Cicatrizes e Marcas

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Perdão pelo sumiço.
  Caso vocês não saibam, meu nome é Ana Paula, e eu tenho 18 anos.
  Esse ano eu dei a louca e ingressei em dois cursos de graduação, História e Direito. Ainda que remoto os cursos são bem intensos e preciso de muita leitura, o que acaba tomando muito meu tempo. Além de que as vezes a criatividade some.
   Agradeço pela compreensão, amo vocês.

***

  Enquanto o fogo lambia as cartas até não sobrar nada, Scorpius havia pensado quantas daquelas pessoas chegariam até Ilvermorny. Quantos realmente fariam questão de ir. Eles não tinham muito tempo, a vida dos seus amigos estava em risco, ele não poderia esperar por mais tempo. Além de que, agora, sabiam o paradeiro de Delphi, com quem ela estava, quem eram os ajudantes, podiam fazer estratégias de como atacá-la, podiam fazer de tudo!
No entanto, ao olhar para o Salão Principal, onde agora ocorria a reunião dos professores com alguns pais e aurores do Ministério, Scorpius via que isso estava longe de acontecer.
Primeiro porque eles não estavam discutindo táticas de ataque, estavam debatendo poção do amor e alguns ainda estavam se informando de quem era Delphi. Segundo, haviam alguns deles que pareciam tão entediados que estavam dando nos nervos de Scorpius. Terceiro, todos aqueles homens que, teoricamente, haviam defendido o mundo bruxo com bravura durante a Grande Guerra Bruxa, pareciam velhos e cansados, enquanto os jovens que estavam prontos para agir, nada podiam fazer, afinal, esses homens eram seus chefes.
Scorpius estava sentado na ponta de uma longa mesa, de frente para o seu pai, que assistia o desenrolar da reunião e das discussões sem uma expressão no rosto. Desde a conversa na escada, Scorpius se perguntava quando seu pai havia decidido ajudá-lo a burlar o sistema mágico e enviar cartas de ajuda em segredo. Ele havia explicado dizendo coisas sobre orgulho e previsibilidade, mas Scorpius não achava que era isso.
  Quando Albus e Scorpius se meteram na confusão do vira-tempo, uns anos antes, Scorpius tivera a oportunidade de ver seu pai um pouco mais humano. Vira a preocupação brilhando nos olhos dele com uma intensidade nunca antes vista. E ele admitia que, de um tempo para cá, especificamente, desde o incidente do vira-tempo, a relação deles havia melhorado, até... até ele começar a namorar Albus e o casamento do pai surgir.
  Scorpius olhou para o outro lado da mesa, vendo o espelho de como ele pareceriam quando ficasse mais velho. Tirando pelas maçãs no rosto, que todos diziam que eram da sua mãe, e um sinal quase imperceptível sob a sobrancelha que, Scorpius confirmara nas fotos, sua mãe tinha um igual, o resto havia sido herdado dos Malfoy. Do cabelo loiro prateado até a forma rígida de se mover.
  Esperava que só tivesse puxado até aí.
Havia uma melancolia neles que não era agradável. Scorpius havia visto essa melancolia no avô e na avó. Ela aparecia no instante em que eles se distraiam, como se seus pensamentos os levassem para outro lugar, um lugar escuro demais que roubava a vitalidade deles. O pai também possuía isso. Scorpius imaginava se as pessoas podiam sentir isso nele também, e esperava muito que não, quando isso acontecia era como estar ao lado de uma parede de gelo muito difícil de romper.
-Mas o que... -Scorpius ouviu alguém arfar ao seu lado.
No mesmo instante as portas do salão abriram em um rompante e centenas de homens e mulheres, com diferentes tipos e cores de roupas, entraram no Salão Principal.
Scorpius reconhecia alguns, eles estavam na reunião quando foram falar sobre a irmã de Susan e os recentes desaparecimentos. Eram os Ministros.
-Ora, a festa já começou? -perguntou a voz ecoante do Ministro que seguia a frente, ele usava um sobretudo vermelho, botas e uma ushanka. Rússia, Scorpius determinou. -Por favor, faço questão que continuem.
O silêncio no salão era mórbido. Do meio da multidão de Ministros, uma figura em roupas escuras saiu e se dirigiu à mesa dos professores com passos rápidos. Pelo cabelo desgrenhado, e a forma apressada que andava, Scorpius reconhecia o sogro. Harry Potter era uma imagem muito conhecida por todos para ser confundida.
-Ministra, -chamou o Ministro Russo. -Pode nos dizer o que está acontecendo?
Hermione, que tinha os olhos grudados em Harry enquanto ele se aproximava para dizer algo, se viu forçada pela formalidade a se dirigir ao Ministro.
-Houve um ataque essa noite e finalmente temos uma pista de onde Delphine pode estar, estamos tentando localiza-la, infelizmente alguns alunos foram levados. -ela respondeu, se inclinando para o lado para perguntar algo a Harry.
