"O verdadeiro amor nunca se desgasta. Quanto mais se dá mais se tem."
Antoine de Saint-ExupéryAbri um pouco meus lábios, levantei minha cabeça para adiantar o toque e nossos lábios se tocaram levemente, se encaixando perfeitamente...
- Nana! - grita Diana e ouvimos o choro estridente de Cassandra. - Papá! - me afastei em um súbito, mas ainda sentindo o peso daquela decisão, o toque foi tão rápido que parecia não ter acontecido. Olhei para trás enquanto andava e ele permaneceu lá, no mesmo lugar olhando para onde eu estava, imóvel.
- O que houve? - Cassandra havia caído. Ela chorava, tinha arranhado o joelho.
- Eu não tive culpa, nana. Ela caiu sozinha. - Disse Diana com cara de choro. Eu carreguei Cassandra e a levei para perto da água com intenção de lavar a ferida.
- Tudo bem, Diana. Não chore. Ela está bem, isso vai passar. - foi então que ele surgiu.
- Ela está bem? - não o olhei, apenas respondi. Acho que a timidez tomou conta.
- Sim. Foi só um arranhão. - Cassandra chorou quando joguei água no local e me abraçou pedindo para que eu parasse e assim o fiz. A carreguei e a levei para onde eu estava antes, ele me seguiu, sentei e me recostei na árvore com ela sentada em meu colo, virada para mim, pernas de cada lado do meu corpo e a cabeça recostada a meu peito, eu alisava seus cabelos aloirados, enquanto ela soluçava. Diana continuou brincando ao longe.
- Acabamos de chegar. Acha que devemos voltar? - o olhei, juntando todas as forças. Não entendi essa timidez irritante.
- Não precisa, Victoriano. Foi só um susto. Daqui a pouco passa e ela volta a brincar. - o olhar dele mexia comigo, era como dor e amor ao mesmo tempo. Ele ainda me amava, era isso? Nos olhamos por um tempo, aqueles olhos verdes me hipnotizavam. Como o amo, meu Deus! Ele se sentou ao meu lado.
- Calma, Cassandra. Passou, amor. - ele alisou os cabelos dela e nossas mãos se tocaram. Ele pegou e alisou o dorso de minha mão com seu polegar, nos olhamos e meu coração acelerou feito louco. Não conseguia entender o que ele queria me dizer com aquele olhar, aquele jeito de me olhar que não vi antes. Talvez o vi. Quando nos amamos anos atrás, mas são tantos anos que não tenho certeza de nada, talvez seja minha imaginação me traindo e imaginando o que sempre quis. Que ele ainda me ame. Ele se levantou e foi brincar com Diana, correram, tomaram banho e Cassandra não demorou para os seguir. Eu dei uma desculpa para não ser obrigada a tomar banho também, não queria entrar em tentação. Eu de biquíni e ele... Nem quero imaginar. Foi bom admirar o corpo dele mesmo de longe, não posso negar que o fiz. Ele estava ainda mais lindo.
O dia passou tão rápido, coisas boas são assim, elas adormecem os sentidos e não sentimos as horas passarem. Passamos o dia entre olhares, parece que o quase beijo acendeu algo que antes estava escondido a "sete chaves". Quando iniciou o crepúsculo voltamos a fazenda, Cassandra ameaçava dormir e eu tentava impedir, pelo menos até que a desse um banho quente. Durante o caminho inteiro, senti o olhar dele em mim e as vezes nossos olhos se cruzaram, de princípio sorri e ele retribuiu, mas depois meu sangue já fervia e não consegui insinuar tranquilidade, estava nervosa, o olhar dele me causou isso e não sabia se sucumbiria a meus desejos ou negaria tudo como sempre.
Descemos do carro e levei as meninas direto ao quarto delas, eu carregava Cassandra e Diana correu em minha frente. Não sei para onde Victoriano foi. Depois de colocar as pequenas para dormir, olhei o relógio e eram as oito da noite. Desci as escadas, o silêncio em toda parte. Caminhei até fora da casa, o céu estrelado, lindo. Me deitei sobre a grama na lateral da casa e observei cada constelação que sabia o nome, mas a minha preferida sempre foi a de Orion. Identifiquei as "três marias" e logo imaginei o cinturão e o homem surgiu entre as estrelas apontando a sua espada e seu escudo para o nada e para alguém ao mesmo tempo. Queria ter essas armas nas mãos para me proteger do meu passado. No entanto, meu pensamento acabou vagando até aquele momento, aquele quase beijo e tentei lembrar de cada sensação, tentei recordar e guardar o leve e rápido toque de nossos lábios. Tentei deter aquele momento na memoria.

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Inês
FanfictionCertas coisas não fazem muito sentido, como por exemplo, como uns nascem para sofrer e outros para serem felizes... Muitas coisas na vida são mistérios e a minha está cheia deles, muitos dos quais eu morrerei sem desvendar. Por algum motivo, aparent...