Quarta-feira; 23 de Março; Flath em Copa Cabana (Cativeiro)
MANUELA RIBEIRO
Já estava naquela gaiola de Ouro a um dia. Perguntava-me se Brunno não estudara mais; só sei que sua presença me deixava tonta.
Me sentia ignorante; parece bizarro o uso do termo. Mas é essa a palavra, e não há outra. Alguns autores se atreveriam a utilizar o adjetivo burra, o que seria um equívoco; pois se bem me lembro- o burro é o que não quer aprender, já o ignorante simplesmente não sabe.
O por que de me sentir assim, era bem simples, não via o mundo, desconhecia as verdades desse mistério cabeludo, e pior esquecia o sabor das letras; uma ignorância quase mortal.
Nesse momento me sinto traindo o leitor, revivendo e evidenciando o imensurável tamanho da melancolia; e por fim abandonando e até esquecendo os fatos.
Então vamos aos fatos! Este livro é minha história. Contudo isso não significa que só eu importe, que só a minha vida seja representada entrelinhas. Então; espero encarecidamente que apesar do estilo metafísico; oras atual, oras clássico; o leitor compreenda a situação. Este capítulo não será contado por mim.MATHEUS SAMPAIO
O delegado me fuzilou, seus olhos realçados pelas grossas linhas me intimidaram até a alma. Cara sinistro.
- Tenhe certeza do que está me dizendo? - O delegado pediu uma confirmação dos relatos. Senti estremecer, cheguei a engoli seco.
- É a verdade; delegado. - Pronto essa parte do mistério estava resolvida, mas muito ainda tinha que ser contado. Já era tarde, teria saído do Colégio à pouco; estava indo à escola por obrigação, mais que o normal.
Não sou insensível. Doeu contar, algo dentro de mim se negava a acreditar que "Manuela Ribeiro" é uma mentira. Apesar de tudo minha suspeita principal ainda é Lara.
Se eu tivesse um pouco de vergonha na cara, revelaria minhas mentiras para o delegado desleixado. Mas não quero pensar que saibam que sou um covarde; "então é isso!" A ficha caiu nessa hora, como poderia julgar tanto Manuela se nem ouvi toda a história da própria? Ela poderia ter sido guiada em mesmas condições, à base do medo.
Estava na porta da delegacia, era simples, um passo e tchau. Porém nos últimos dias aprendia o significado da palavra consciência; é algo que existe no cérebro e te barra de fazer mais idiotices, o senso da ética e moral.
- Arf. - Suspirei, retornando.
- O que houve garoto? A menor já está sendo procurada.
- Não é isso; é sobre o dia do assassinato. - Sentei-me rapidamente. - Eu menti. - Tanto o delegado quanto o policial que rondava a sala esbugalharam os olhos.
Batem à porta. Primeiro era um policial um tanto inconveniente do qual o delegado foi nada compreensivo; e antes de completar qualquer outra frase surge o pai da Manuela; Sr. Rodrigues.
- Isto virou a casa da mãe Joana! - Resmungou o delegado, o homem de meia-idade e mau vestido tinha nos olhos à fúria alimentada pelo estresse matinal. Mas era o trabalho dele.
- É o pai da moça, faz parte do caso. - A policial de olhar intrépido e voz suave utilizou do tom mais leve possível. O homem por fim assentiu.
Confesso que ser posto lado a lado com o pai de Manuela, me deixou mais desajeitado ainda; caralho! Agora não tem pra onde correr!
- A minha filha desapareceu...
- Temos consciência. - O delegado avisou sem nem olha-lo. Continuava me encarando, seu olhar era semelhante a de uma pistola calibre 38. Não que isso fizesse alguma diferença, ao julgar pelas condições como a distância; temeria até mesmo o "olhar de uma espingarda".
- Quero ouvir o mauricinho. - Rígido; o queixo pouso sobre o punho. Sorri com o termo, mera tradição da minha personalidade.
Fiquei olhando aos arredores, como a expressão do ouvinte ao meu lado. Ele padecia, o olhar morto e triste; contudo era visível o receio curioso em ouvir o que o assassinato tinha a ver com sua filha.
- Vai ficar mudo? - O delegado incitou-me mais uma vez. Com os lábios secos e perturbado demais para voltar atrás; projetei em mente a verdade. É como um Flash Black ao passado, aquela noite caótica cujo as palavras das despedidas se reduziram " ...Então vá! Também não me amole".
