- Achei que não iria vim mais hoje. - Sorri descaradamente, ciente que o homem a qual dirigia-se estava coberto de rancor. - Não me olhe assim... Você pediu para que isso acontecesse.
- Sua vingança foi pessoal, não tem nada haver com negócios. Aliás não é sobre negócios o assunto?
- Sim. Estou em um dilema. - Murmurou com calma e serenidade. Sr. Sampaio ficou esbranquiçado tinha conhecimento que dali não sairia boa coisa.
- Dilema?
- Acha que a Vitali deve ser morta ou virar mercadoria?
- Não acho que faça muita diferença. Creio que é melhor deixar essa garota de lado. - Disse bebendo de uma vez o gole de Wisk.
- Ah... Não sei se você lembra mas você é um de nós, pessoas são a nossa mercadoria. E não podemos deixa-la pra lá; sabe de muita coisa.
- Talvez haja outra alternativa. - Sr. Sampaio muito condescendente.
A sala escura, nevoada pela noite tornava o clima ainda mais sombrio.
- Você está certo.
- Estou? - Murmurou incrédulo.
- Sim. Chamamos atenção demais com os assassinatos...
- Tudo culpa sua, perdi minha única filha... - Gregório contendo-se para não agredir, se fizesse haviam capangas; homens ocultos em uma pequena escuridão.
- Única, é? Fiz o que era necessário. Jamais questione minha autoridade. Darei um jeito discreto na garota, só preciso acha-la. - Disse inclinando-se para ele e partindo logo seguida.
Gregório suou frio à testa, ele sabia que sua amante sabia o paradeiro da Vitali, rogava à ela em pensamentos para que abrisse o jogo. Mas isso não faria.
24 de Março de 2016; Quinta-feira; Cativeiro; 12:10hs da tardeMANUELA RIBEIRO
Neste dia peguei um caderno velho e comecei a rabiscar os meus pensamentos e as frustações do dia a dia.
Foi um dia bem... Perturbador. Uma mulher extremamente linda chegou aqui, morena alta de cabelos cor de chocolate, olhos verdes escuros de cílios e tamanhos chamativos, corpo exuberante; enfim linda dos pés a cabeça. Ela foi jogada no chão do quarto de maneira agressiva, gritou e dois rapazes (não vistos até aqui) lhe fizeram ameaças.
Logo se calou, encolhendo-se em um canto, senti pena até perceber que tão qual eu estaria na mesma situação.
- Agora as duas mocinhas vão se conhecer. Mas não se apegue muito a ela... Falando a mim ...não vai ficar muito tempo.
- O que houve com você? - Cheguei até ela, a mesma estava tão tensa que quase se jogou nos meus braços como um tigre de garras afiadas. Esbugalhei os olhos, permaneci sentada na cama acompanhando seus movimentos no solo.
- Podemos tentar sair daqui. - Disse mais uma vez, ao menos nessa ela deu-me atenção.
- Como? - Ela olhou aos arredores da suite, chateou-se ao não ver uma única saída possível.
- Tive uma ideia. - Murmurei um pouco entusiasmada. Porém a ideia era tão tosca que poderia vim a não dar certo.
- Eu não posso sair. - Afirmou muito triste.
O tempo passou no seu tic tac habitual, um silêncio terrível se apoderou da sala. Até Brunno nos trazer a refeição, ela recusou-se mas eu não, caí esfomeada.
- Um... Interessante. Ainda não me acostumei com essa loucura. - Entrou na sala uma jovem alta de aparência familiar. Olhei meticulosamente a mulher que acabara de entrar. Era ela o chefe? Chefe de quê? Pensei atordoada. - Você não sabe quem eu sou? - Murmurou aproximando-se de mim, sua compostura foi abalada ao notar a jovem de olhar mórbido no canto. Balancei a cabeça que não, porém a mesma não me deu nenhuma atenção.
- O que a mercadoria faz aqui? - Dirigiu-se a Brunno, que pareceu mais apático que o normal. Eu avistei a garota se contorcer, Deus sabe como me assustei com a expressão "mercadoria"; como alguém poderia ser mercadoria?
- Ela desistiu antes de embarcar, tivemos que improvisar. A chefia não vai gostar se perdemos o dinheiro...
- Você sabe por que a Iasmin está aqui, não sabe? - Ele assentiu após ser interrompido.
- Ninguém vai procura-la aqui; eu garanto. - Afirmou convicto.
- Acho bom. Agora arranje outro local para a rapariga, e me deixe a sós com ela. - Ordenou, entretanto Brunno continuou imóvel. - Vamos! Para ele. Sem escândalos. - Comunicou desta vez à bela jovem, enquanto Brunno a puxava pelo braço.
Levantei-me ao acompanhar a cena que sucedia-se naquele momento.
- No, no, no - Falou enquanto gesticulava junto ao dedo. - Sente-se. - Assenti esperando que ela contasse a história toda, depois quebrace a jarra de suco na cabeça dela, pelo menos na imaginação era um bom plano. - Confesso que eu não entendo essa sua troca de personalidade. Mas o nome Caile Maria lhe diz alguma coisa? - Ela ao se aproximar; meus olhos ficaram atônitos. Eu sabia quem era ela, a moça que entregou a carta...
- Você matou a Betany! - Levantei assustada com esta conclusão, cheguei a empurra-la; senti o seu desagrado com a atitude.
- Para quê isso Iasmin?
- EU NÃO SOU A IASMIN! - Berrei descontrolada; já podia até ver ela chamar os capangas para me partir a cara, mas parecia querer evitar.
