Ilusões

56 5 0
                                    

    Sei que a imaginação frusta as coisas. E a minha frustara cada dia mais; como se meu corpo angustiasse  por novas sensações, minha alma por sentimentos bons e minha mente se encarregasse de projetar tudo isso.
    Virei o guarda-roupa, nada parecia bom. Vesti uma camiseta masculina preta regata ( mostrara uma parte do meu top preto), uma bermuda jeans e um al star. O cabelo rebelde levei à um rabo de cavalo; tentei tirar o óculos afim de ressaltar o meu melhor traço, meus olhos azuis, mas ficara cega sem ele por isso preferir continuar com aquele objeto infeliz.
    Quando faltava uma hora,  já estava pronta. Acompanhava nervosamente o tic tac do relógio. O meu celular vibrou, avistei duas mensagens: Emanuel pedindo ajuda no assunto de Biologia, apesar que era apenas um dos assuntos mais simples do ano passado. Biogênese X Abiogênese não era exatamente uma novidade. A outra mensagem era de Carlos avisando que se atrasaria, sem querer deixou escapar que meu pai havia saído de lá a tempos, tentei ignorar este último fato.
    Às 19:40, já muito atrasado, Carlos chegou despenteado e exageradamente perfumado. Seu olhar parecia tenso.
- Boa Noite; desculpe o atraso. Você está muito bonita Manu.
Dei-lhe um sorriso tímido, do qual parecia gostar.
- Obrigado. Podemos ir? -Falei muito tranquilamente, mas ele andava desperso.
- anham... - assentiu, sem se quer se locomover tive que desencostar das beiradas da porta, parar na sua frente. Dei com gestos nas mãos. 
- Ah! Vamos!
- Está tudo bem com você? - Falei a caminho da sorveteria, sentida com sua expressão preocupada.
- Sim... Sim está. Por que não estaria? - Nitidamente tentava me tapiar,  contudo assenti.
    Chegamos, finalmente, a sorveteria. Carlos puxou a cadeira para mim, o estranhei mas adorei a iniciativa.
- Estou muito feliz que você tenha aceito meu convite.
- Por que? Não é a primeira vez que fazemos este tipo de coisa. - Mesmo que já tenhamos feito a um bom tempo. Ainda sim nossos encontros eram em absoluto amigáveis.
- Eu sei... Mas eu tenho algo importante pra te dizer.
- Algo importante? - Engoli seco.
- Sim... - Continuou apreensivo. - ...Somos amigos a um bom tempo, e amigos sentem ou percebem os sentimentos dos outros. Não é mesmo?
- Eh... Acho que sim. - A cada palavra ficara mais e mais desconfiada, os nossos sorvetes estavam na mesa intocáveis. Minhas mãos começaram a suar frio.
- Pois bem, é sobre isso que eu quero falar: sobre a nossa amizade... - Ele parecia tenso, achava isso fofo. Mas eu começava a ficar impaciente com as longas pausas.
- O que tem ela? - Cabisbaixa.
- É que eu estou gostando de uma garota, e você é uma garota. Não sei como saber se tenho alguma chance com ela. - Será que ele está falando disfarçadamente de mim? Pensei; confesso. Só isso explicaria tantos arrudeios. Nisto levantei um pouco o olhar, ainda incapaz de olhar diretamente nos seus olhos castanhos escuros; minhas mãos rebelaram-se na súbita vontade de encontrar a suas.
- A gente até conversa, mas é uma menina difícil. Um tanto misteriosa. - Ele me encarava meus olhos se perdiam nos seus. A minha imaginação já cuidava em adiantar tudo, me vendo deliciar em seus lábios.
- E você já tentou algo com ela?
- Nada que ela tenha dado atenção.
- Talvez ela seja desligada.
- Não sei. A acho muito inteligente, pra não perceber nada. - Tocava no sorvete pela primeira vez. Comecei a comer o meu, deixando uma das mãos soltas na mesa.
- Pessoas inteligentes também ficam com a "cara no vento" de vez em quando. Tenta falar com ela, só assim pra saber. - Estávamos fixados no sorvete até que sentir seu rosto me encarar.
- Você tem razão!
- Tenho? - Assustada com o tom da sua voz.
- Vou falar com ela. Você já sabe quem é?
- Suspeito. - Disse em um sorriso sem dentes. Aproximei discretamente minha mão próximo a sua. Ele não percebeu tal aproximação.
- Entao... Você vai me ajudar a conquistar a LARA? - O choque fez ouvi cada letra nitidamente. Meu queixo caiu, minhas mãos se afastaram e meus olhos arregalados se fixaram perplexos no seu olhar cheio de expectativas. - Você vai? Manu... Manu? ... O que foi? Você se calou de repente.
- Nada. - Estava comendo o meu sorvente de chocolate.
- Não vai me responder. - Eu preciso mesmo? A vida faz a gente passar por cada situação.
- Claro. Por que não?
- Sério? Sabia que podia contar contigo.
   Dei um sorrisinho.
- Qual é seu sabor preferido? - A fim de mudar de assunto. Mas...
- Baunilha. A Lara gosta de que tipo de coisa?
    Podia te dizer o quanto minha noite foi terrível, porém percebe-se pelo rumo da conversa. Chegando em casa o travesseiro conforta as  lágrimas, lágrimas fruto da minha estupidez. Não tenho mais idade para ficar imaginando a vida ao lado de uma pessoa, e sim... já tinha feito isso com Carlos.

Dupla Personalidade - Quem sou eu?Onde histórias criam vida. Descubra agora