Primeiro ato

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    A cada dia que passa sonhamos e aumentamos as nossas expectativas como se a mudança estivesse no tempo e não em nós.
    Aquele dia poderia ter sido como qualquer outro, mas era meu primeiro dia como veterana no Colégio IBPI, aqui no Rio de Janeiro. Sei que sou realmente uma idiota esperançosa por acreditar que após um ano as coisas seriam diferentes, fui toda empolgada.
    Havia marcado com Lara, a escola não fica muito longe da casa dela, contudo para variar ela estava atrasada. E eu mal conseguia conter minha ansiedade.
- Demorei? - Em tom baixinho, a sua voz dengosa faz parecer um atraso de horas em segundos.
- Demais. Achei que não vinha. Nem vai dar tempo de reencontrar o Emanuel. - Falei em meio a correria. Ela assentiu despreocupada.
    Como já era de se esperar tivemos que vencer o olhar fuzilador da professora Daiane ao cruzarmos à porta. Mas senti meu coração pulsar então acho que "estou viva!" . Pude ouvir o sacarmo da Júlia e suas amigas com meu atraso, desde o primeiro ano tivera se empenhado em transformar minha vida em um verdadeiro inferno. Mas neste ano as coisas iriam mudar... Pelo menos já passavam da hora de serem diferentes.
    Durante o intervalo finalmente reencontrei Emanuel não o vira desde o último dia de aula. Como eu, pouco havia aproveitado as férias; além disso continuava empenhado em conquistar Lara e ela em reijeita-lo. Até agora tudo normal.
    Lanchavamos tranquilos até Júlia vim estranhamente em nossa direção. Ela e seus abutres guiados pelo cheiro de sua carniça.
- Olha só quem está aqui a nerd desajeita, achei que tinha descobrido seu lugar. - Me encarou sem cerimônia, seu olhar refletia ironia e desdém. Ela sabia o que me causara ano passado, mas não tinha vencido. A Lara até falou "não dá corda!" mas todos já olhavam ao nosso redor me sentiria uma fraca em recoar.
- Desde quando a minha vida é cabaré pra te puta entrando sem pedir licença?- Já havia levantado e a encarava como nunca tinha feito, nem eu me reconhecia.
    Os outros lubusaram "ú" os otários curtem uma richa.
- Você enlouqueceu? - Júlia incrédula.
- Manu por que está dando atenção a esta daí? - Emanuel me perguntou baixinho, confuso e sem entender o meu olhar.
- Porque estou cansada de aturar tudo calada!
- Pois devia continuar... Olha pra você! Pobre, feia e desajeitada... - Muitos risinhos até chegara ao fim da volta que dera a minha mesa, desafiando o meu auto-controle. - ... Não é atoa que o Pietro não te quis.
- SUA DESGRAÇADA!! - foi a última coisa que lembro ter dito, antes de grudar em seu queixo e força-la engolir o leite da caixa que estava perto de mim. Emanuel evitou que a espancasse.
    Depois disso já estava na direção, ouvindo o diretor dizer descaradamente que sou bolsista por isso tinha por obrigação me comportar. O fato de Júlia ser alérgica a lactose tornou tudo mais embaraçoso e deveria explicações quando chegasse em casa.

    Joguei a bolsa no sofá, subi as escadas correndo... Não havia ninguém. Ninguém para bater a porta e gritar "o que está acontecendo?". Meu pai trabalharia até tarde da noite e eu não tenho o que alguns chamam de mãe, até tive antes de ser largada por ela.
    Não queria chorar; eu tinha feito o que desejei, a suspensão foi só uma consequência dos meus atos. A violência realmente é desnecessária pois não resolve nada e por muito até piora as coisas. Todavia é prazerosa, e o prazer cega!
    Não entendo porque esta perseguição começou, os motivos são todos vazios. O que sei é que dei gargalhadas quando recebi as fotos da Júlia pelo WathsApp, um tomate parecia menos vermelho e inchado. Seria errado desejar que ela continuasse daquele jeito por semanas?

Dupla Personalidade - Quem sou eu?Onde histórias criam vida. Descubra agora