- Melhor se acalmar. - Caile Maria disse cerrando os dentes.
- O Matheus sabe que estou aqui? - Respirei, lembrando da carta de Caile a questão era notória. "O Sampaio me contou que você é um perigo, e que logo terá que ir atrás de novos "recrutas" para o serviço sujo." . Ela ignorou-me, e atreveu-se até a ri.
- Vou lhe dizer o que precisa saber. Se sente.
Dei um tempo e acabei por sentar.
- Eu não sou sua inimiga. Assim que depositarem o seu dinheiro, você vai sumir. - Depositar? Sumir? Fiquei boquiaberta, evitando mais perguntas para não aborrece-la e acabar a calando sem querer. - Sim, sumir. De preferência viva ou prefere ser como o Vasco ou a chinesinha? - Engoli seco.
- E-e-e-u não entendo. - Maldita gagueira nervosa. - Como posso fugir se estou presa? - Perguntei ao ver que a primeira frase passou completamente despercebida. Ela suspirou profundamente.
- Você é muito chata ou muito burra. Querem te matar, Manuela ou Iasmin. Eu preciso traduzir isso?
- Não. - Respondo engolindo seco.
- Só que como Manuela é quase impossível garantir a fulga.
- Estão esperando ela voltar? - Joguei esta última pergunta a minha raptora, que aparentemente debocha em pensamentos.
- Querida; esperar é para os fracotes, os espertos fazem acontecer. Capite? - Piscou para mim, como se uma surpresa estava sendo montada para adiante.
Me drogaram à força, não sei bem de quem foi a ideia. Mas levou muito tempo para surtir o desejo esperado. Uma alegria besta tomou conta de mim, o mundo começou a girar no colorido psicodélico.
Contudo chegou uma hora que apaguei, e era difícil decifrar se me transformei em Iasmin nesse meio tempo ou apenas dormir, como dormiria qualquer drogado iniciante.
A Polícia revirou minhas coisas em casa, não havia provas lá. Antes de ficar desacordada eu já me perguntava o que ia ser feito de mim caso os tiras me encontrassem. Sou uma adolescente de dezessete anos que possuí problemas mentais; é deprimente o conceito, mas é a verdade. Iriam me prender em uma casa para menor? Se me encontrassem daqui a um mês iria para cadeia? Ok, todo mundo já sabe o que aconteceu.30 de 2016; Quarta-feira;
Hospital; São Paulo- Ela acordou. - Abro os olhos com Lara em cima de mim. A mesma quase me deixa sem ar com tanta euforia. Pisco duas ou três vezes para adaptar os olhos ao ambiente e encontro a face do meu pai desta vez, que aparentava um grande desgosto com a vida.
- Que bom. - Murmura ele mais alegre.
- Aonde estou? - Disse zonza, com a ilusão que a morte de Júlia e tudo que veio a seguir passara apenas de um sonho.
- No hospital... Em São Paulo. - Lara excita ao falar, olhando vez ou outra cautelosamente para Rodrigues. Demoro processar a informação.
- Em São Paulo?
- A Polícia encontrou a Caile, o Brunno da nossa escola... - Fecho os olhos com tristeza, tinha esperança que aqueles nomes não passassem de uma fantasia de inconsciência. - Manu? Se quiser a gente fala disso depois.
- Lara; me deixe sozinho com ela. - Rodrigues a pediu com sutileza. Logo minha amiga saiu.
- O que está acontecendo pai? - Murmuro ao sentar-me na cama.
- A Polícia se esforçou muito para fechar o caso, Caile não passou despercebida nas câmeras de segurança do Prédio. Logo a encontraram, depois dela você foi fácil. - De repente meu pai parecia saber de todo o inquérito, apesar disto confudiu-me quanto ao caso em questão.
- Eu sou acusada de quê exatamente? - Sr. Rodrigues suspirou com a pergunta, nós dois já tínhamos a impressão que o interrogatório não cessaria em uma noite.
- Manu; eu falei do caso da chinesa. A Polícia está investigado o envolvimento dos Sampaios com tráfico de pessoas, e ao que tudo indica você foi cúmplice no assassinato. - Seu tom sereno, não diminuiu a tensão de suas palavras.
- Cúmplice... - Esforço a memória, esta não me serve de nada. Só mais tarde ele diria que era a melhor das hipóteses.
Ainda não sabia como cheguei até São Paulo. Até saber a data no hospital me assustou, minha vida virou um inferno: interrogatórios, tranquilizantes, jornais. Sabia pouco, contudo ajudei a Polícia como pôde. O delegado não engoliu a minha doença, o compreendia, o mesmo exigiu a internação.
E foi isso no dia primeiro de abril acabei internada, Rodrigues não relutou em nenhum momento na decisão. Ao contrário, de certo, que até a apoiou.
Nos dois primeiros dias vieram Lara, Emanuel, Dona Beta e meu pai. Traziam mensagens de conforto, exceto Emanuel que deixava bem claro que detestava este "mundo cinza", e no dia que quisesse ajuda para fugir podia contar com ele. Eu não podia andar no Jardim que lhe falei outrora, estava muito instável. Nem sei como poderia está instável se só dormia. Dr. Brenack me garantiu que logo diminuiria os sedativos, e assim fez.
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Dupla Personalidade - Quem sou eu?
Mystery / ThrillerEnquanto muitos morrem em leitos de hospitais com câncer, tumores e órgãos falidos; outros morrem dentro de si mesmos hipocondríacos. Nunca se sabe o quão suscetível a mente humana pode ser, eu sou a prova viva desses relatos. Meu nome é Manuel...