O branco no branco; o teto branco, o piso branco, as paredes brancas; tudo refletia branco, era só uma cor: o branco sobre o branco. De repente as paredes se pintam pouco a pouco e o branco vai perdendo seu tom, a sua luz.
Não era só o preto que ganhava espaço na sala, a perda de luz me entristecia por algum motivo desconhecido. E ao chegar a última parede sinto-me completamente sufocada, os meus olhos se fecham:
- NÃO!! - Acordo em meio ao desespero e suor na testa. Minha respiração estava ofegante, me assustei ao perceber que já tratasse de uma manhã. Como podia ser Sábado? Peguei o celular, talvez ter dormido tenha me confundido.
Sim! Já era manhã de sábado! Eu teria que ter dormido 19 horas, este tempo todo sem comer e não sentia fome. A bizarrasse dos acontecimentos me impressionavam cada vez mais.
O quarto continuava bagunçado, lembro-me bem de como lhe deixei antes de apagar no carpete. A propósito como cheguei à cama? Eram tantas perguntas, sem ninguém para responde-las.
Minha cabeça doía demais, sentia sede. Desci até a cozinha, e com susto deparo-me com uma desconhecida. Esta me olhou da cabeça aos pés.
- Oi?! - Passei direto para Geladeira a uns 60 cm do lado esquerdo da mesa.
- Oi. - Ela me respondeu com naturalidade e indiferença ao mesmo tempo. A encarei sem expressão, virei-me enquanto colocava a água que bebia, alternando os olhares em sua direção.
Ela parecia despreocupada, tomava café bem acomodada. Lábios vermelhos, sorriso largo, vestido também vermelho combinando com sua pele morena; no modo geral até que era bem bonita. Subi as escadas contrariada com a falta de civilização entre mim e ela. Um "oi", estava na cara que foi meu pai quem a trouxe, "ele nunca trás mulher nenhuma pra cá", se a trouxe é porque pretentede ter algo sério; ela podia ter tentando dar uma melhor impressão. Sei que não posso culpa-la a minha roupa não ajudou, uma camisa longa acompanhada de pantufas com cara de coelhos, sem falar nas olheiras e o cabelo bagunçado. Subi ao meu quarto.
Meu pai desceu as escadas trocou algumas palavras, e ela comentou, pelo pouco que ouvi, o fato de ter me visto.
- Manuela vem aqui. - Chamou-me de forma suave. Desci rapidamente.
- Bom dia, pai. O que foi?
- Quero lhe apresentar a Roshely, minha namorada e quem sabe esposa. - Na minha cabeça eu dizia:
- Você enlouqueceu? Aposto que mal a a conhece.
Mas...
- Oi Roshely; Manuela. Seja bem vinda a família. Posso ir? Tenho que trocar de roupa. - A cumprimentei formalmente, como manda o figurino.
- Calma. Não é só na nossa família que ela está entrando, irá morar conosco. - Em estado boquiaberta arregalei os olhos. Ela com tudo achou graça.
- Se não tiver problema pra você, é claro. - A dama de vermelho completou.
- Por mim tudo bem... Se meu pai acha que dá pra ser... Com licença. - Foi o melhor que consegui fazer.
Final de semana parado. Emanuel veio me visitar, estranho logo ele! Sempre utilizou o fato de morar distante um obstáculo para me ver. Fiquei muito feliz em vê-lo.
- Como você tá Manu?
- Bem. Apesar de todas as tentativas ainda não me juntei ao índice que cai em depressão ou tira a própria vida por conta de problemas.
- Claro você é uma menina forte. - Levantou as sobrancelhas alternando-as para cima, para baixo. Estavamos largados no sofá, curtindo o vazio da casa.
- Forte? Eu? - Duvidei.
- Sim Você! - A ponto de se levantar e como um bobo se pôs a minha frente.
- 1 ano sem reação, sempre convarde a ponto de se calar mesmo em meio ao terror que vivi. Como posso ser forte? Você está louco!
- Nada disso!Você é forte não exerga os próprios músculos? Aqui eles. - Pegou em meu braço e o apalpou; não sei se zombava ou não de mim, só sei que como uma tonta achei graça.
- Como você está? Soube que a galera do Matheus te bateu.
- Aff! A Lara é uma língua solta. - Bufou, ao mesmo tempo que sentou-se.
- Como se a escola inteira não falasse do assunto...
- Eu não sei porque apanhei! Eu não tentei nada. A Rebeca é uma garota legal pra namorar um idiota como o Matheus mas isso não quer dizer que eu vá dar em cima da garota. Acho que tudo isso pelo mesmo motivo de sempre... O motivo por todos na escola serem indiferentes comigo.
- Todos da escola são idiotas, e a lista se inicia pelos Sampaios.
- Eu sei. Já nasci lutando com isso.
- Você e a Lara são os meus únicos amigos, talvez se vocês estivesse no lugar deles não seriam.
- Não vou mentir, se eu fosse rico e branco talvez fosse um desses metidos já que tive pesada influência sobre minha criação. Mas a Lara sem dúvida continuaria sendo sua amiga.
- A Lara é muito sincera. Somos ótimas amigas.
- É. Amigas... - Sorriu sem dentes, ficou pensativo. Imaginei que estivesse viajando em seu mundo próprio.
- Ei! Acorda! - Estalei os dedos em sua frente.
- Loira chata!
Ele sorriu mais ainda, e como de costume começou a bagunçar o meu cabelo, quando por algum motivo parou com um ar sério.
- O que foi? - Virei-me afim de ver sua face. Ele encarava pasmo o meu pecoço.
- Manu que chupada é essa?
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Dupla Personalidade - Quem sou eu?
Mystery / ThrillerEnquanto muitos morrem em leitos de hospitais com câncer, tumores e órgãos falidos; outros morrem dentro de si mesmos hipocondríacos. Nunca se sabe o quão suscetível a mente humana pode ser, eu sou a prova viva desses relatos. Meu nome é Manuel...