Furacões

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  Furacões. Esse era o título da primeira página dos jornais bruxos. Um título comum demais, que se tornava estranho aos olhos daqueles que sempre haviam visto notícias fantásticas e impossíveis aos trouxas, como o caso de um garoto que havia feito com um toque de varinha todas as rosas de um campo florescerem. Um desses jornais estava na mesa de Narcisa Malfoy, o seu exemplar já estava um pouco amassado e dobrado ao lado da xícara de chá, onde um fino vapor de calor subia e dava voltas. Ela estava sentada na cadeira, observando o sol se pôr atrás do mar, na pequena varanda ligada ao declínio do terreno. Aquela casa havia sido herança de família de muitos anos e com alguns retoques ao longo dos anos, se encontrava em perfeito estado. Fora uma luta para Narcisa se mudar para aquela casa, ela se lembrava. Draco não queria deixá-la ir, Lucius insistia que a cidade faria melhor a saúde deles dois. Por fim ele havia se acostumado com a calmaria dali, com o por de sol laranja, com o calor e com o cheiro das flores que sempre a lembrava de Scorpius. Ah, Scorpius era a sua alegria. Desde pequeno quando ela o via correndo livremente entre as os narcisos amarelos, mas depois voltava para casa espirrando de tanto sentir o cheiro forte das flores. Seus cabelos prateados dos Malfoy, e os olhos cinzentos também do pai, quase nenhum traço Greengrass. Narcisa quando o viu pela primeira vez, sentiu medo, medo de errar com mais um filho. Havia sido deixada levar pela loucura da irmã e depois pela do marido, estragando o filho deixando-o se arriscar nas mãos do Lorde das Trevas, duas gerações quase totalmente perdidas, lhe sobrava Scorpius para salvar. Ele que sempre fora tão doce com ela, e sempre correu para os seus braços quando se sentia ameaçado, totalmente diferente do pai. Que cresceu soberbo por causa do seu nome e com uma imagem de grandeza, a qual nunca sumiu dele. Scorpius era simples, de aparência delicada com seus olhos cinza claros, a pele branca e os cabelos loiro prateado, e tinha a personalidade da mãe. Tinha bons modos, gargalhava de qualquer mínima coisa, era feliz sem precisar se gabar disso.
  Narcisa suspirou quando apenas um tênue brilho do sol manchava o mar. Pegou a xícara de chá já gelada e se levantou, trazendo também o exemplar do jornal. Entrou em casa para sair da frieza, deixando as portas de correr de vidro abertas por estar com as mãos ocupadas. Com seus passos já um pouco mais lentos, ela se dirigiu a cozinha da casinha vitoriana a beira-mar, feita de madeira, com tabua de mármore na bancada e bancos de alumínio, na mão uma xícara e na outra o jornal. Ao passar pela porta da cozinha, viu Lucius parado perto da bancada, e olhava uma foto. Ela se mexia nas suas mãos, repetindo a mesma cena. Narcisa a reconheceu apenas pelos movimentos, porque também já a assistira inúmeras vezes, sempre com uma interrogação. Se aproximou para deixar a xícara na pia e depois se voltou para perto do marido, parando ao seu lado e deixando o jornal sobre o tempo da bancada.

  -É, acho que você tinha razão. -disse ele, sentando-se num dos bancos e pousando a foto ao lado do jornal. Olhou para ela com um meio sorriso, de quem tinha, por obrigação, que admitir que estava errado. -Ontem eu tive certeza.

  -Como?

  -Ele e Draco tiveram uma breve discussão antes de irmos embora. -ele pausou com os olhos focados novamente na foto, onde dois garotos estavam lado a lado, havia sido tirada na volta da viagem no tempo do ano anterior. Era uma foto tirada sem que prestassem atenção, Scorpius ao lado de Albus, perto da sala da ministra, simplesmente conversando.

  O problema, que na verdade não era realmente um problema, era que Narcisa havia revelado a foto e a posto no quarto de Scorpius, no quadro de imã ao lado da cama. E nas vezes que ia lá para tirar poeira dos cômodos, ficava observando-a por muitos minutos, notando algo de diferente. As  fotografias tinham a realidade muito bem exposta, com muitos detalhes ricos para uma observação e foi assim que Narcisa notou o comportamento diferente do neto. Scorpius era feliz da sua forma, mas sempre muito polido com a mesma postura do pai, apesar de ter personalidade diferente. Era formal em público assim como Draco o ensinou, porém ele estava diferente naquela foto, tirada discretamente de não tão longe. Seus olhos focavam o rosto de Albus, e Narcisa sentia naquele olhar algo, que seu instinto dizia, ser o mesmo de quando ele encontrou as flores do jardim pela primeira vez. Ela também lembrava disso, era como se estivesse vendo uma coisa preciosa, como se os botões da flores fossem feitos de ouro e não de simples pétalas. No dia que ele as viu, ele quase não quis voltar para casa, ficou encantado com aquele mar amarelo do quintal, muito melhor do que o azul às suas costas. Ele pulou, conversou e as encarou por muito tempo, com os olhos brilhando e as pupilas dilatadas de encanto. Era essa a sensação que Narcisa via nele naquela foto, onde Albus olhava para o lado distraído e ele o encarava ternamente.

Stigma - ScorbusOnde histórias criam vida. Descubra agora