Prováveis Culpados

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    Era dia, e o dia se fez noite. Noite de Domingo; 20 de Março de 2016. Foi a data que enfermeira me passou, mas ultimamente estou pior que Descartes, ou São Tomé se prefere ditos religiosos.
    A verdade, é que me enganei em minhas suspeitas. Betany estava morta! Emanuel foi ao hospital à tarde, e por incrível que pareça meu pai quem havia o telefonado. "Ela morreu por chegar perto demais, e acho que até chegou", disse ele.
    Disse também que a notícia da sua morte teve mais repercussão que a da própria Júlia. A forma como a mataram - queimada (álcool e fogo) em uma banheira.
    A certeza do trágico fim de Betany Maxi, perturbou-me. E não foi só isso, os olhos avermelhados e olheiros de Emanuel marcavam a sua sensibilidade, e reclusa admiração por a jovem detetive. Tentei mudar de assunto, até as dores de cabeça mencionei; estupidamente.
    Mas como falei no início do capítulo, já era noite. Portanto Emanuel teria ido embora.
    Outro fato interessante sobre à noite é que notei que tinha mudado os trajes, obras da higiene, não sei ao certo. Meus rasgos estavam amostra.

    O dia amanheceu. A enfermeira flácida e grisalha, importunou-me quanto às marcas de cicatrizes no braço esquerdo. Só havia a questionando o porquê do meu braço arder tanto. E ela me distratou. Velha infeliz.
     Já era segunda-feira. Não via mais os muros da escola, mas com certeza o diretor Euder deveria estar arrancado os cabelos, os poucos que sobravam na sua cabeça.
    Sei o que está pensando, caro leitor, "outra vítima e você pensando quantos fios de cabelo o diretor possui". Perdoe-me então; mas encare a nota como um adicional a importância da nova tragédia.
    Se o anel encontrado no crime era de Betany ou não, talvez eu nunca saiba. Mas naquela manhã a cabeça doía menos, e mesmo que por vezes pensasse que infeliz sou por não quebrar a cabeça no chão e morrer de uma vez, também refletia sobre os horrores deste mês.
    O anel era de Lara, a foto deixada no local também. Por que este assassino queria jogar tudo em suas costas? Será que ela sabia o motivo, por isso quis se afastar? Parecia um pouco óbvio o raciocínio, óbvio demais.
    Naquele dia perguntei ao meu pai se sabia dela, perguntei sobre as notícias do assassinato, e até se iria sair daquele lugar. Ele só me respondeu a última concretamente. Que "sim".
- Quer me contar algo? - Li suas expressões.
- Eu vi suas marcas, isso é muito sério Manu. - Comentou melancólico. Vi que era apenas uma introdução, levei as sobrancelhas ao teto. - Dona Beta e eu estivemos conversando, e cheguei a conclusão que só seções e tratamento com remédios não serão suficientes... Talvez, uma clínica.
- Am? - Interrompi pasma.
- Filha... - Tentou me apaziguar. No entanto mexi bruscamente.
- E a mi-minha opinião não... importa?
- Claro que importa. Vamos tentar do seu jeito, mas...
- Mas não vai dar certo. E eu vou parar em manicômio. -Disse ríspida, e sem esperança.
- Não fique assim. Quando você sair daqui, tratamos do assunto.
O respondi com silêncio. Ele sentou-se do lado da cama. Enquanto virei o rosto no lado oposto, queria disfarçar o pequeno ar de choro.

- Onde está minha bolsa? - Questionei após meia hora de silêncio. Lembrei-me da carta, entregue por uma estranha e suspeita.
- Quer o seu celular?
- A bolsa.
- Aqui. - A ergueu. Aparentemente havia sido jogada em um canto qualquer.
- Não; não quero nada. Só queria saber aonde estava. - Disfarcei. Se meu pai visse a carta, sem dúvida, a tomaria de minhas mãos. E duvidei muito que nela estivesse notícias benéficas.

...

    Finalmente sair daquele hospital... Uff. Claro que havia como consequência a pilha de remédios, muitos analgésicos para suprir a dor insuportável. Nunca amei tanto os ares da minha casa velha e restaurada.
    Meu pai encarava-me de espreita. Qualquer passo que desse, ele estaria logo atrás. Sinceramente não sabia se esse protecionismo era útil, apesar de reconhecer as boas intenções.
    Emanuel mandou-me mensagens desejando sinceras melhoras, e reconhecendo a impossibilidade de uma visita. Lara garantiu vim por volta das 18 horas, era a primeira vez que ela demonstrava sinal de vida.
    Recebia as mensagens; enquanto por vezes, entre um piscar e outro, me chocava com o olhar morto do Sr. Rodrigues. Fui intimada a ocupar o mesmo cômodo, está a frente das suas vistas; e isso incomodava-me mais do que as ataduras que ainda rodopiavam a cabeça.
    O dia já estava prestes a anoitecer. Meu pai não comentava a respeito da sessão marcada, se havia a reagendado. Aliás; não dirigia nenhuma palavra. Houve uma hora, se bem me recordo, que ele ignorou a minha existência por conta de uma conversa virtual.

Dupla Personalidade - Quem sou eu?Onde histórias criam vida. Descubra agora