Corri, não que ele vinhesse atrás de mim mas precisava correr mesmo assim. As atitudes de Matheus estavam fora do comum, e nada me tiraria da cabeça que se tratasse de uma outra pegadinha. Afinal queriam repetir a história, só que desta vez não cairia.
Podia continuar sendo fraca, quieta e estupidamente pacífica mas não quer dizer que continuava a ser idiota. Pietro era um cara com uma fama completamente oposta a Matheus e fez o que fizera comigo. Risos seriam poupados.Colégio IBPI, Quarta-feira 8:00
- Então você e o Emanuel...
- O que tem? - Padeci desentendida.
- Vocês brigaram? - Lara curiosa.
- Tivemos um desentendimento. Mas ele que não quer falar comigo.
- Deixa ele. Emanuel é cú doce! Isso a gente sabe...
- Você não tem uma maneira menos grosseira de descrever as pessoas?
- Não. - Piscou os olhos repetidamente em busca de um toque angelical.
Depois não falamos mais nada o professor Dácio "tossiu" em nossa direção. Apesar que faltava apenas 20 minutos para o término de sua aula. A verdade é que ninguém prestava atenção em suas aulas, apesar das lições e contrariedades filosóficas célebres as meninas achavam sua beleza divinamente mais interessante, e os meninos enojavam isso.
Esta saída seria diferente, esperaria Emanuel, três dias passaram e ele não me dirigia a palavra, querendo ou não apesar da infantilidade ainda tratava-se de um grande amigo. Lara sendo extremamente orgulhosa se opós a minha decisão. Mas eu não sou, e isso devia ser respeitado. Um amigo é maior que o orgulho, sem orgulho nos sobra o amigo; sem o amigo de quê serve o orgulho? Nada! Eu sempre pensei assim, aliás, se eu não tomasse uma atitude perderia Emanuel a troco de nada.
Ele veio lentamente. O chamei em um sinal discreto; Lara virou os olhos não sabia o motivo da briga; portanto ao menos desta vez não quis intrometer.
- Eu já vou indo. Caso queira me contar como foi a conversa... Você tem meu número. - Saindo logo após a proximidade de Emanuel.
- Sim eu tenho. - Concordei. Ela virou-se, sorriu delicadamente e levantou as sobrancelhas franzindo a testa. Não sabia bem o que a expressão significava, mas pôde notar a tão comum indiferença à Emanuel. Suspirei e começei:
- Quero conversar com você. Não quero que fique bravo comigo.
- Manu eu tenho que pegar tranporte. Não tenho porque está com raiva. Conversamos amanhã. - Disse. Logo após começar a correr.
- Espera! - Murmurei
- Preciso ir! - Distante, corria e eu já não sabia se era do tempo ou de mim.
- Ótimo agora estou sozinha. - Pensei alto, Alto demais pôde até ouvir o pensamento me responder.
- Posso acompanha-la se quizer. - Para a minha tristeza não se tratava de pensamentos e sim de Matheus.
- Estou acostumada a ir sozinha. -Prossegui. O ignorei.
- Eu estou de carro. Não tenho o menor problema em te levar. - A proposta pareceu tentadora. Era melhor que ir de ônibus, caso ninguém aparecesse... Por outro lado...
- Como assim? Matheus você enlouqueceu? Ia me levar, não lembra? - Júlia interrompeu meus pensamentos.
- Pensei que podia levar as duas. - An? Pensei sem dizer uma palavra, tanto eu quanto ela padecemos boquiabertas com o cinismo de Matheus.
- Você está brincando! Acha mesmo que eu vou dividir espaço com esta gentinha? - Júlia sendo Júlia.
- Não se preocupe quanto isso eu jamais dividiria ar com você. Afinal meus pulmões ainda estão bons.
- Meninas, calma, não briguem!
Virei-me as costas deixando para trás qualquer zumbido que podesse tornar meu dia irritante.
Naquela tarde logo após o almoço, ou seja, logo após encarar por 20 minutos o rosto insatisfeito de Roshely, subi as escadas e fui ler cartografia pois ainda distorcia a diferença entre latitude e longitude. Meus estudos não duraram meia hora quando o Sampaio bateu à minha porta, parecia brincadeira mas era real; ele estava lá sabia Deus para quê, com quais intenções. Juro que a minha vontade era expulsa-lo, depois do nosso último encontro minha impressão não podia ser pior.
- Podemos conversar? - Falava sério, porém seu típico sorriso brincalhão ainda lhe era pertinente. Rochely havia trancado-se no quarto, e Matheus embora já houvesse entrado aparentava querer rogar "permissão".
- Não veio falar do trabalho? Não é verdade? - Perguntei com frieza, apesar que o ar inocente forrava qualquer palavra que saísse da minha boca. Eu era gélida, mas passava a impressão de uma menina medrosa e desprotegida.
- Não. Posso sentar?
- Pode. - Assenti. Gesticulei na direção do sofá.
- Quero pedir desculpas pela forma como me comportei. - Não conseguia olhar no meu rosto. Vi que era difícil para ele pronunciar uma palavra tão simples. Eu ainda estava de pé. - Não quis agarra-la, nunca toquei em uma garota com o corpo tão leve.
