Sem Paixão

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  Naquela noite o jantar foi servido como um banquete de um baile, em travessas e jarras de prata, atendendo a comidas típicas de todos os quatro cantos do mundo, para agradar os convidados. Contudo, não havia mais clima harmônico para isso. A tensão do discurso de Albus ainda pairava no ar. Na mesa dos Horned Serpent, a garota que o desafiara estava de cabeça baixa diante dos olhares afiados dos colegas de Casa; na mesa dos ThunderBird, os alunos de Ilvermorny estavam tensos como na espera de um furacão, compartilhando à mesa com os alunos de Hogwarts, incluindo Albus, eles se sentiam intimidados; os Pukwudgie, que dividiam a mesa com Durmstrang, sussurravam entre eles enquanto comiam, trocando opiniões sobre Hogwarts; e tinha os Pumaruma que, sem qualquer inibição ou medo, compartilhavam suas opiniões como se os alunos de Hogwarts simplesmente tivessem sumido. Claro, Hogwarts não respondia a nenhuma, apesar de se sentirem influenciados a isso, mas Minerva mantinha o olho neles, para fazê-los entender que seriam punidos se revidassem.
  O jantar prosseguiu nesse clima tempestuoso, e já quase no fim, quando todos os alunos já estavam cheios demais até para falar sobre o acontecido recente, as portas do Salão se escancararam e Fleur Delacour entrou, atrás dela, duas fileiras de belos alunos desfilavam de uniformes azuis como o céu. Mas havia algo estranho. Albus esticou o pescoço para ver sobre o mar de cabeças curiosas, e viu que, apesar de toda a postura com que entraram, Beauxbatons estava encharcada da cabeça aos pés. Os saltos dos seus sapatos estalavam no chão enquanto andavam, mas também chiavam e chapinhavam nas poças dos próprios alunos. Fleur parou, e todos os alunos támbem pararam.
Joanne levantou da sua cadeira, com uma expressão horrorizada. O diretor Braminir, de Durmstrang, levantou-se alarmado, com o rosto grosseiro franzido de confusão.
-O que aconteceu? -perguntou Joanne.
Fleur empurrou os cabelos loiros para trás, também encharcados.
-Precisamos conversar. -ela anunciou. -Tivemos que aparatar a quilômetros dos portões, meus alunos estão cansados.
Joanne voltou-se para o centauro, sentado na ponta da mesa sobre as patas.
-Jon, leve nossos alunos aos seus quartos, sim?
Jon levantou, mostrando sua metade alazão de pelagem loiro-dourada, e disse com a voz grave que abalou o salão:
-Monitores, levem suas turmas para suas torres. Hogwarts, Beauxbatons e Durmstrang, sigam-me.
Ele desceu do palanque mais rápido do que Albus pode assimilar. Como ovelhinhas, os alunos estrangeiros seguiram Jon. Em uma confusão de filas, Scorpius deu a mão para Albus, para que não se perdessem. Subiram uma escada, depois viraram em um corredor, e o professor rugiu "Durmstrang", indicando seus aposentos. Jon seguia a galope baixo, para que os alunos pudessem acompanhar. A próxima parada foi para Beauxbatons, que encharcados, secaram-se com um feitiço assim que chegaram no corredor do seu quarto. Albus ficou confuso, por que não tinham se secado antes? Então lembrou das palavras de Minerva:
"Beauxbatons gosta de fazer um espetáculo de uma simples chegada."
  Mas não era só isso, não podia ser. Fleur chegara estressada demais para ser só uma encenação, Albus conhecia a tia e a vira muitas vezes reclamando com seus primos para ele saber oque era Fleur agitada, seu sotaque inflamava e ela mais falava francês do que inglês, sua parte veela ficava tão forte que parecia que sua pele brilhava. Era assim que ela estava, agitada.
Depois de deixar os alunos franceses, Jon seguiu rápido para uma sala mais à frente, os alunos praticamente corriam atrás dele.
