A Batalha (Parte I)

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  Acontece que tudo era uma ilusão. Uma ilusão bem sólida, na verdade. Todo aquele andar pelo qual eles haviam lutado para sair era um andar criado magicamente, ele não existia a não ser que alguém tentasse escapar. Delphine, e Rose, eram as únicas que deviam saber como tirar ou levar alguém até lá.
  Delphi imobilizara as mãos de Albus com um feitiço, e o carregara para fora da salinha, para o andar real, ou ao menos, o mais real possível. Forçado, Albus desceu um pequeno lance de escadas e foi levado ao que parecia ser uma sala grande e vazia, parecida com uma sala de baile antiga, com uma galeria que circulava todo o salão. O lugar não era novo, mas estava limpo, com apenas algumas manchas no carpete onde os pés da mesa deviam ter ocupado por muito tempo, algumas marcas no papel de parede desbotado e as janelas que eram embaçadas por fora.
  -Que lugar adorável. -Albus resmungou, quando foi jogado no canto da parede.
  -Nossa sala especial para convidados.
  -Hum. -Albus sentou-se melhor e apoiou a cabeça na parede. Tudo que podia fazer no momento era esperar, seus pais ou a morte, quem sabe. -O que vai fazer com meus amigos?
  Delphi, que andava em círculos lentos pela sala, tirou a varinha dele do bolso e deu umas batidinhas na palma da mão.
  -Matá-los eventualmente. -ela respondeu.
  -E quanto a mim?
  Ela parou e sorriu. Albus se sentia enojado por ter pensado um dia que ela fosse atraente. Claro, maldade não extinguia beleza, mas definitivamente tinha o poder de mudar opiniões sobre caráter.
  -Você... -ela disse, pensativa. -Eu já tive tantas ideias, mas não consigo me ater a uma. Eu adoraria transformá-lo em um dos meus Agoureiros, mas não temos tempo. Você pode ter iniciado o processo, como bem lembramos por esses adoráveis olhos vermelhos, mas... não será rápido o suficiente. -ela suspirou. -Eu adoraria ver seu pai vendo-o como um dos meus.
  -É só isso que você quer? Vingança.
  Albus assistiu o sorriso dela vacilar, mas voltar a se manter fixo.
  -Você não entende. Não teria como. -ela se aproximou e sentou-se à três metros de Albus. -Vingança. Parece uma coisa boba. Mas imagino que, se tivesse oportunidade, me mataria pelo que fiz a Scorpius.
  Aqueles lábios não deveriam ter o direito de pronunciar o nome dele. Ela não deveria nem poder pensar sobre ele. Albus fechou as mãos em punhos, ainda que não conseguisse afastá-las uma da outra.
  -Eu a mataria até com minhas próprias mãos se eu pudesse.
  Delphi assentiu.
  -Seu pai matou o meu pai. -ela retrucou.
  -Não, Voldemort matou meus avós, meu pai devolveu na mesma moeda.
  -Meu pai os matou porque eram...
  -Porque eram pessoas boas. -Albus gritou, calando-a. -Não ouse falar deles. Voldemort era um ser asqueroso e sujo, como você quer se tornar, desafiou a própria morte para ter uma chance de matar milhares de pessoas inocentes. Por um motivo mais que estúpido.
  Albus sentiu seu rosto ser virado violentamente para a direita, e sua bochecha começou a arder. Após o choque, quando voltou a cabeça lentamente para o lado, viu Delphi parada, com os olhos injetados de vermelho e lágrimas represadas. Ela estava perto, Albus não deixaria aquela chance passar.
  Rapidamente, ele ergueu o pé e desferiu um chute na barriga de Delphi. A força fez ela girar para trás e cair agarrando-se a si mesma.
Albus entendia que a probabilidade de que agora ele estivesse brincando com a morte era grande. Delphi tossiu e se ergueu cambaleando.
  -Muito bem. -ela disse, respirando fundo. -Muito bem, Albus. Se sente melhor agora?
  Ele gostaria de dizer que sim, mas era óbvio que um chute nunca iria aliviar tudo que ele tinha guardado. Gostaria de explodir tudo, fazer daquela casa cinzas, dos moradores dela poeira.
  -Você vai morrer logo, não se preocupe. -ela disse, andando até a janela, mas devagar, como se ainda sentisse alguma dor. -Só preciso pensar mais um pouco sobre como devo fazer isso.
  Delphi podia ser a mais nova herdeira do mal, mas tinha pouca experiência, quase nenhuma. Futuramente, seu nome teria espaço em um cantinho de um livro de história da magia, mas sempre da sombra do pai.
  Como Albus.
Albus era muito jovem para ser um herói. Delphi era muito jovem para ser uma vilã. Mas não existiam cursos e testes para esses papéis. Albus bem sabia que seu pai, apesar de sempre ter usado da sorte para escapar das provações que haviam aparecido na sua infância e adolescência, sempre recebera o título de herói. Era esperado dele que ele salvasse todos.
Ninguém esperava nada de Albus. Talvez que ele pendesse para o lado do mal por conta do preconceito quanto aos alunos da Sonserina. Esperavam que James fosse o orgulho da família e que Lily seguisse o mesmo caminho do irmão mais velho. Albus, assim como Delphi, era a criança amaldiçoada da família. Aquele que não combinava. Que estava fora do padrão. A grande diferença era que Albus sofrera as consequências de ter pais com muitas expectativas, o que se tornara uma pressão psicológica que o abalara por muitos anos com o pensamento de quê nunca chegaria aos pés do que eles planejavam; Delphi sofrera as consequências de não ter nenhum dos pais, com expectativas que ela sabia que todos teriam caso soubessem de quem ela era filha, gerando uma repulsa por quem quer que fosse "bom" aos olhos da sociedade.
Olhando Delphi parada pensativamente em frente a janela, Albus pensou que, embora fossem bastante parecidos, Albus nunca se sujeitaria consumar as expectativas que tinham para ele. Ele não seria do mal por estar na Sonserina, não seria o filho exemplar por ser filho de Harry Potter, não se conteria quanto aos próprios sentimentos pela imagem da sua família. Mas também não ficaria parado vendo Delphi matar cada pessoa a quem ele amava. Ela já havia aniquilado uma grande parte do seu coração, o resto precisava permanecer nem que fosse para sofrer pela parte que faltava.

Stigma - ScorbusOnde histórias criam vida. Descubra agora