- Eu tenho 1,60 e peso 42 kg o que esperava? Se era só isso... Está desculpado. - Brinquei. Apesar que a lembrança do toque avassalador de suas mãos no meu corpo ainda me estremecia. No fim eu só queria que ele fosse embora sem ter que explusa-lo.
- Na verdade. Eu vim até aqui para pedir desculpas, mas também porque durante o trabalho eu vi que eu estava errado...
- Errado sobre o quê? - Minha curiosidade se aguçava mais uma vez. Tanto que me sentei, não estava projetada à sua frente todavia isso não impediu de encara-lo.
- Sobre Você! - Olhou diretamente em meus olhos, com aqueles olhos grandes azuis quase violetas. Fiquei muda, deixei que terminasse. - Durante o trabalho percebi que você não era a esquisitona que todos chamam no corredor...
- Não?! - Duvidei.
- Bom... Você até é mas isso não é ruim. A torna, sei lá, interessante. - O modo como me descrevia era ridículo "interessante" disfigurava-se do sentido real que os jovens davam a palavra. Porém pela primeira vez exergava sinceridade em algo que ele dissesse. Dei-lhe um pequeno sorriso doce.
- um... Interessante? - Murmurei após o silêncio. Queria ouvir mais, mesmo que fosse mentiroso, já havia esquecido de o expulsar.
- Eu sei que a irritei no dia em que peguei seu óculos... - O encarei rígida. -... e ri de muitas pegadinhas que fizeram com você, mas não sou um inimigo. - Sua APROXIMAÇÃO ERA SUSPEITA ao que dera entender até aquele momento queria minha amizade. Mas para quê? O cara mais gato do Colégio estava na minha casa justificando suas ações, e pedindo desculpas? Para que diabos, fazer isso? Só para ter a amizade de uma desajeitada, a qual todos rejeitam e abominam!! Eu só podia estar naqueles sonhos onde...
- Manuela? - Aproximou-se de um canto do sofá ao outro e acariciou meu queixo sutilmente. Ele notou que estava despersa com meus pensamentos e por fim os interrompeu, prático!
- O que quer comigo? - Fui dura e tirei seus dedos rapidamente. O fitei, e apesar da rudeza a qual compus as palavras ele continuava com aquele olhar bobo e aquele sorriso cínico, do qual não suportava.
- Não sabe? Achei que estivesse sendo claro!
- Você está dando voltas. - Dei de ombros.
- Pois eu não sou único! - Acomodou-se ainda mais no sofá. - Sabe o que quero, mas não acredita! Sabe que quero ficar com você, mas não acredita que o cara mais LINDO do Colégio esteja afim de você. Não é isso, Baby? - Eu não deveria, mas ri. Ri por ignorar todo o resto, e gravar a palavra LINDO tão bem em minha mente. Havia esquecido o quanto era convencido.
- Como você é modesto! - ironizei, apesar de não ser do meu fetio.
- Vai dizer que não me acha lindo? - Ergueu-se do sofá pondo as duas mãos sobre meu rosto.
- Sim. - Pôs minha mãos sobre as dele. - Lindo demais para ter um cérebro contudo lindo demais para mim. - Seu rosto tornou-se inexpressivo. Tentei não bancar a coitadinha. Ele se afastou, meus toques de maldade repentina (aprendidos com Lara) às vezes servia para alguma coisa, tinha certeza que ele ia embora por conta própria.
- Você curte Star Wars? - E lá estava ele de novo, com o mesmo sorriso cínico e o brilho no olhar "de senhor perfeito".
- Você é uma fênix humana! - Não evitei.
- O que a Fênix tem a ver com Star Wars? Falei porque vi que você curte astronomia... e... Star Wars é guerra nas estrelas.
- Como sabe que gosto de astronomia? - Estava disposta a tira-lo de minha casa a força, de chamar a Polícia caso não quisesse sair, antes da pergunta. Mas a curiosidade... bom
- Vi nas suas estantes. Notei que gosta de astronomia, psicologia, física e algumas áreas de humanas. E que com relação a literatura prefere ficção científica, mistério, alguns romaces a maioria são livros velhos...
- Clássicos. - O corregi apesar da palidez que sua habilidade perspectiva consiguira me constranger. Ele riu vitorioso continuando sua análise.
Passei a tarde inteira conversando com Matheus, ele falava besteiras o tempo todo como Emanuel, só que menos respeitoso e por vezes mais engraçadas. Foi embora por conta própria porém não pôde negar que Matheus ter me falado de seus gostos e como desenvolveu sua habilidade de observação tornou o dia um pouco menos tedioso. Rochely saiu antes dele, sua cara não era diferente de quando almoçamos, felizmente sabia que eu não havia a ver com seu mau humor; portanto não podia me culpar por isso.
Passei um tempo lanchando na cozinha, estava bem, até que durante a subida para meu quarto: Minha visão disfigurava-se a cada degrau, parecia tonta e no fim eu já não existia mais. Eu dormir sem a lembrança de fechar os olhos...
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Dupla Personalidade - Quem sou eu?
Mystery / ThrillerEnquanto muitos morrem em leitos de hospitais com câncer, tumores e órgãos falidos; outros morrem dentro de si mesmos hipocondríacos. Nunca se sabe o quão suscetível a mente humana pode ser, eu sou a prova viva desses relatos. Meu nome é Manuel...