- Eu estava lá quando o crime ocorreu. Voltei para procurar Iasmin e acabei preso em um dos vestiários. - O delegado desentendeu a mentira.
- Por que não disse isso antes?
- Me senti fraco, ouvi o tiro abafado e não pude fazer nada.
- Como saiu? - Murmurou a pergunta óbvia. O Sr. Rodrigues continuava com cara de tonto, sem ligar nada com nada.
- Um amigo me tirou. E foi por isso que eu não falei nada, ele ficou com medo e não queria dar depoimento.
- Ele viu o criminoso? - Balancei a cabeça negativamente. - Isso complica as coisas... O rapaz mentiu feio para Polícia, disse que foi embora com a namoradinha e agora no entanto apresenta uma versão muito contrária aos fatos. - O delegado por pouco não insinuou que eu materia minha própria irmã. Comecei a oscilar as cenas, esta maneira engenhosa de falar na terceira pessoa. Um advogado teria sido bem vindo, mais uma vez agi por impulso.
- Se pretende colaborar com a Polícia sugiro que conte a verdade, e isso incluí o nome do seu amigo e claro: como foi ficar preso no vestiário? - Engoli seco, meus olhos arderam. Sr. Rodrigues acompanhava de perto meu nervosismo.
- Eu... Não sei bem, armaram pra mim.
- Quem? - Disse baixinho.
- Iasmin, eu acho. - Murmurei demasiado tenso. O delegado dirigiu o olhar discretamente para o Sr. Rodrigues, que se atenuou confuso.
- Sei... E como é mesmo o nome do seu amigo? - Permaneci calado. - Marla, ligue para os pais do rapaz... Algo me diz que vamos ter uma longa conversa. - Murmurou autoritário; engulo seco, sem saber o que pensar.
Logo a policial loira de cabelos acinzentados me levou até uma cadeira largada no corredor. O delegado terminou a conversa bem depois da chegada dos meus pais, estes mantiam-se apreensivos.
- Você mentiu sobre o caso da sua irmã?! - Minha mãe pegou-me de surpresa, boquiaberta em estado de choque.
- Não é bem assim. - Disse em tentativa de defesa, mas eu mesmo sofria com ressentimento.
- O advogado já está a caminho. - Murmurou o Sr. Gregório com frieza após desligar o telefone.
- Isso é mesmo necessário? Ele ainda é de menor. - Com a voz rouca e olhos propícios a lágrimas ela tentou acalentar as coisas.
- É. - Foi a única coisa que saiu da boca do meu pai antes de virar-me as costas.
Meus pais mal abriram a boca para falar comigo. Busquei durante todo o tempo explicar para minha mãe as minhas razões, porém ela mal me ouvia; com razão. O celular do meu pai tocou mais uma vez, o que era natural vivia tocando e isso despertava em mim grande chateação.
- Venham! - A policial nos chamou assim que o pai da Manuela saiu, Gregório agarrado ao telefone foi tão vagarosamente que ouvi o mínimo do seu assunto.
- Você não vem? - Maria Lúcia dirigindo-se à Sampaio, todos partimos em direção à sala inclusive o advogado que acabara de chegar, ele no entanto permaneceu imóvel.
- Problemas de negócio. É importante.
- Mais que isso? - Questionou ela chorosa indignada. Meu pai não disse nada, apenas virou às costas e saiu.
Na sala pouco se sabia se a face aborrecida de minha mãe era consequência das minhas ou das atidudes de meu pai. Contudo não era só aborrecimento, crescia nela uma depressão, tristeza profunda; pouco falava. O delegado dirigiu à ela relatos da conversa anterior, como também perguntas, ela mal conseguia dizer uma só palavra. Voltou a insistir quanto ao nome do amigo, aconselhado pelo advogado a colaborar integralmente, dei por vencido dizendo que se tratava de Brunno.
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Dupla Personalidade - Quem sou eu?
Mystery / ThrillerEnquanto muitos morrem em leitos de hospitais com câncer, tumores e órgãos falidos; outros morrem dentro de si mesmos hipocondríacos. Nunca se sabe o quão suscetível a mente humana pode ser, eu sou a prova viva desses relatos. Meu nome é Manuel...