente. Mas o medo, a vergonha e o ressentimento sempre me impediram.

Ao voltar a fazenda o encontrei em meu quarto, a minha espera. Ele estava sentado na cama, olhando as mãos e ao ouvir a porta abrir, levantou a cabeça fixando seus olhos nos meus.

- Onde estava? Fiquei preocupado... - entrei sem dizer uma palavra, coloquei a bolsa sobre a comoda e comecei a retirar a bota. - Não vai me responder? Pretende me ignorar agora?

- Senhor, acredito que...

- Já disse que odeio quando me chama assim! - parei o que fazia para o olhar e ele levantou da cama se aproximando de mim, que estava próxima da imagem da Virgem Maria. - Inês... Eu...

- Não quero falar com você, Victoriano. Você não deveria estar nesse quarto e eu não preciso te dar satisfações. - seu olhar agora de desapontamento me intimidaram e olhei para a direita evitando seu olhar.

- Eu sei que fui um tolo com você, mas, não quero que tenha raiva de mim. - ele se aproximou e tocou meu rosto para que o olhasse nos olhos e ficou assim por um tempo, acariciando meu cabelo e meu coração acelerou, o que me fez evitar seus olhos por um momento. - Inês, tudo bem não precisa dizer onde foi. - respirou fundo e ele virou as costas para mim, aumentando a distância entre nós. Permaneci calada o observando. - Preciso te dizer algo que confirmei a todos na jantar de hoje. - franzi o cenho sem imaginar o que poderia ser e cruzei os braços sobre meu peito. - Depois de tudo que aconteceu entre a gente, eu... Me sinto um canalha, mas preciso que você saiba por mim primeiro.

Suspirei e ele virou, ficando de frente para mim. Sua expressão, agora de certa angustia, me deixou apreensiva.
Depois de alguns segundos, olhos nos olhos e o clima tenso que fazia doerem meus ossos, ele respirou fundo, abaixou a cabeça e lançou de uma vez.

- Vou casar com Deborah.

Continua.

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