Bewitched city

☆Capítulo trinta e dois☆

Faço um círculo de velas ao meu redor, bem no centro de onde, um dia fora uma casa.
 - Ignis. - murmuro e todas as velas se acendem. Ainda não tive a chance de praticar feitiços mudos. - Mantenham uma distância do círculo. Aconteça o que acontecer, não interrompam o feitiço. Pode ser pior.
 - Mas e se algo acontecer com você? - Aila pergunta, preocupada.
 - Vai dar tudo certo. - digo, mas não posso ter certeza. Mesmo usando os meus poderes, parte dos poderes das duas irmãs e a energia das velas, eu não posso garantir nada. - Só façam o que eu estou dizendo.
 Eles concordam com a cabeça e dão espaço. Nunca realizei um feitiço tão poderoso quanto esse e nem sei como funciona. Será que Seelie vai aparecer aqui? Não. Provavelmente ela só ficará dentro da minha cabeça.
 Ergo as duas mãos, fecho os olhos e começo a proferir o feitiço que só conheço na teoria:
 - Ostendam autem vobis quem abiit potest auxilium, ostendam autem vobis quem abiit potest auxilium, ostendam autem vobis quem abiit potest auxilium...
 Sinto uma energia sair das minhas duas mãos e me envolver, fazendo com que eu saia alguns centímetros do chão. Continuo a proferir o feitiço. Quando estou a ponto de desistir e me convencer de que não deu certo, escuto alguém dizer:
 - Por que me chamas?
 Uma mulher, começa a vir em minha direção, dentro da minha cabeça, é claro. É bem loira, com leves cachos que batem quase na cintura. Tem olhos verdes idênticos aos meus e está com um vestido longo, dourado, como o de uma princesa. É Seelie Clark.
 - Meu nome é Megan. Megan Clark. E vim lhe fazer uma pergunta. - digo.
 - Oh! Deve ser o encontro das duas linhagens imagino. É a cara de minha irmã. Os olhos são presentes meus, é claro. - diz docemente.
 - Isso mesmo. Me disseram que Davina quer me matar para ter o poder que não conseguiu antes de morrer. Mas ela não me matou quando teve a chance. Você saberia me responder o por que? - pergunto e sinto uma pontada na cabeça e minhas pernas bambearem. Não aguentarei por muito mais tempo.
 - Outro presente meu. Quando vi o feitiço que Davina lançou, lancei outro para proteger o futuro alvo de minha irmã. - diz - Se ela te matar, o poder dos dois colares vai se perder para sempre. E ela sabe disso.
 - Então ela não vai conseguir o que quer, novamente? - pergunto, sufocando um grito de dor. Minha cabeça estava explodindo.
 - Há outras maneiras de pegar o poder sem te matar. Mas são muito raras e difíceis de encontrar. Mas ela vai tentar. - responde.
 - Você saberia de alguma? - pergunto não resistindo e gritando de dor. Ela me olha preocupada e demora uns segundos para responder. Se assustou com o meu grito.
 - A única que eu conheço é... - Não escuto o que ela diz. Começo a me entregar a inconsciência. O feitiço é forte demais. O feitiço se rompe e eu caio de costas no chão. As velas se apagam. A última coisa que me lembro é de Mai gritar, todos virem em minha direção e alguém, com o cheiro familiar me pegar no colo. Logan.

