III - Luto

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"A morte não é nada para nós, pois, quando existimos, não existe a morte, e quando existe a morte, não existimos mais."
Epicuro

Victoriano e Diana Maria jantavam, enquanto eu dava o jantar a Diana, junto a eles na mesa. Ele falava sobre a empresa que estava lucrando bastante, muitos investimentos grandes e isso alegrava muito a Victoriano. Mas, logo ele percebeu a indiferença em sua esposa.

- O que você tem, mulher? - como ela não me respondeu ele me olhou e dei de ombros. - Diana Maria?

- O que? - ela não ouviu nada.

- Você não me ouvia? Esse tempo todo tagarelando... O que você tem?

- Nada... Só estou cansada... Coisas dos últimos meses de gravidez. - sorriu falso.

- Não é verdade. Você...

- Pedi o apetite. Vou subir. - se levantou rápido.

- Espere... Não levante tão rápido. Vou com você.

- Não! Quero ficar sozinha.

Ela saiu e todos a olharam subir pelas escadas. Victoriano me olhou como se falássemos pelo olhar. Ambos sabiam o que estava acontecendo.

- O que ela têm, Inês? Medo do parto? Ela pensa que vai morrer?

- Sim... Eu não sei mais como ajudá-la. Hoje ela me fez prometer que cuidaria das crianças se algo acontecesse com ela. Eu... Estou muito preocupada.

- Vou conversar com ela... - se levantou preocupado.

- Victoriano? - parou e olhou para mim. - Cuidado para não deixá-la aborrecida. Ela está nervosa... Evite irritá-la.

- suspirou. - Está bem. Qualquer coisa não falo nada. Boa noite.

- Boa noite.

Ele beijou Diana e foi ao encontro da esposa.
Estes meses foram difíceis para mim, mas percebo que, apesar de vê-lo casado com Diana Maria ainda me sinto bem compartindo os dias com ele, vendo-o alguma vez ao dia, ouvindo sua voz falar meu nome. Sei que é loucura, mas o amo e compartilhar momentos com ele é melhor que nada.

Terminei de dar a janta a Diana e a coloquei para dormir, ao chegar na sala encontrei Victoriano, sentado no grande sofá e tomando um whisky.

- Conversou com ela? - ele se assustou e olhou em minha direção. Eu ainda descia as escadas.

- ele sorriu. - Não... Ela não quer falar e nem minha companhia essa noite.

- Não entendi... - parei no pé da escada o observando tragar a bebida em um único gole.

- Vou dormir no quarto de hospedes... - sorriu para mim e eu abri a boca insinuando descrença.

- Boa sorte e... Boa noite. - me virei para ir.

- Inês?! Obrigada por estar aqui. - voltei a olhá-lo incrédula.

- Eu que agradeço. Não esqueça que eu estava na sua sem ter onde dormir.

- Você dormiu na rua? Alguém te fez algo... - parecia preocupado, ele franziu o cenho rápido e deu dois passos em minha direção.

- Dormi... Mas... Ninguém me fez mal. Não pense mais nisso, OK? Vou dormir. Até amanhã. - ouvi o suspiro dele antes de sua voz se despedir.

- Até...

No meio da noite sou acordada com batidas na porta do meu quarto. Me assustei e pensei não atender, mas ouvi a voz de Diana Maria, franca e débil, e levantei rápido. O que ela poderia querer aqui a essa hora?

InêsOnde histórias criam vida. Descubra agora