-O que acha que aconteceu? -murmurou Scorpius, andando às pressas ao lado de Albus. -Sua tia parecia prestes a explodir.
-Não entendi. Ela disse que aparataram a quilômetros daqui, mas a carruagem pode entrar. E se eles estavam molhados, não vieram de carruagem.
Lily e James aproximaram-se, Lily ainda parecia encolhida, e James elétrico.
-Tia Fleur parecia ter encontrado um dos dragões do Tio Carlinhos na gaveta. -comentou James, os olhos castanhos sem parar um instante.
  Percebendo que James estava estranho (mais que o normal), Scorpius franziu a testa e questionou:
-Qual o problema com você?
James apertou os lábios e balançou a cabeça.
-Nenhum, nenhum. -seus olhos pararam e uma feição de alívio estampou seu rosto. -Clary!
Ele saiu correndo em direção a Clary que, parada em frente à estátua de um texugo enorme, procurava de onde haviam gritado seu nome.
Definitivamente estranho. Albus voltou-se para Lily, quando pararam para esperar o aglomerado entrar na sala transformada em quarto. Albus não conseguia ver lá dentro muito bem, mas ouvia o som surpreso dos alunos que entravam, e sentia o cheiro de canela que emanava de dentro.
-Está tudo bem? -perguntou à irmã. Lily colocou uma mecha do cabelo ruivo atrás da orelha, e balançou a cabeça. -Você e James estão estranhos. Tem alguma coisa.
Lily ergueu os olhos para o rosto do irmão, e o analisou por um instante.
-É que... não somos acostumados a ver esse você. -ela deu um sorrisinho triste, que logo desbotou. -Desculpa.
Albus sentiu como se Lily tivesse o esbofeteado. Lily era sua irmãzinha, a primeira da família que soube que ele estava apaixonado por Scorpius, a primeira que o ofereceu apoio. E agora ela o olhava como um estranho.
Albus suspirou.
-Não, eu que peço desculpas. -ele disse, perdendo todo o fogo que a raiva tinha proporcionado no Salão. -Eu perdi a cabeça.
Lily tinha as mãos unidas na frente do corpo, tão apertadas que as juntas estavam brancas. Albus colocou os dedos entre suas palmas unidas e ela respirou fundo.
-Eu achei que você fosse explodir. -ela disse, encarando o chão. -Nunca vi James tão chocado...
-Vamos! -ribombou a voz de Jon. O centauro os olhava do outro lado do corredor. E só então Albus percebeu que ele e a irmã eram os únicos no corredor. Scorpius devia ter entrado.
Juntos, se apressaram pela entrada, e Jon fechou a porta as suas costas.
Albus olhou ao redor e resfolegou.
Ele não daria o braço a torcer por Ilvermorny, mas admitia que a escola sabia fazer bonito.
Nao era possível imaginar que naquela sala, um dia, havia tido aula como um dia qualquer. As paredes eram de um amarelo claro, e subiam até o teto alto de madeira, onde duas vigas cruzavam em um X, de onde pendiam as bandeiras das casas de Hogwarts - magicamente modificadas para que os animais nelas se mexessem. No centro havia duas escadas espiral, ambas de ferro brilhoso com entalhes no corrimão, o da esquerda decorado com Luas e da direita com Sois. E na base de cada uma, uma placa indicava que a a escada lunar era das meninas e a solar dos meninos.
O resto da sala era decorado com mesas redondas de madeiras, almofadas coloridas pelo chão aos montes e estantes de livros perfilando as paredes.
Albus voltou-se para a irmã.
-Conversamos mais tarde?
Lily balançou a cabeça, juntando os cabelos ao lado da cabeça.
-Claro, eu vou ver onde vou dormir.
Ela deu uma apertada carinhosa no ombro de Albus e subiu a escada da Lua. Albus, por sua vez, não perdeu tempo em galgar os degraus do Sol.

Stigma - ScorbusOnde histórias criam vida. Descubra agora