Capítulo VIII

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Depois de conversar com a Calissa ontem eu fiquei com o que ela me disse na cabeça. Não que eu quisesse conquistar algum dos meninos, mas eu queria estar bonita também. A Calissa é uma menina extremamente linda sem fazer muito esforço com o rosto pequenininho, os cabelos lisos e longos, a pele bem clara e o corpo esbelto. Ela já me humilharia sem esforço nenhum imagina produzida? Eu não queria me sentir um lixo, não queria mais me sentir uma pessoa feia mais uma vez.

Minha infancia aqui foi bem difícil. Eu era diferente das outras pessoas e elas faziam questão de apontar para mim, de me mostrar que eu era diferente, de ressaltar que eu não fazia parte daquilo que eles viam como bonito, isso afetou muito minha autoestima. Eu tive o apio da minha mãe e consultas com um psicólogo para conseguir lidar com tudo. Não sei o que teria sido de mim sem o apio da minha família, sem eles fazendo questão de me lembrar todo dia que eu era especial e que havia muitas pessoas como eu espalhadas pelo mundo.

A minha mãe é braseleira e meu pai é coreano, mas eu, por alguma brincadeira do universo, saí a cópia do meu avó por parte materna. O mesmo tom de pele marrom, os mesmos cabelos volumosos e com cachos bem apertados, o mesmo formato dos lábios e até mesmo o fato de que o lábio superior tinha uma tonalidade mais marrom ao passo que o lábio inferior era mais rosado. 

Meu corpo também não era como os das meninas daqui, eu não conseguia me manter tão magra, não conseguia ter pernas finas, busto pequeno, quadril pequeno, meu corpo simplesmente não obedecia a isso. Por bastante tempo eu tentei. Eu fiz dietas muito restritivas, cortava tudo o que eu amava comer e houve até mesmo uma época em que passei a mentir para os meus pais, eu fingia que me alimentava, mas passava dias em jejum. Quando minha mãe descobriu ela me fez prometer que eu nunca mais faria aquilo, mas no fim das contas todo o meu esforço era em vão. Eu simplesmentia não conseguia ter o corpo que eu deveria, não conseguia ter a aparencia que eu deveria ter e isso me frustrava. Confesso que hoje em dia eu sou mais bem resolvida com a minha aparencia, eu me acho bonita, gosto de mim mesma, mas ainda reside no meu subconsciente um traço das inseguranças que foram alimentadas em mim durante praticamente toda a minha vida.  

Meu cabelo ia até um pouco abaixo dos ombros e era bastante volumoso, por isso não era uma boa ideia deixá-lo solto. Eu o amarro em um afro puff e ajeito meu baby hair. Decido usar um dos biquines que meu pai me trouxe de presente de uma das suas viagens. Ele era preto, a parte superior era como um top não muito decotado e a parte inferior apesar de cavada ia até abaixo do umbigo. Eu me senti bonita, me senti confortável. Era um bequine bonito e permitia que eu não me sentisse muito exposta. Vesti um shot jeans e uma camiseta branca de botões que era bem larga, nos pés um chinelo bem confortável.

Pego a bolsa que continha tudo o que precisaria e desço para a sala.

— Mãe, eu estou indo para o clube que eu te falei ontém, lembra?

— Uhum. - Bebe o líquido da sua caneca. - Quer que eu te leve?

— Não precisa, eu já chamei um uber.

— Conseguiu confirmar com a Sun?

— Não. Ela não tem ido a escola ou atendido minhas ligações, não estamos tendo contato. Se ela não for para a escola na segunda eu ignoro as regras do pai dela e vou visita- la. - Meu celular apita com a mensagem de que o carro já havia chegado. - Até depois, mamãe.

[...]

Cheguei a entrada do clube junto com Calissa e a garota tinha um sorriso que ia de orelha a orelha.

Estupidamente ArroganteOnde histórias criam vida. Descubra agora