forty-one

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Eu amo Sammy pelo simples fato de conseguir me fazer sentir bem mesmo quando tudo o que mais quero é chorar.

Cheguei na sala naquela manhã, após ter me trocado, e toda uma paranoia já estava instalada em minha mente. Por que foi me deixar sozinha? E pior, por que me ignorou quando esbarrou em meu ombro momentos antes? Eu odeio o efeito que esse garoto já tem sobre mim. Odeio me sentir assim! O que é que eu fiz de errado? Eu realmente deveria ter escutado a todos os avisos.

– Ei! - Olho para frente, assustada com sua voz, e vejo Samuel parado em minha frente, rindo, as mãos em meus braços. - Eu diria que é melhor você acordar antes de começar a andar. - Ele zomba, mas eu não vejo graça. - Thea? -

– Ah, Sam, não enche. - Me viro contra ele, me soltando de seu toque, e indo me sentar no grande sofá, os cotovelos apoiados nos joelhos, a cabeça enterrada nas mãos. Só queria que ele fosse embora para poder ficar aqui chorando. Queria chorar, mas não queria o fazer em frente a Sammy. Desde que cheguei aqui, ele já me pegou chorando mais vezes do que posso contar, e não quero que tenha essa visão de mim.

– O que você tem, bebê? - Ele me segue, se abaixando em minha frente, ficando em seus joelhos, com as mãos em minhas pernas, como que me passando confiança, pedindo para que o olhe.

– Nada. - Mas na verdade sinto tudo. Eu estou desesperada por dentro, meu coração tão incerto que posso jurar sentir uma ou outra batida falhar. Eu nunca me apaixonei tão rápido, e não sei o que fazer com todo o sentimento guardado em meu peito. Então tudo apenas se esvai no formato de lágrimas, deixando minha voz embargada mais visível, e tornando mais difícil de mentir para o garoto em minha frente.

– T, meu amor, você pode me contar qualquer coisa. - Ele passa carinhosamente sua mão contra a minha perna. - Estou aqui pra você. Sabe disso, certo? -

Nada respondo, com medo de abrir a boca e, ao invés de palavras, virem soluços. Mas o esforço é em vão, já que Sam toca meu queixo, erguendo minha cabeça e tendo a final visão de meu rosto inchado, meus olhos vermelhos e repletos de lágrimas teimosas que insistiam em continuar caindo, e todo o meu drama desnecessário.

– Ah, Thea, vem cá. - Ele levanta e se senta no sofá em questão de segundos, logo me puxando para seus braços e me envolvendo num abraço.

Me permiti de fato chorar, fungando, soluçando, e encharcando a camiseta branca do meu melhor amigo. Minhas mãos estão posicionadas contra seu peito, assim como minha cabeça, enquanto que as suas estavam uma em minha cintura, me puxando para ele, e outra sobre minha cabeça, afagando meus cabelos. Ele não disse nada, e eu agradeci imensamente por apenas estar ali, presente pra mim.

Depois de alguns minutos abraçados, quando ele me afastou e ergueu meu rosto, limpando as lágrimas ali presentes e sorrindo para mim, deixei com que soubesse de tudo. Conversando com ele noutro dia, já tinha lhe contado o real por que de estar naquele apartamento, e não em minha real casa. Na verdade, todas as noites daquela semana que se passou, eu iria para seu quarto e ficaríamos jogando videogames enquanto eu lhe contava tudo o que aconteceu no dia. Tudo sobre Jack. Sam também me contou sobre sua vida, e íamos dessa maneira até quase chegar a ver o sol nascer.

Eu já tinha confiança suficiente naquele garoto em minha frente, eu sabia que poderia lhe contar qualquer coisa. Nathan costumava ser meu único porto seguro, e agora se faz tão distante. Não o culpo, ele tem coisas a fazer, e nesse meio tempo passei a considerar Samuel também como, de fato, um irmão.

– Você não quer saber. - Fungo, o olhando nos olhos e então para baixo. - Vai me xingar quando souber. Vai dizer que fui uma idiota. -

– Eu prometo, estou aqui pra você, Thea. - Ele diz, mais uma vez segurando meu queixo e me fazendo olhar para ele. A preocupação é evidente.

Fecho meus olhos com força, voltando a sentir as lágrimas. Balbucio algumas vezes antes de conseguir dizer:

– Eu transei com Johnson. - Digo baixinho, chorando, mas sei que ele me ouviu quando imediatamente pasma, sem reação, e me solta, se afastando um pouco.

– Você o quê? - Ele pergunta, levantando do sofá claramente irritado, o que só me faz mais nervosa.

– Eu sou uma idiota, Sam! - Digo em meio ao choro, voltando a soluçar alto.

– Eu... - Ele gagueja um pouco, levando as mãos a cabeça, como quem não sabe o que fazer. - Eu te avisei! - Agora ele grita, e eu me sinto cada vez pior, me sinto como lixo. - Você sabia o tipo de cara que ele era! EU te avisei. - Ele enfatiza o "eu". - Sabia como essa historia acabaria, e era com você machucada. Você sabia! - Ele grita mais uma vez, e eu me encolho no canto do sofá, envolvendo minhas pernas com os dois braços.

E eu chorava. Não era só apenas por ter sido "iludida". Já passei por isso uma ou duas vezes. Eu chorava porque tudo isso era simplesmente demais. Aquelas duas semanas que estive aqui foram mais intensas que jamais pude imaginar, jamais pude me preparar. Todo o amor, toda a paixão, a raiva, o ódio. Todo o sentimento. Aquilo tudo era demais.

– Você sabia. - Ele diminui o tom de voz, olhando para mim. Seus olhos, vermelhos, talvez pela raiva, encontram os meus, marejados, e sinto nossa conexão. Fecho os meus com força, esperando por ele. Sammy sabia que agora não adiantaria de nada um sermão. Eu só queria o meu melhor amigo.

Por fim, mais um abraço, e era tudo o que eu precisava. O mais intenso e apertado deles, para juntar todos os caquinhos dentro de mim em um só novamente. E eu de alguma forma sabia que tudo ficaria bem.

do better + jack johnsonOnde histórias criam vida. Descubra agora