Em lugar nenhum...

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Dia 10 de Março, Quinta-feira 02:30 da manhã; em lugar nenhum.

    Podia sentir de novo a minha existência, por tempo achava que  nem era mais viva. Seria daquele jeito a morte? Inexistente?
    Agora que já podia me sentir devia acordar, mas havia algo de errado. Minha acomodação era desconfortável, o quarto (não sei se era um quarto) era muito grande e fedia.  Ao abrir os olhos a escuridão era assustadora apesar das falhas do teto alto. Ao notar que não me encontrava no quarto, me mexir estremecendo todo corpo, eu suava frio havia medo em minha respiração; até porque ao se mexer sentir com força uma mão apertar o meu peito nu.
ERA TUDO REAL! E EU ESTAVA... Completamente... NUA! Fiquei imóvel por minutos, começara a chorar. Mas o importante mesmo era sair dali, depois descobrir como cheguei à aquela situação. Tirei a mão delicadamente apesar de estar trêmula.
    Quando levantei consegui perceber que um celular estaria próximo ao colchão velho e mofado que a pouco me encontrava.
     Usei a luz em busca de roupas, vi um vestido jogado no canto, não o reconhecia mas devia servir.  O vesti rapidamente e seguir indo na direção do que parecia ser uma velha porta de madeira, descalça levando o celular.  Fui com calma engolia saliva a todo momento sentia o estranho e amargurado sabor de álcool.
    1,2,3 abria à porta a cada centímetro,  só que para passar  precisaria puxa-la, a mesma ficara presa e sem maçaneta. A forcei, a força custou o silêncio.
- Já vai gostosa? - A voz grossa coberta de gíria, enchia-me de pavor.  A porta não  havia abrido quase  nada. 
Continuei tentando sem responde-lo. Senti que o jovem se levantava, pela voz devia ser jovem.
Minha respiração aumentou. Vi que não conseguia abrir, tinha que ter coragem de enfrenta-lo.
- Ainda é cedo. - Ele continuou. Falava naturalmente, ele ainda estava nu.  - Liguei o Flash em seu rosto, ele pôs as mãos nos olhos no automático.
- Fique com quer quiser, deixe-me ir.  - Nervosa, lágrimas desciam dos olhos.
Ele tirou as mãos da cara, porém suas pálpebras sofriam com a luz e ele forçava uma aproximação. Poderia ver seu rosto, acho até que vi, entretanto de qualquer modo não o lembro.
- Que foi vey? A maderada não foi boa? - Ele pressionou minha mão que segurava o celular, a luz ficou para baixo. Não suou agressivo, mas eu ficava a cada segundo mais tensa.
- Por...por... que está fazendo isso comigo? - Achei que fosse desmaiar.
- Eu não tô fazeno nada, a menos que c queira.  - Ele encostou a boca na minha orelha, sussurrou a última frase. Uma de suas mãos estava solta carregando algo leve cujo naquele instante não consegui identificar, a outra era atrevida, puxou-me contra seu corpo pelo bumbum apertando a nadéga esquerda, seu pênis estava ereto. QUE NOJO! A imobilidade que o medo geralmente causava-me foi deixado a escanteio, o empurrei o suficiente para afasta-lo e puxei aquela maldita porta com toda força que pensara ter. 