 -----♡-----♡------♡-------
 Abro os olhos e olho ao redor. Estou no meu quarto. A janela está aberta e consigo ver a lua. A última coisa que me lembro é de ter desmaiado e Logan ter me pegado no colo. Não tem ninguém a vista. Saio de debaixo das cobertas e coloco os pés para fora da cama. Não estou com a mesma roupa que estava pela manhã. Me levanto e ando dois passos, mas minhas pernas fraquejam e antes que eu vá de encontro ao chão, duas mãos seguram minha cintura e em seguida me puxam para um abraço sufocante.
 - Que bom que acordou. - diz em uma mistura de alegria e alívio. Me coloca sentada na cama e diz em voz alta.
 - Mai! Aila! Alec! - diz Logan e em menos de 5 minutos eles entram quase correndo, seguidos por mamãe, papai e James.
 Várias pessoas tentam me abraçar ao mesmo tempo e eu quase desmaio novamente, sem ar.
 - Pra que isso tudo? Quanto tempo eu dormi? - pergunto depois que todos se distanciam. Pelo que me parece foram só algumas horas. Já está de noite.
 Eles se entreolham e Aila responde devagar.
 - Ahn, você dormiu por bastante tempo, Meg.
  - Foi uma queda e tanta, maninha. - diz James. Queda? Ah, deve ser isso que falaram para ele, já que ele não sabe o que realmente está acontecendo.
 - Você está inconsciente a uma semana, filha. - diz meu pai devagar. Quase engasgo.
 - Uma semana? - digo perplexa. - Não dormi por tanto tempo assim.
 Todos ficam em silêncio. E aí eu me lembro. Havia alguns momentos em que eu não acordava totalmente e podia ouvi - los dizer algo que eu não compreendia, me dar alguma comida ou bebida, ou trocar minha roupa.
 - Vamos deixar vocês sozinhos. - diz mamãe saindo com papai e James logo atrás. Por alguns instantes só ficamos nos olhando, até que eu quebro o silêncio.
 - O que aconteceu enquanto estive fora? - pergunto me sentando de pernas cruzadas, dando espaço na cama para os demais. Aila se senta do meu lado direito, Mai do esquerdo e Alec senta na beirada. Logan continua em uma cadeira de frente para a cama.
 - Íamos pra escola e voltávamos pra ver você. Depois voltávamos para casa. - diz Aila.
 - Menos esse aí. - diz Mai apontando pra Logan. Que parece um pouco envergonhado. - Essa cadeira já deve tá cansada de tanto ficar aguentando ele.
 Todos começam a rir menos eu, que só consigo olhá - lo. Ele também não está rindo. Só dá um sorriso de lado e olha para o outro lado do quarto.
 - E a escola? - pergunto tentando mudar de assunto.
  - Não se preocupe. A gente não sabia quanto tempo ia demorar para acordar então conseguimos um atestado de cinco semanas. - conta Alec.
 - Então... - começa Aila.
 - Não vai nós contar o que descobriu? - completa Mai.
 Depois de contar tudo para eles, o silêncio volta a aparecer novamente. Até que Alec se manifesta:
 - Temos que encontrar o que quer que seja antes dela.
 - É um campo muito aberto. Pode ser qualquer coisa. - diz Logan.
 - Não pode tentar ver o que é? - pergunta Mai, para Aila.
 - Não é assim que funciona. Posso tentar ver se Davina descobrir o que é ou se estivermos muito perto de descobrir. - responde.
 - Vovó disse que videntes podem ver algo que aconteceu no passado. - digo.
 - Podemos. Mas eu precisaria saber quem tinha o conhecimento desse feitiço, ou seja lá o que for. - diz.
 - Seelie conhecia uma maneira. Ela mesmo disse pra Megan. - Logan se manifesta e todos os olhos se voltam para Aila, esperançosos.
 - Posso tentar mas... Ela viveu a centenas de anos atrás. Sou muito nova nisso tudo para conseguir ver alguma coisa de um dia para o outro. - diz abaixando a cabeça.
 - Tudo bem, Aily. Vamos encontrar outro jeito. - digo segurando sua mão.
 -Já sei! Você é nova nisso mas eu sei alguém que está nisso a muito tempo. Agnes Wilson. - Logan diz e todos os olhares se voltam para Aila novamente. Agnes é a mãe dela.
 - Você sabe onde ela está? - pergunta, fracamente. E ele percebe que disse a coisa errada. Ele confirma com a cabeça e parece confuso por ela perguntar isso. Posso ver uma pergunta silenciosa passando pelos seus olhos: Que filha não sabe onde a própria mãe está? Ela se levanta e todos continuam olhando - a.
 - Eu já volto. - diz saindo do quarto.
 Eu e Alec lançamos olhares furiosos para ele. Mai também parece confusa.
 - Eu vou atrás dela. Explica pra eles. - digo para Alec, me levantando.
 Acho Aila na varanda, sentando no banquinho, olhando para o céu. Me aproximo e me sento ao seu lado.
 - Como até ele sabe onde minha mãe está e para mim ela só manda uma carta por ano? - diz, mais para si mesma do que para mim.
 - Ela deve ter um bom motivo Aily. - digo. A verdade é que eu não sei realmente o que dizer. É uma situação extremamente delicada e complicada. Ela fica mais um tempo sem dizer nada e se levanta.
 - Vamos. Temos que decidir o que fazer. - diz.
 - Você está bem? - pergunto e ela nega. A puxo para um abraço sufocante e ela ri.
 - Tudo bem! Vai me matar asfixiada. - diz se soltando e me puxando de volta para o quarto.
 Quando entramos todos estão em silêncio e Logan parece a ponto de pedir desculpas. Mas ele tem o bom senso de não fazê - lo. Só iria piorar as coisas. E o que iria dizer? Desculpa se eu não sabia que sua mãe não mantém contato com você, sendo que, sua localização não era um mistério para mim?
 - É melhor você ir. - diz Aila olhando para Logan.  - Eu tenho aula.
 Todos sabemos que o real motivo não é esse. Mas ninguém diz nada.
 - É melhor eu não ir também. - diz Mai - Faltar levantaria suspeitas. Megan já faltou essa semana inteira.
 - Tenho uma alcatéia para cuidar. - diz Alec - Não posso me ausentar por muito tempo.
 - Parece que sobrados só nós dois. - Logan pisca para mim e sorri.
 Não sei se fico animada com isso ou se pulo da janela.