1°segredo: O pai de Lara

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LARA RAMOS

    Aquele corpo queimado, acinzentado e fétido. Essa lembrança não me saía da cabeça. Derrepente vejo a imagem se repetir, denovo e denovo.  Trauma? Haha me recusava a adoencer por isso. Não é justo, nunca quis me envolver nessa merda de assassinato!
    Já gritei FODA-SE pra tudo inúmeras vezes, porém sabia que não poderia ficar distante desta história toda, mesmo que fosse meu desejo. Meu nome se meteu nisso desde de visto o maldito anel no crime.
    A tarde voltava à pé para casa, como sempre. Como já não bastasse tudo de ruim dos meus dias, minha mãe apareceu com uma ideia tosca de ir para Copa Cabana.
- Eu gosto daqui, é um bairro bom perto da escola. - Argumentei.
- Mas achei um apartamento INCRÍVEL. - Disse ela histérica. - Tão espaçoso quanto esta casa.
- Tanto faz. Não quero. - Falei direta para que entendesse perfeitamente. Para quê tanto espaço, éramos só duas. Subi ao meu quarto deixando que ficasse com seus sonhos esbanjadores sozinha.
- Não pode continuar me evitando. - Disse ela; invadindo meu quarto e ainda se vitimizando.
    Comecei esse tratamento desde do sábado de manhã. Discutimos feio na sexta à noite, e desde de então há uma certa frieza no ambiente. Eu descobri coisas sobre o meu passado que derrubou à estrutura do meu chão.  Claro que a experiência de ver um corpo incinerado fez-me esquecer muitas coisas, mas não iria desistir tão facilmente da verdade.
- Me diz logo a verdade! Quem é meu pai??
- Lara; você já está cançada de saber esta história. Seu pai morreu no exército. - Ela disse com os olhos repletos de ternura, uma cara de quem força inocência.
- MENTIRA! - Gritei. Recordando do que descobri revirando papéis. - Eu vi o exame do Calisto, ele não podia ter filhos! Você mentiu pra mim a vida toda.
- Você não tinha nada que mexer minhas coisas. - Tenha dó! Fez um leve tom acusador, só piorava a situação.
- Se não quer me falar a verdade, então saí. - Apontei para a saída do quarto; ríspida.
- Você não tem o direito de me tratar assim. Não sabe o que passei. - Minha mãe continuou, se aproximando. Tinha nos olhos um sentimento de angústia, se a intenção era me fazer sentir pena, ela estava perdendo tempo.
- E como irei saber? Não quer me contar.
- É uma história triste e longa, Lara. - Falou ela sentando-se na cama. 
- Algo me diz que pode ser bem direta. Quem é meu pai? - Insisti. Aquela conversa foi evitada durante 4 dias. E ainda queria ganhar mais tempo?
- Se eu te contar você nunca vai me perdoar.
- AH! ! - Serrei entre os dentes, voltei-me para ela. Contendo-me para não lhe dar um tapa na cara, afinal não se bate em uma mãe por mais que ela mereça. - Não; se você não me contar é que isso irá acontecer! Pare com tanta enrolação! Tenha o mínimo de respeito! - Falei descontrolada. Toda essa discussão era reprise da sexta-feira noturna. Ela levantou-se, foi em direção à janela, aonde eu estava girando como um pião.
Exugando as lágrimas, pronunciou poucas palavras.
- Seu pai é Gregório Sampaio. - Arregalei os olhos com a notícia, parecia até fantasiosa.
- Não...não pode ser. - Repetir o eco da cabeça. A informação me deixou mais desequilibrada. As lágrimas começaram a escorrer.
- É a verdade. - Ela se aproximou tentando tocar no meu rosto. A empurrei, mas não sair do quarto queria ouvir a história toda.
- Me conte o resto. - Pronunciei mantendo o ar irredutível.

Derrepente a campainha toca. Poderia ser a Manuela? Desci para ver. Pietro já havia atendido; nem lembrava da sua presença.
- Quem é? - Perguntei para ele. Ele no entanto, só arregaçou a porta; olhando-me com curiosidade.
- Matheus?! - Admirada e com os olhos chorosos. O que queria ele comigo?
- Podemos conversar?
    Sair para fora. Há dois minutos atrás mandaria ele pastar, o xingaria e pediria simplesmente que fossem ele e suas  desconfianças para o inferno! Porém estava visivelmente fragilizada. E diante da descoberta, não falava com qualquer um, mas com meu irmão? Ah não, era tudo muito surreal.
    As famílias Sampaios e Ramos já foram no passado muito amigas, mas tal amizade foi desgastada por intrigas e pelo tempo. Eu sou da era, em que Sampaios e Ramos são só um pouco mais que desconhecidos. E agora o destino ou sei lá o quê, quer nos aproximar unindo-nos pela genética.
- O que você... quer? - Murmurei controlando a coriza.
- Preciso falar com você. Não me parece bem, o que tem?
- Não interessa. Vamos conversar ali. - Segui em direção à praça com árvores.
- Eu não posso te acusar de nada, mas tudo se volta contra você. - Não resistir em revirar os olhos. - Recebi o relatório de Betany, o entreguei para a Polícia ainda a pouco. Sei que não quer se envolver, mas se continuar com esta conduta só vai piorar sua si...
- Meu pau! Você e Manuela não cançam deste discurso? - O Interrompi bruscamente. Meu tom aflito fez com que além de desentendido, Matheus continuasse mudo. - Olha o que aconteceu com ela? Desequilibrada vítima de uma outra personalidade fantasiosa. - Ele arregalou os olhos. - Você não sabe, não é? - Vi que havia falado demais. Poha!!!!
- O que tem a Manuela? - Suplicando em palavras que o contasse.
- Não interessa. O que importa é que todos que se envolvem nesta história acabam mal, mortos como Betany ou desaparecidos como Manuela. E eu devo me envolver? Não, obrigado. - Falei, crendo ter terminado. Matheus Sampaio pensou alguns instantes, antes que me levantasse; e quando fiquei de pé ele segurou-me.
- Você não vai há lugar nenhum. - Disse-me fuzilando.

Dupla Personalidade - Quem sou eu?Onde histórias criam vida. Descubra agora