Mr. e Mrs. Martin.

545 55 43
                                    

Noite a fora, os pássaros cantavam entre as árvores da Floresta Proibida. Talvez não fossem exatamente pássaros, Albus duvidava que realmente fossem. Não era possível que uma ave comum pudesse viver entre tantas criaturas mágicas, deviam se sentir deslocadas pelo menos. Naquela noite, Albus nunca imaginou que poderia tanto temer um canto, uma melodia tão bela, mas aterrorizante. Lembrava-se de Lilly quando pequena, sua irmanzinha tinha pânico da música que sempre tocava quando o crocodilo do Peter Pan aparecia no filme, o som do relógio dentro dele a fazia pensar em um corredor escuro, com uma luz vermelha psicodélica e no fim dele, um palhaço pulando. O psicólogo havia determinado que Lilly estava transferindo o medo, o tic-toc do relógio, segundo ela mesma, na verdade a lembrava um circo, e consequentemente ao seu maior medo. Ele sinceramente não entendia a lógica da irmã, mas nunca a questionou. Albus não tinha medo de palhaços, tinha uma varinha e mágica de verdade, um palhaço poderia se transformar facilmente em um coelho. Mas não era isso, não estava transferindo o medo. A música que ouvira era intencionalmente horrível, criada para dar medo.

A ouvira em um sonho. Podia estar errado, mas parecia que mal havia fechado os olhos quando começou a sonhar. Primeiro viu uma casa entre as árvores, não parecia estar ali a muito tempo, chegava a reluzir de tão envernizada. Estava silenciosa, provavelmente desocupada. Sobre a porta de entrada havia uma estranha figura de dragão, estranha até mesmo para um bruxo, já que normalmente dragões não tinham três cabeças. Uma... Hidra? Os conhecimentos de mitologia grega de Albus eram bem ralos, devia ter dormido demais nas aulas do Professor Binns. Porém sabia reconhecer aquela criatura. Hidra, a cada cabeça cortada duas cresciam no local.

Albus andou alguns passos para trás, tentando ver a casa por inteiro. Haviam três andares, o último sendo uma grande placa negra, como uma parede de pedra ônix. Olhar para cima o deixou atordoado, caminhou até a lateral da casa, que estava espremida entre algumas árvores, o chão tao impecavelmente limpo que não parecia realmente no meio de uma floresta, talvez fosse uma casa nova de uma imobiliária, mas porque estaria sonhando com isso? Olhou ao redor, estava cercado de árvores, nenhuma trilha para dentro da floresta. O morador não devia usar carros. Ou poderia ser um bruxo e voaria para casa caso precisasse. Se estava ali, era por algum motivo. Albus galgou os degraus de entrada, chegou à entrada e forçou a maçaneta, mas estava trancada a porta. Aquele sonho era estranho, estava numa casa que não poderia entrar, então por quê estava ali? Ele olhou desoladamente para as árvores, podia arriscar correr entre elas, ou podia sentar-se e esperar o momento em que acordaria. Achou a última a melhor opção, sentou-se nos degraus e respirou fundo. Não estava tão frio, o Sol estava forte qualquer que fosse aquele dia, mas a respiração de Albus rodopiou no ar como fumaça. Ele cobriu a boca com as mãos e prendeu a respiração.

Sob o chão da casa, a terra começou a tremer, as taboas da casa estralaram como se estivessem partindo ao meio. Albus se levantou e se afastou da casa, mas continuou a tremer. A uns dois metros dele, o chão começou a quebrar. Algo se erguia sob a grama. Primeiro apareceu uma placa de madeira, coberta por uma fita vermelha. Placa, depois a haste que a prendia ao chão. Então tudo voltou ao normal. Albus olhou ao redor novamente, tudo, tirando a terra que esborrotava para fora do buraco da placa, que parecia ter sido agredido por alguém raivoso com um machado, parecia normal. Ele arriscou um passo. Novamente tudo permaneceu em seu estado. Era um sonho, do que deveria ter medo? Ele deu passos firmes até a placa e arrancou a fita. Abaixo dela, sobre tinha verde havia algo escrito: Floresta Nacional Shoshone, Wyoming. Estou esperando.

A música veio logo depois, primeiro um único pio solitário, depois foi aumentando, como se inúmeros pássaros estivessem se juntando para aquela cantoria terrível. Parecia alguém arranhando um quadro negro, fazia Albus sentir um calafrio no estomago. A medida que aumentava, ele foi se desesperando, caiu de joelhos e se a poiou na placa. Tentou gritar, mas o som era mais alto que a sua voz. Foi o fim, ele desmaiou, oque na verdade o fez acordar.


Stigma - ScorbusOnde histórias criam vida. Descubra agora