Desconfiança

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  Sob milhares de pedras de concreto, e ainda mais profundamente, entre quatro paredes extremamente repletas de livros com leis, códigos, e coisas pendentes para resolver. Harry estava sentado na sua mesa, em sua sala no ministério, encarando na sua frente três fichas de três criminosos que rondavam Londres. Em cinco meses, esses três haviam feito uma bagunça enorme, enfeitiçando caixas de banco, fazendo estátuas andarem pelas ruas assustando pessoas e sequestrando trouxas sem dar dicas do porquê ou para onde. O sangue pulsava nos seus ouvidos e a dor de cabeça havia aumentado quando ele largou os três papéis, cansado de encarar as mesmas informações que não lhe dariam nada além da altura, idade, nome e o histórico limpo dessas pessoas que decidiram enlouquecer do nada. Seus pensamentos estavam desorganizados que nem os outros casos amontoados na pilha no canto da escrivaninha, mudando de trabalho para casa o tempo todo, começava a acreditar que sua vida nunca seria pacata e tranquila, pois os problemas continuariam a o encarar como uma presa suculenta. Agora, tudo que girava sua mente, noite e dia, era Albus, suas memórias perdidas e o paradeiro de Delphi e Rose. Assim que o desastre aconteceu, Harry, como Auror, comandou uma equipe de busca, mandando vários dos seus colegas para diferentes pontos da Inglaterra, e fora dela, com ajuda de alguns amigos, os outros países próximos também foram revistados e continuavam em alerta. A algumas semanas, havia enviado a Ministra dos Estados Unidos uma carta pedindo que os avisasse sobre qualquer tipo de mudança, até então não haviam respondido, mas Delphi não poderia ter sumido assim do nada, ela estava em algum lugar. Com a procura sendo bem óbvia, jornais não maneiraram com o caso, lançando matérias dizendo apenas os fatos e outras recheadas de mentiras, haviam dado o nome do caso de "Amor Potter" e estampavam suas revistas e jornais com a foto de Albus. Harry ficara furioso com aquilo, assim como haviam usado muito de sua imagem como propaganda em sua juventude, tentavam fazer isso com seus filhos sempre que podiam, assim como Rita Skeeter um dia fizera. Fotógrafos os seguiam e até mesmo na chegada de Albus para o seu primeiro exame no Ministério, eles tiraram fotos e pediram para ver seus olhos, Harry e Gina tentaram os afastar, assim como Ron e Hermione, mas mesmo assim um deles, com habilidades boas o suficiente, conseguiu tirar uma foto onde Albus sem querer levantou o rosto e do nada seus olhos já estavam em matérias e em boatos que corriam as ruas e o Caldeirão Furado.
Harry respirou cansado, passando as mãos no rosto enquanto encarava o jornal no lixeiro perto da porta, onde a foto da sua casa ondulava na página da frente. Aquele havia chegado naquela manhã, com tópicos e perguntas sobre os Potter, contando sobre porquês não respondidos. Assim que pôs as mãos nele, Harry o jogou fora, mas ele continuaria ali até que alguém o tirasse, o provocando sempre que seus olhos pousavam sobre ele. Tirando-o do transe que era encarar o jornal, a porta abriu e Gina entrou, estava bonita e elegante como sempre era ao ter uma reunião importante com o Departamento inteiro de Jogos e Esportes Mágicos. Ela sorriu e fechou a porta, os brincos em formato de gotas balançando enquanto andava até a cadeira na frente da escrivaninha de Harry.
-Ocupado? -perguntou, se esticando e pegando uma das fichas. -Ah, eles ainda.
-Eles ainda. -Harry concordou. -Eles sempre, me atormentando, e me irritando.
-Vocês conseguem pega-los, confie em mim. -ela devolveu a ficha e se encostou no espaldar da cadeira, observando o rosto cansado do marido. -Está preocupado com o Albus?
-Ele está em Hogwarts, com os amigos que "acabou" de conhecer, sem lembranças dos últimos anos, sendo um alvo fácil para bruxos curiosos. -Harry balançou a cabeça e tirou a varinha do bolso, a balançando sobre a mesa, os papeis começaram a subir e a se desvencilhar dos montes, se reagrupando como deveriam ser.
-Scorpius está lá. -disse Gina. -Eu confio nele.
-Albus não é confiável. -ele começou. -Ele pode ter... namorado, com Scorpius por um pequeno período, mas você acha que Scorpius vai continuar se preocupando assim, mesmo com Albus tendo esquecido tudo?
-Não diga uma coisa dessas, Harry. -ela disse irritada, batendo os pés e estalando os saltos no chão. -Eu sei, que pode ser difícil para você aceitar que eles estavam juntos, mas...
-Eu só quero o bem dele, Gina. -Harry interrompeu. -Fico bem se ele estiver bem, apoiei quando ele me contou, eu faço meu possível, mas confiar em adolescentes, eu não posso.
-Por que não?
-Porque eu sei quem eu era. -Harry passou as mãos nos cabelos que já estavam bagunçados naturalmente. -Na idade dele, fizemos a Armada de Dumbledore, se lembra?
Gina assentiu, os olhos se perdendo nas lembranças pálidas daquele momento em suas vidas, um ano após perderem Cedrico, quando Voldemort começou a atacar e Harry estava ficando perturbado. Eles treinaram o suficiente para fazer uma boa luta e então foram atras de Voldemort e os Comensais. Harry sentiu o estômago afundar, não queria que o filho fosse tão sem noção como ele foi, encarando tudo e correndo de olhos vendados. Queria que Albus fosse sensato e pensasse antes.
-Ele não vai se meter em problemas assim, Harry. Ele não é como nós fomos. -ela voltou o olhar para ele e suspirou sofrida. -Albus é mais inteligente.
  -Por que acha isso? Você se lembra muito bem oque ele fez ano passado, quase nos apagou do mundo. -ele disse olhando de relance a sua última gaveta, onde Hermione havia escondido novamente o vira-tempo. -Ele é exatamente como nós fomos.
  -Ele é mais inteligente, Harry. Inteligência foi oque o mandou para a Sonserina, até parece que não conhece as pessoas daquela casa. -ela ergueu uma sobrancelha e se levantou. -Grifinoria dos corajosos, -ela riu. -E cegos. Corremos sem pensar direito, nos arriscamos, isso é bom até o ponto em que de tanto nos arriscar perdemos muitas coisas. Albus incrivelmente tomou um rumo diferente do da família, foi para a Sonserina, não é porque ele é mau, -ela girou de volta para Harry e sorriu. -É porque ele não vai arriscar nada até ele ter certeza do que está fazendo ser o certo.
  -E se ele se enganar?
  -Então estaremos lá com ele, e ele vai ter que correr cego também, ou... vai ter que ser silencioso como uma serpente.

Stigma - ScorbusOnde histórias criam vida. Descubra agora