Malfoy

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  Depois daquele momento ele poderia dizer que não sentira medo algum, porém seria uma mentira. Quando Scorpius o confirmou que aqueles que subiam a escada para a escola, era o seu pai e o seu avô, o coração de Albus acelerou. Podia senti-lo martelar na garganta como se quisesse sufoca-lo, e a calma que aquele emaranhado de árvores ao redor da fonte o dava, já havia evaporado. Os dois homens não os notaram de primeira, não ouviram seus passos nem o som de quando os dois puxaram o ar pela boca. Andavam imponentes em direção às portas de carvalho, muitas das histórias de Draco Malfoy corriam à mesa do jantar na casa Potter. Albus era cheio das discrições de como era Draco nos tempos do colégio com o seu pai, apesar de sempre as mesmas mágoas e perguntas serem feitas quando o assunto chegava a esse tempo, Albus notou que duas das características nunca mudavam em nenhum dos lábios de nenhum dos integrantes da sua família que viveram esse momento escolar. Todos, ao descrever os Malfoy, diziam duas coisas irrefutáveis, tinham cabelos loiro-prateados e se portavam como se os fios nas suas cabeças fossem realmente feitos de prata fina.
Albus e Scorpius ficaram imóveis perto da escada, enquanto os dois Malfoy subiam. Eles esperaram até o último segundo quando a porta fez o último rangido ao abrigá-los dentro do castelo. Foi quando Albus puxou Scorpius para sua frente, e esse estava mais pálido que o normal, seus dedos entrelaçados agora suavam mesmo que não percebessem e os braços tremiam até as pontas dos dedos.
-E agora? -sussurrou Scorpius, com o olhar vago como se falasse consigo mesmo internamente. -E agora. Se eles descobriram alguma coisa?
-Ei. -Chamou Albus. -Deixe de paranoia.
Scorpius fitou o rosto de Albus por um momento e pareceu entrar mais em pânico ainda. Soltou as mãos de Albus e andou até uma árvore a dois metros de distância e voltou com as mãos na cabeça.
-Se vieram me levar embora?
-Por que? Por que voltamos? Isso não é motivo.
-Mas eu te contei!
Ele deu mais uma volta e parou dessa vez bem mais perto de Albus, quase encostando o rosto o ombro dele. Era costume, tinha que ficar perto dele, gostava disso, saber que tinha alguém. Mas agora a sua família estava no castelo, incluindo seu avô que nunca saia de casa, era algo sério. Mil possibilidades passaram pela sua cabeça, mas nenhuma foi a certa. Naquele momento, lágrimas até brotaram nos seus olhos quando imaginou que pudesse ser alguma coisa com a sua avó e Albus o amparou abraçando-o. Ela era a pessoa com quem tinha mais apego entre os Malfoy e ela nem era uma de verdade, sua avó era Lestrange, oque infelizmente era o seu laço com Delphi. A frase "todos os caminhos levam a Roma", era uma boa representação, pois não importava quando fosse, ou com quem fosse, os elementos trariam todos para o mesmo ponto. Malfoy, Potter, Riddle, Granger, Weasley.
-Eles devem estar procurando por mim. -disse Scorpius com a voz abafada.
-Scorpius, eles... sabem de nós dois?
-Muito pouco. -Scorpius tremeu entre os braços acolhedores de Albus, e então suspirou. -Meu pai ignora sempre que tento falar alguma coisa sobre nós dois, ele consegue driblar o assunto. Meu avô... eu não sei se ele sabe.
A verdade era que Scorpius sabia, ele nunca contara ao avô, nem seu pai, que realmente ignorava o assunto por completo. Já havia tentado aborda-lo num jantar próximo a partida para Hogwarts, mas mesmo sendo direto e dizendo que ele e Albus tinham um relacionamento antes de tudo acontecer, Malfoy se levantou da mesa e sumiu entre os andares da casa.
-Amor, você vai mesmo ficar esperando eles aqui? -sussurrou Albus.
O apelido deu a Scorpius uma nova força, e o carinho na voz dele na medida certa, havia bambeado suas pernas. Haviam sido meses sem ser querido por ninguém, e meses sem Albus o chamar assim, apenas insistindo que ele era o seu melhor amigo. Do nada voltar a ser chamado assim no mínimo mexia com os seus sentidos.
-Não. Só estou me preparando para encarar eles. -suspirou e se esticou para alcançar os lábios de Albus. -Vai comigo ou...
-Você quem sabe.

Scorpius cogitou deixa-lo esperando no dormitório e ir atrás do pai e do avô, mas se sentiria mal pela sua covardia em não apresenta-lo de forma correta. Namorado? Amigo? Ou só Albus? Seu pai o conhecia, mas claramente teria que o apresentar ao avô, mas a nomenclatura ainda seria confusa, isso se ele não notasse as alianças antes. Sua testa já começava a se encher de gotículas de suor de nervosismo, frio como a corrente de vento naquela noite, e as mãos apertavam o tecido da capa de Albus com força.

Stigma - ScorbusOnde histórias criam vida. Descubra agora