II - O Reencontro

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"A distinção entre passado, presente e futuro é apenas uma ilusão teimosamente persistente."
Albert Einstein 

 Cada passo era como se caminhasse para a morte, ao chegar na sala ele carregava Diana, rindo, beijando seu rosto. Diana Maria estava ao seu lado sorrindo, tocando seus braços e alisando suas costas. Vi amor, cumplicidade... Uma família. Tudo que me foi negado. Poderia sentir ódio, inveja dessa mulher, mas a considerava uma amiga, a mulher que me ajudou quando eu não tinha nada, nem ninguém. Apesar de tudo, sentia gratidão. Vendo aquela cena com o coração dilacerado, eu prometi a mim mesma que seria fiel a Diana Maria, nunca a trairia e, mesmo amando a Victoriano, faria de tudo para fugir dos meus desejos. Lutaria para esquecê-lo.

- Inês?! - disse Diana Maria andando em minha direção e enlaçando seu braco no meu, para me guiar até seu marido. - Victoriano, essa é Inês. A conheci no povoado, meio perdida, mas agora ela é a minha amiga.
Olhos dele invadiam meu ser, sua expressão séria estremecia meus ossos. Respirei fundo, seus olhos verdes me encaravam como se pudessem me ver por dentro. Olhei seu rosto, ainda o mesmo, seus cabelos e a barba negra marcando seu rosto em contraste a sua pele branca e o mundo parou, os segundos pareciam demorar mais que o normal. Ainda o amava, como antes ou mais que nunca, mas, não sabia se ele aceitaria que permanecesse ali, rogava que sim por que não tinha para onde ir. Estava encurralada e por mais difícil que fosse permanecer, aquele lugar era tudo que eu tinha no momento. Para mostrar segurança e que não o via como homem, endureci meu semblante, precisava parecer dura sem ser rude.

- Prazer, patrão. - ele franziu o cenho e respirou fundo.

- Inês... É... - parecia desconcertado, nervoso, e colocou Diana no chão. - Seja bem vida...

Seu olhar me intimidava e evitei fixar os olhos nele outra vez, temia o que seria nossas vidas dali por diante. Sabia que eu iria sofrer tanto quanto sofri nesses três anos distante. Pior que a solidão é ver a pessoa amada com outra e sem poder fechar os olhos e não ver ou fugir para bem longe.

- Ótimo! - disse Diana Maria com uma alegria extrema. - Agora, leve Diana, por favor, Inês. Victoriano precisa descansar.

- Sim, senhora.

A noite chegou depressa e Diana dormiu facilmente, assim como ela, eu estava exausta. Ser babá era tão cansativo quanto ser faxineira. No quarto tomei um banho, lavei os cabelos e coloquei uma camisola um tanto sensual demais, a cara de Diana Maria e não minha. Me arrependi de ir comprar roupas com ela. Eram nove da noite e me deitei para dormir.

*

Um tempo depois alguém bateu na porta. Acordei assustada, olhei no relógio era uma da madrugada. Quem será uma hora dessas? Esperei para ver se iam embora, mas bateram mais três vezes e me levantei, vesti um robe parando frente a porta.

- Quem é?

- Sou eu, Victoriano... Abre, por favor... - meu coração acelerou. O que ele queria? Porque essa hora?! Como eu reagiria? - Inês! Por favor... Não me faça arrombar a porta.

Abri. Ele estava com um robe cinza e cabelo bagunçado. Franzi o cenho tentando demostrar irritação, mas parecia não incomodá-lo em nada, ele apenas respirou fundo e sem ser convidado, entrou no quarto e fechou a porta, apressado, como se tentasse evitar ser visto. Caminhou e ficou de frente para a cama, eu ainda junto a porta, sentia medo de me aproximar. Então, ele se virou e olhou em meus olhos. Senti uma pontada de desespero, não queria sentir o desejo aflorar por estarmos a sós, então tentei não pensar.

- Pensei que você estava morta... - seus olhos embaçaram e eu respirei fundo tentando conter sentir, mas meu coração me traia. - Onde você estava? Por que você fugiu? -ele se aproximava de mim, enquanto falava e eu não conseguia me mexer. - Como você pode fazer isso? Como você sobreviveu sozinha? - pegou forte em meus braços, me levantando um pouco do chão e ficando próximo demais do meu rosto. - Me diz, Inês!

InêsOnde histórias criam vida. Descubra agora