DUAS NOTÍCIAS:
A boa que a porta abriu, a má que não deu tempo de correr. Ele me puxou.
- Você quer ir vagabunda? - Me empurrou depois com muita força, cai porta fora. Fiquei no chão de um beco cheio de lixo. O celular caiu a uma distância segura. - Então vai. - Jogou o que estava em sua mão, era uma peruca ruiva. Entrou e bateu à porta.
    Sair dali, peguei o celular e a peruca. A rua estava deserta e o medo do que podia vim não podia ser maior do que passou.  Disquei o número de Lara, um dos poucos que havia decorado ao longo desses anos. Eram 03:12 da manhã ela devia estar dormido mas isso não iria impedir que tentasse, aliás eu não tinha opção se não tentar.
- Alô?? - Atendeu-me após a terceira chamada, sua voz baixa adocicada mal podia ser entedida mediante a tamanha sonolência.
- ... Sou eu Manuela. - Levei um tempo para dizer alguma coisa. O tom da minha voz a acendeu rapidamente.
- O que foi que aconteceu,Manu? É madrugada!
- Eu se-i mas que aconteceu uma coisa horrível. Eu estou em lugar nenhum com uma roupa estranha.  Acordei pelada do lado de um maluco! ME AJUDA! EU NÃO SEI O QUE ESTÁ ACONTECENDO!! - A emplorei.
- Eu já vou pra aí. Mas liga o localizador desse aparelho!
    Levou um tempo para Lara aparecer, minhas descrições foram péssimas; mas ela chegou, ou melhor elas.
- Vamos Emanuela. - Disse dona Beta com penalidade no banco do motorista. Enquanto Lara desceu do carro me agasalhando com um de seus casacos.
- Trouxe a sua mãe? - pronunciei ainda mais perplexa; afinal dona Beta e meu pai eram tão amigos quanto eu e Lara. Seria terrível se uma desgraça daquela chegasse aos ouvidos do meu pai.
- E eu tinha opção? Não dava pra vim a pé. Vamos entre.
- Entre Manu, não se preocupe com seu pai. Eu não vou dizer nada... - Olhou-me com tanta pena que pouco ajudava ver suas expressões. - Pelo menos não por enquanto. - Pude ouvir ela sussurrar quando entrei no veículo. E sinceramente não podia esperar outra reação dela.

Quinta-feira; 4:00 da manhã, minha casa

    A viagem era longa, mas a dona Beta estava nervosa, e o pouco trânsito, tudo contribui para a aceleração.
    Durante a viagem Lara ressentida em me perguntar o que aconteceu, eu podia sentir o seu olhar sobre mim; mesmo brisando o ar do estio sobre a escuridão do concreto.
- Manu... - A fitei vagarosamente acompanhando o tempo em que levou para pronunciar meu nome. Arqueou as sombrancelhas, franziu os lábios estava sem dúvida preocupada. Esperei que ela tomasse coragem e continuasse a falar. - Você sabe o que aconteceu? - Fixou seus olhos grandes e cheio de cílios em mim, grandes? mas sua empatia não cabia ali. Senti minha respiração falhar ao pensar no que dizer. E mesmo com a garganta seca e mão sempre fria eu disse:
- Eu... Não faço ideia. Eu só quero ir pra casa.
Chegando na frente de casa dona Beta insistia que eu devia ir na Polícia primeiro. Não tinha como explica-la, aliás que palavras usar. Porém eu tinha quase certeza que não havia sido violentada.
- Você não quer pegar seus documentos e irmos ao hospital? - Murmurou Lara.
- E como eu vou explicar ao meu pai? - Indaguei apreensiva olhando para a minha simpática Morada. Suspirando alto.
- Contar a verdade. - Ela não entendia.
- Eu não sei da verdade. - Virei-me para vê-la, deixando escorrer duas lágrimas.
- Vamos Lara. - Chamou sua mãe a tocando pelos ombros. E logo as duas estavam no carro. Acompanhei o veículo se distanciar por 2 segundos.
    Agora eu teria que enfrentar a dor da vergonha de tocar a campanhia. Pedi suplicante para estar ali, agora era incapaz de entrar. Com aquela roupa de brilho exagerado, descalça, rosto completamente borrado e peruca ruiva. O que eu iria dizer? As 04:00 da manhã?
    Não tinha jeito eu teria que enfrenta-lo a qualquer hora. Dei alguns passos e estiquei o dedo para o botão. E quando iria toca-lo, eu acho (estava de olhos fechados) ouvi a forte freada do carro de dona Beta. Não sei como não vi uma luz acender. Lara veio correndo.
- Eu não posso deixar que se maltrate ainda mais. Vamos pra minha casa! - Puxou-me pelo braço, acolhendo-me como um bebê desprotegido. Me senti muito melhor ao não ter que aparecer naquele estado cruel. Saímos a tempo da primeira luz acender.

Dupla Personalidade - Quem sou eu?Onde histórias criam vida. Descubra agora