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- Eu já disse que não quero mulher minha enfiada em boca de fumo -- ele levantou que nem um bicho e eu até me assustei -- O que tu tá fazendo aqui porra? -- gritou segurando no meu braço e me tirando de lá
- Me solta Fabrício -- puxei meu braço e ele me olhava de uma forma assustadora -- Você está drogado? -- perguntei olhando os olhos dele vermelhos
- Cala essa boca -- apertou meu braço de novo
- Fabrício para com isso -- eu disse baixo porque não queria plateia naquele show dele
- Quando tu vai me respeitar? -- gritou -- Quando tu vai reconhecer e aceitar que eu não quero você aqui? -- perguntou abrindo os braços
- Tá aqui a chave do teu carro -- entreguei pra ele -- Boa sorte na sua vida -- disse e dei as costas mas senti ele me puxando pelos cabelos
- Tu tá maluca? -- perguntou perto do meu ouvido
- Maluco tá você, olha só a cena que tu tá fazendo -- me soltei dele e gritei também -- Olha bem o que tu tá fazendo caralho, presta atenção nas tuas atitudes -- gritei olhando pra ele -- Eu não sou essas putas que vocês comem e depois apanham de vocês -- encarei ele no fundo dos olhos
- Onde é que tu foi? -- perguntou mais baixo mas sem mudar o tom de voz rígido e bolado que ele estava
- Tirar minha cunhada Blanca de um lugar ruim -- disse revirando os olhos e os olhos dele ficaram mais vermelhos
- Quer dizer então que ela é rua cunhada? -- falou -- Vai lá otária com o irmão dela então -- disse cheio de raiva
- É minha cunhada sim, ela namora meu irmão -- encarei ele e prendi o riso -- Vai ser brabo pras da rua porque dentro de casa eu não vou aceitar isso não -- disse mudando de assunto -- Você vem pra casa agora? -- perguntei e vi que já iriam dar 18:00
- Me espera no carro -- ele devolveu a chave e eu destravei e entrei no carro esperando por ele

Tudo aconteceu muito rápido e eu só ouvia dentro daquele carro os fogos, tiros e muita gritaria, o morro estava sendo invadido, olhei pra rua e tinha uma criança sozinha naquela confusão que chorava nervosa sem rumo, na mesma hora me deu um aperto no peito e eu só pensava na minha filha, sai daquele carro e correndo abaixada peguei aquela criança que só usava uma fralda e uma cueca devido ao calor

- Vem com a tia -- falei pegando ela no colo e envolvendo meu corpo pra proteger ele -- Vai ficar tudo bem -- beijei a cabeça dele que não parava de chorar -- Cadê seus pais? -- me abaixei com ele atrás do carro procurando proteção e o menino só chorava -- Cadê o Fabrício merda -- reclamei comigo mesma

Eu encontrei um bom ponto e me escondi com aquela criança, pedi para que ele parasse de chorar e aos poucos ele me atendeu, fui abaixada até o carro e peguei minha arma e voltei, fiquei ali escondida com a arma destravada, minha cabeça estava longe demais, eu só pensava no Fabrício e como uma mãe pode largar o filho do meio da favela

TRILHA DA LUAOnde histórias criam vida. Descubra agora