-Quantos? -perguntou uma mulher alta e loira, com sotaque forte.
-Oito.
-Oito! -exclamou outro Ministro, sua pele era da cor de canela, os cabelos lisos e pretos como ônix. -Em uma só noite?
-Sim. Por favor, queiram me acompanhar, os explicarei melhor tudo que aconteceu. -disse Hermione, indicando a saída e saindo de detrás da mesa.
Scorpius nunca havia ficado muito tempo perto da Ministra, mas era notável que ela estava nervosa. Quando passou pelo meio da nuvem de ministros, estava até de cabeça baixa. Ela cruzou o salão até as portas e os ministros a seguiram para fora do Salão.
Assim que todos saíram, Scorpius viu o rosto confuso de Minerva conversando com a diretora de Ilvermorny, provavelmente se perguntando quem havia mandado as cartas.
Scorpius estava satisfeito, talvez agora tudo andasse mais rápido.
O sumiço dos Ministros durou ao todo meia hora. Nesse tempo, Scorpius havia sido abordado por Harry Potter, que viera pedir que ele lhe explicasse detalhadamente o que lembrava tanto sobre o ataque quanto sobre o sonho com a lápide de Tom Riddle. Scorpius o repetiu tudo exatamente como se lembrava e quando acabou, Harry estava com uma expressão pensativa. Os cotovelos apoiados na mesa, e os olhos verdes perdidos no tempo, quase o lembravam Albus, claro, antes da poção tê-los tornado vermelhos. Scorpius sentiu a garganta apertar. Não conseguia parar de se perguntar como ele estava.
-Acha que consegue os convencer a sair essa noite?
Scorpius se surpreendeu ao ouvir a voz do pai, e quando ergueu o rosto para ele, viu que ele se direcionava a Harry.
-Acho que sim. -respondeu Harry, tirando os óculos e os limpando na manga da camisa. -Espero que eles entendam que com o ataque a Hogwarts e a Ilvermorny no mesmo dia, qualquer escola está vulnerável.
-E caso não consiga?
Harry parou o movimento de limpar os óculos. Ele piscou atordoado, e com um suspiro voltou a passar o tecido circularmente na lente.
  -Caso não consiga, -ele continuou. -Eu vou sozinho atrás deles.
  -Se for sozinho e conseguir os salvar, sabe que todo o peso de todas as crianças levadas vai cair sobre você. -disse Draco. -Vão dizer que o Ministério tinha os recursos para salvar a todos, só não haviam utilizado antes por não serem os seus filhos.
  Harry franziu a testa e colocou o óculos.
  -Por que acha isso?
  -Era o que eu diria. -respondeu Draco, como se fosse óbvio. Mas lançou um olhar para Scorpius antes de continuar. -Só não seria racional que eu dissesse isso agora.
  -Então acha que eu devo esperar que eles decidam a vida dos meus filhos quando eu posso salvá-los?
  -Seus filhos não estão em perigo. -afirmou Draco. -Você é o alvo, Potter. Sempre é. Por que um inimigo seu iria machucar um dos seus filhos sendo que pode os usar como isca?
  -Ela pode os matar e usar poção polissuco pra fingir que eles estão bem. -disse Scorpius, sombriamente sendo tomado pela ideia de um Albus pálido e rígido caído no chão, enquanto outro tomava o seu lugar.
  Notando o silêncio na mesa, ele ergueu o rosto e viu seu pai olhando-o com uma sobrancelha erguida.
  -Você vai parar imediatamente de estudar magia das... -antes que ele acabasse, Malfoy parou e piscou, seu rosto se tornando gradualmente branco como um papel, enquanto seus ombros enrijeciam.
  -Pai? -Scorpius chamou preocupado. -Você está bem?
  Draco franziu a testa e olhou lentamente para baixo, como se estivesse tentando detectar alguma coisa. Ele ergueu o braço direito e com a mão esquerda puxou a manga para cima.
  Scorpius viu, com os olhos arregalados, a marca que sempre fora pálida no braço do pai, tornando-se escura novamente.
  -É impossível. -ele sussurrou.
  Ao lado de Scorpius, Harry arfou. Scorpius virou para ele e viu o homem com a mão na testa, tão pálido quando Draco ficara.
  E mesmo nunca tendo presenciado nada além dos surtos de Delphi, Scorpius sabia o que aquilo significava.
  -Não pode ser. -ele ouviu Harry sussurrar para si mesmo.
  -Não podemos esperar. -disse Draco, baixando a manga e levantando abruptamente. -Scorpius, vá chamar McGonnagal, diga que temos assuntos urgentes. Vamos, Potter.
  Scorpius levantou como se tivesse recebido um comando de guerra, e saiu correndo até a mesa dos professores, todos ainda discutiam baixo, mas quando ele se aproximou e passou o recado para a diretora de Hogwarts, todos se levantaram e saíram como uma comitiva por onde Harry e Draco haviam a pouco desaparecido.

Stigma - ScorbusOnde histórias criam vida. Descubra agora