X - RECOMEÇAR

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"Recomeça se puderes, sem angústia e sem pressa e os passos que deres, nesse caminho duro do futuro, dá-os em liberdade, enquanto não alcances não descanses, de nenhum fruto queiras só metade."
Miguel Torga

Dias depois

Marcas na pele desaparecem em poucos días, mas as marcas na alma parecem não ter cura, apenas possibilidades de suportá-las. Me olho no espelho do banheiro, existe algo diferente em meus olhos verdes. Me sinto outra mulher. Fecho os olhos e ainda vejo nitidamente o momento que mudou algo em mim. Um momento de impacto. Uma escolha. Qual a consequência?
Ligo a torneira e lavo o rosto, sendo assustada pelos flashes. Sangue, gritos, sensações...

- Nana! - grita Diana logo depois do barulho ao abrir a porta do quarto. - Nana! Sai do banheiro...

- Um minuto, Diana. - enxuguei o rosto e sai usando um robe, somente.

- Me explica o que você tem. - a olhei sem entender. - O que fizeram com você? Te vi mal por dias, saindo para sei lá o quê com o papá e então, ouvi que esse Loreto te fez mal. Eu quero...

- Diana, chega de interrogatórios! - a interrompi. - Vem, senta na cama. - sentamos e toquei a mão de minha pequena advogada. - Não vou mentir para você, meu amor. Loreto me sequestrou... - Diana respirou fundo e arregalou os olhos. - Mas, não se preocupe. Ele não vai mais me fazer mal. Está bem?

- Onde ele está, nana? - disse ela se jogando em meus braços para um abraço.

- Preso, minha pequena. Dessa vez para sempre. - ela se afastou e olhou em meus olhos.

- Certeza? - sorri e alisei o lado esquerdo de seu rosto.

- Absoluta. - ela sorriu e levantou da cama.

- Então, sorria para mim. - revirei os olhos para ela. - Anda, nana. - suspirei e sorri. - Esse não vale. É falso.

- Esse é ótimo, Diana. Agora desce que preciso dormir. Você está de férias, mas eu não. - a empurrei em direção a porta.

- Me deixa dormir com você. Só hoje. - suspirei.

- Para você me perturbar a noite inteira com perguntas que não são da sua conta? - ela fez cara feia. - Não.

A levei até a porta e dei ordem para ela ir direto para o quarto dela e dormir. A observei andar pelo corredor esmurrando o ar e resmungando como uma criança mimada e contrariada.
Fechei a porta do quarto e vesti uma calça leve e uma camisa masculina grande e folgada. Deitei na cama, me virei para o lado direito e fechei os olhos.
O sono estava perturbado, mas consegui dormir até sentir algo balançar a cama, o lençol se esticou um pouco e o colchão afundou me fazendo cair um pouco para a direita.
Abri os olhos e dei de cara com outros olhos verdes e um sorriso encantador.

- Não lembro de te dar permissão para entrar em meu quarto e deitar em minha cama... Patrão. - ele se aproximou, me agarrando pela cintura e aproximando nossos corpos.

- Preciso dormir com você em meus braços. - nos encaramos por uns minutos e ele colocou uma mexa de meu cabelo atrás de minha orelha esquerda.

Sorri e deitei em seu peito, sobre o cetim de seu pijama. Coração dele batia forte como de um cavalo e alisei seu braço esquerdo, enquanto o sentia acariciar meus cabelos.
Fazem três semanas desde o ocorrido e 10 dias desde a condenação de Loreto. Essa é a primeira noite que voltamos a deitar juntos em uma cama. Ele me respeita e eu sinto que nem eu nem ele temos coragem de falar sobre o que aconteceu.

InêsOnde histórias criam vida. Descubra agora